Por que as Olimpíadas se chamam Tóquio-2020 mesmo em 2021?
As Olimpíadas de Tóquio-2020 começaram hoje (23) com a cerimônia de abertura no Estádio Nacional de Tóquio. E você não leu errado: o nome oficial do evento é esse mesmo, com 2020, mesmo sendo realizado em 2021. E o motivo é simples: o ano ao lado da cidade-sede é mais que uma referência temporal, é uma marca que está sendo usada desde que o local foi escolhido para sediar o evento, em 2013. Por isso, mesmo com o adiamento pelo coronavírus, o nome segue o mesmo.
"Tóquio-2020, como Rio-2016 é uma marca que é patenteada, licenciada, com muito dinheiro e vem sendo usado por patrocinadores e licenciados há anos. O 2020, embora representasse o ano que os jogos fossem organizados, é maior que a referência ao tempo. É licenciada com contratos de patrocínios, todos os produtos licenciados e a mídia fazem referência. A marca é vendida e não dá para que no meio mudem para 2021. O ano vai mudar, mas marca não pode mudar", explicou José Colagrossi, especialista em marketing esportivo.
Conotação histórica
Além disso, para quem não sabe, a palavra "Olimpíada" tem um significado cronológico: marca cada um dos intervalos de quatro anos entre dois Jogos Olímpicos. Era por meio dos Jogos que o tempo era contado na Grécia antiga, segundo o dicionário de Oxford.
A informação faz parte da Carta Olímpica, criada em 1896. Por isso, por mais que tenha mudado o ano em que o evento vai ocorrer, a marca não deve ter a data alterada. A necessidade da marcação de tempo é imprescindível para a história olímpica.
Em entrevista à Agência Brasil, o presidente do COI, Thomas Bach, explica que há, ainda, um simbolismo na manutenção do nome, como uma "celebração da humanidade, que superou esse desafio sem precedentes do coronavírus":
"Com essa decisão, estamos demonstrando nosso compromisso com os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 e com o sucesso do evento, e também nossa gratidão ao povo japonês, ao Comitê Organizador, às autoridades governamentais e a todos que prepararam esses Jogos Olímpicos tão bem".
Protocolos rígidos
O Comitê Organizador de Tóquio-2020 determinou, por meio de um livro, os protocolos sanitários dos Jogos Olímpicos. As medidas trazem punições rígidas em casos de descumprimento das medidas contra a covid-19, e elas vão de advertência a deportação.
Cada equipe tem um Covid Liaison Officer, que está sendo conhecido pela sigla GLO, que é o responsável pelo cumprimento dos protocolos por todos daquele time. Isso inclui o acompanhamento para que os atletas não deixem de se submeterem a testes e não deixem a bolha olímpica, por exemplo. Mesmo equipes jornalísticas, como do UOL, têm seu CLO, que são cerca de 3.000 em Tóquio.
Quem descumprir os protocolos pode receber advertência e até mesmo ter a credencial retirada temporária ou definitivamente, o que levaria à deportação, uma vez que a credencial olímpica serve como visto de entrada e permanência no Japão. Além disso, os atletas estão sujeitos a serem excluídos temporariamente ou permanentemente do movimento olímpico, serem desclassificados de Tóquio-2020 e até mesmo receberem sanções financeiras, em valores que não foram ainda definidos.
Protestos e estádio vazio
Enquanto o clima era de festa e celebração dentro do Estádio Olímpico de Tóquio na cerimônia de abertura das Olimpíadas, fora da arena manifestantes japoneses se reuniram para protestar contra a realização dos jogos na capital do país asiático. A solenidade pediu para que os presentes fizessem um minuto de silêncio em respeito às vítimas da covid-19, mas os gritos dos ativistas ecoaram pelo estádio vazio.
Atualmente, o Japão está em estado de emergência e o evento esportivo sofre forte resistência desde que foi confirmado. A população teme uma forte onda de coronavírus e a chegada de novas variantes. De acordo com pesquisa do jornal Asahi Shimbun, 43% dos entrevistados desejam o cancelamento dos Jogos e outros 40% pedem o adiamento. Apenas 14% da população defende as Olimpíadas.
Além do cancelamento da Olimpíada, os manifestantes japoneses direcionam críticas aos envolvidos na organização, principalmente Thomas Bach, presidente do COI. Um dos ativistas disse à reportagem que os protestos devem continuar ao longo dos Jogos já em andamento. Uma fã australiana, por outro lado, afirmou que quis assistir à cerimônia ainda que à distância, mas que ficou frustrada pois os protestos foram um balde de água fria.
Antes do início da cerimônia, por outro lado, cidadãos japoneses se reuniram no percurso que levou os ônibus de credenciados à arena para saudar e celebrar a chegada de todos envolvidos no evento. Crianças e adultos acenaram com bandeiras e símbolos de Tóquio-2020 e pediam fotos à imprensa internacional.
*Com informações de Adriano Wilkson, Beatriz Cesarini e Juliana Sayuri, do UOL, em Tóquio
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