Esperança no tênis de mesa, Hugo Calderano brilhou no atletismo e no vôlei
O menino Hugo Calderano tinha tudo para praticar esporte. A mãe, Elisa, foi professora de Educação Física e brincou um pouco de vôlei. O pai, Marinho, é professor de Educação Física até hoje, foi decatleta e jogou handebol no Campeonato Carioca. E o vovô Araújo, além de grande cozinheiro, especialista em bife à milanesa, também, claro, foi professor de Educação Física.
Então, Hugo não tinha muita escolha. Além da genética tinha a seu lado as praias do Rio de Janeiro e as dependências do Fluminense, nas Laranjeiras. "O Hugo jogou tudo", conta a mãe Elisa Borges, que está ansiosa pela estreia do seu menino no torneio de tênis de mesa dos Jogos de Tóquio-2020, à meia-noite (de Brasília), contra o esloveno Bojan Tokic.
"Eu acho mesmo que ele chegaria a uma Olimpíada em qualquer dos esportes que tivesse se dedicado para valer", completa Elisa. Calderano chegou. E em Tóquio ele é uma esperança para o Brasil conquistar a sua primeira medalha na história olímpica do tênis de mesa.
Recorde no atletismo
O menino Calderano praticou tudo quanto foi esporte com sucesso, tanto que no clube das Laranjeiras muitos apostavam que aquele jovem elétrico tinha mesmo jeito é para o atletismo.
"Fui campeão de salto em distância e também corria provas de velocidade, tendo chegado em terceiro lugar, nos 60 metros na pista do Célio de Barros, perdendo somente para o velocista Vitor Hugo, que está em Tóquio, e para o Victor Couto", me contou o próprio Hugo Calderano, quando ainda era uma promessa do tênis de mesa e não um dos líderes do ranking internacional, com direito a entrar na fase seguinte da Olimpíada e só pegar adversários chineses já na fase que vale medalha.
"No salto em distância, o recorde carioca pré-mirim foi batido por ele com 4,70 metros, em outubro de 2008", relembra a mãe. "Eu gostava muito de futebol também", garantiu ele, que jogou ainda vôlei para valer, um pouco de basquete e mais um pouco de tênis.
"No vôlei, ele foi da seleção carioca. Mas acho que não teria grande futuro, porque chegou a medir somente 1,82 m de altura, o que para a modalidade é pouco, não é?" Mas para o tênis de mesa...
O esporte das raquetes entrou na vida do menino ainda pequenino, no sítio da família em Teresópolis, onde Marinho costumava jogar. Logo o pequeno Hugo já subia em um banquinho para jogar também.
"Como eu e meu marido somos da área esportiva, notamos desde cedo que ele tinha muita coordenação motora. E até hoje o Marinho trabalha com crianças e ele tem um olhar apurado sobre o assunto. Logo percebemos que o Hugo seria um atleta", diz Elisa.
Hugo passou a se interessar mais pelo tênis de mesa quando os resultados começaram a surgir e ele foi encaminhado para os treinos no Fluminense, para ver se levava mesmo jeito para aquilo. "Entrou na escolinha com 8 anos e aos 11 anos participou do primeiro campeonato brasileiro de sua vida, na cidade de Guarulhos. Ali ganhou o bronze e já deu para notar o nível dele em relação aos demais talentos do país".
Só que os pais achavam que o tênis de mesa não tinha assim uma visibilidade tão grande no Brasil. Ele acabaria frustrado. "Eu ficava com pena. Pensava: ele tem um talento extraordinário e não vai se realizar como esportista".
Ela estava totalmente enganada. O menino não só brilhou no Fluminense com o técnico Cebola e a professora Valesca, como também tornou-se jogador importante dentro da seleção brasileira. Foi jogar por clubes europeus, virou ídolo na Alemanha. E hoje é um dos melhores do planeta. "Ele extrapolou tudo o que imaginávamos. É ídolo no mundo. Mais conhecido fora do que dentro do Brasil".
Bife à milanesa
Quem também não cabe em si é o vovô Araújo. Teve uma época em que o neto veio treinar com a seleção brasileira em São Paulo e ele veio morar junto com o menino. Não era só para fazer companhia. Era também para preparar a comida que Hugo tanto apreciava: bife à milanesa.
Nas Olimpíadas do Rio-2016, vovô Araújo trabalhou como voluntário nas competições de tênis de mesa, mas tinha o cuidado de trocar de roupa momentos antes dos jogos de Hugo Calderano para torcer à vontade. Aliás, a família toda é torcedora daquelas que levam faixa ao ginásio.
"Tínhamos tudo comprado para os Jogos de Tóquio, mas a pandemia...", lamenta Elisa Borges.
Mas hoje a família estará ligada na televisão para acompanhar a estreia do menino que jogou tudo. "Cada um em sua casa, por conta da pandemia. Eu e o Marinho e a nossa filha vamos torcer aqui em nosso lar no Flamengo", revela Elisa. "Ficaremos recolhidos, segurando o nervosismo, para extravasar quando termina o jogo".
Já o vovô anda estudando algumas receitas novas, para o caso do neto chegar com medalha lá de Tóquio. Isso vai valer um almoço especial e não poderá ser o velho bife à milanesa. É que Hugo há alguns anos virou vegetariano.
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