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Após queda, Nory admite impacto de críticas por racismo em 2015

Arthur Nory durante participação no aparelho barra fixa, nas Olimpíadas de Tóquio - Gaspar Nobrega/ COB
Arthur Nory durante participação no aparelho barra fixa, nas Olimpíadas de Tóquio Imagem: Gaspar Nobrega/ COB

Demétrio Vecchioli

Colunista do UOL, em Tóquio

24/07/2021 05h39

Arthur Nory disse, neste sábado (24), que competiu nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 abalado pela repercussão negativa em redes sociais. Seu nome se tornou uma das palavras mais comentadas do Twitter desde que ele chegou a Tóquio, recuperando o episódio de ofensas racistas de 2015 envolvendo o também ginasta Ângelo Assumpção, que é negro.

Durante a classificação das equipes da ginástica masculina, ele caiu no solo, em que defendia a medalha de bronze do Rio-2016, e não foi bem na barra fixa, em que é o atual campeão mundial. Com isso, não fará nenhuma final no Japão.

"Eu tive muito medo. Eu sempre tive muito medo desde o episódio do racismo, de tudo que acontecendo. Medo de falar, medo de me assumir, medo de tudo. Fico sempre muito acuado, muito 'não, vou pôr o sorriso no rosto', 'vou ser esse Nory', e sempre brigando comigo. Nesses últimos períodos, isso é muito forte", reconheceu ele, após a prova.

Em 2015, ele gravou, junto com outros ginastas da seleção, um vídeo com ofensas racistas a Ângelo Assumpção. Ativo nas redes sociais, ele tem sido cada vez mais cobrado por aquele episódio, que passou quase despercebido quando ele ganhou medalha de bronze na Rio-2016, mas já foi bastante lembrado quando se tornou campeão mundial. No Japão, em meio a um furacão de críticas, ele deletou sua conta no Twitter. Seguiu ativo no Instagram, em que o clima contra ele é mais ameno.

"Em 2016 não passei por isso. Agora, o ódio vem muito grande, vem ameaça, vem tudo e bloqueia, suspende e fica fora para se blindar. É pegar minha família, meus amigos, minha equipe, a comunidade da ginástica e seguir. Foi um ano muito difícil desde o começo, em que tive burnout, depressão e tive que parar um tempo", contou.

Há um ano, Nory deu entrevista à Folha e, pela primeira vez, admitiu que cometeu, em 2015, um erro "inaceitável". Mas, segundo ele, continuou sendo duramente criticado. "Até no momento que você desabafa, que você fala, que você assume, ainda vem paulada, vem muita paulada. E veio muita agora. Teve um momento que eu falei 'chega, vou falar, estou de frente, estou disposto a isso e não vou ficar mais quieto, não vou mais me esconder'. Assumi realmente essa responsabilidade. Assim como erro aqui, erro na vida e assumi para mim. É procurar melhorar todos os dias", continuou.

Depois de ficar muito abatido durante a competição, precisando ser consolado pelo técnico Cristiano Albino após não pegar final na barra, Nory apareceu bem menos ressentido na zona mista. Foi o primeiro do time a chegar e mostrou disposição para falar com a imprensa. Ali, pareceu falar com sinceridade sobre as dificuldades que vem enfrentando.

"Agora é resiliência de atleta. Treinar um dia de cada vez. Agora é terminar os Jogos torcendo muito para eles (Caio Souza, Arthur Zanetti e Diogo Soares), ficar até o final com eles. Viemos como equipe e vamos como equipe", disse.

Nory provavelmente não volta a competir na Olimpíada. A equipe ficou em sétimo e, se for ultrapassada por outros dois times que se apresentam no terceiro e último grupo, está eliminada. Caio Souza e Diogo Soares devem fazer final do individual geral. Nos aparelhos, Caio deve ser finalista no salto e Arthur Zanetti nas argolas. Nory foi a Tóquio para brigar por pódio na barra fixa e no solo. Na barra ele é só o 11º. No solo, depois de cair de bunda, aparece em 41º.