Globo de drones salva abertura de Tóquio com porta-bandeiras atrapalhados
Um planeta sem fronteiras desenhado no céu por 1.800 drones foi o ponto alto da cerimônia de abertura das Olimpíadas de Tóquio-2020. Que também revelou um exemplo de boas intenções que não foi bem solucionada, com duplas carregando uma só bandeira: poucos dos habilidosos atletas conseguiram se entender para o desempenho da "missão". E o desfile das delegações ainda escancarou a quebra de protocolos sanitários, com riscos pela falta de distanciamento e uso incorreto de máscaras (maioria absoluta de "desobedientes" entre os homens) —o Brasil foi dos poucos que se manteve fiel ao que os Jogos pedem de distanciamento social, com apenas quatro pessoas no desfile.
De modo geral, a produção do espetáculo não conseguiu superar a falta de calor que só o público de um estádio lotado transmite. Nem mesmo com a tecnologia proporcionada pelos efeitos possíveis e esperados da televisão. A abertura, contida como os organizadores disseram que seria, emocionou espectadores muito mais pela lembrança de cada um desses meses de pandemia do que pela cerimônia em si. Os japoneses destacaram valores como sustentabilidade, unidade na diversidade, igualdade, inclusão, solidariedade, resiliência, proteção a refugiados, união da humanidade, homenagens ao pessoal de frente contra a pandemia... E esperança para o futuro.
Mas arquibancadas vazias e mesmo a rala ocupação do gramado por parte da produção decepcionaram quem esperava muito da tecnologia para compensar a euforia que teria de ser contida, de qualquer forma. Originalidade também ficou de fora, com peças empurradas no tablado como nas alegorias de escolas de samba nos desfiles de Carnaval. E músicas de games - com o olimpismo seguindo suas tentativas de "rejuvenescer" sua audiência - foi mais um exemplo de que o evento não falou por ele mesmo, como se espera: precisava de uma narração para explicar o que ficou abafado.
Destaques e contrastes
Além do globo desenhado no céu, valeu a performance em homenagem aos que se foram pela pandemia, do ator Mirai Moriyama. O visual "cama-de-gato" unindo atletas que treinaram sozinhos com elásticos imitando nervos e músculos. A euforia demonstrada pelos argentinos por estar nas Olimpíadas. A performance de porta-bandeira e mestre-sala da judoca Ketleyn Quadros e o levantador Bruninho, de chinelos...
E os contrastes: elegância de alguns contra até uma sacolinha de supermercado levada por um dos que desfilaram; posturas militares versus uns tantos largados pelo chão; trajes típicos sempre bem-vindos e outros pensando no confortável. E diferenças culturais, dentro da universalidade. Na Rio-2016, os organizadores japoneses que falaram no último dia de competições se mostraram horrorizados com a postura de atletas no desfile de abertura manejando celulares. E agora, de fato, a delegação japonesa se fez exceção, pelo que consideraram falta de respeito naquela ocasião.
No geral, a frieza começa pelas cores escolhidas (branco e azul) para símbolo do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Os pictogramas animados, também pouco originais, deram um ar de leveza, ao mesmo tempo que se mostrou a tradição do teatro estilo kabuki. Até os fogos de artifício foram comedidos (a arte cultivada pelos japoneses perde o sentido com a emissão de carbono em meio ao aquecimento global).
Com a falta de público e do barulho que vem das arquibancadas, essa cerimônia de abertura faz refletir sobre o futuro do esporte: grandes espaços podendo ser descartados em favor apenas da transmissão da TV (ah, se não fossem os closes...), descarte de pomposidade, pela pouca importância de discursos protocolares diante do estado de emergência que segue em Tóquio.
Dificilmente será superado o gramado colorido, inundado como um mar recheado de seres abissais dos Jogos de Barcelona-1992, mostrando o deslumbramento até de quem era lenda-viva como Michael Jordan, que foi jogar basquete nessas Olimpíadas pelo Dream Team. Nem seria o caso de euforia na cerimônia japonesa. Mas a cerimônia de abertura de Tóquio-2020, ainda que com a "mostra" de tecnologia da TV e todas as dificuldades compreensíveis para contornar a tristeza da pandemia, ficou devendo.
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