Sem Biles, EUA veem russas acabar com hegemonia na ginástica artística
A disputa da medalha por equipes na ginástica feminina nas Olimpíadas de Tóquio, nesta terça (27), foi marcada pelo drama de Simone Biles e por uma intensa competição entre Estados Unidos e Rússia. Com uma apresentação muito sólida, as russas quebraram a sequência de duas medalhas de ouro da equipe norte-americana em Olimpíadas e garantiram a vitória, fazendo a dobradinha com a equipe masculina, que também venceu na segunda-feira (26).
A hegemonia dos Estados Unidos na ginástica feminina mundial vinha desde 2013, quando Simone Biles estreou na seleção adulta. E as americanas perderam exatamente quando não puderam contar com a melhor ginasta da atualidade.
Biles fez uma apresentação de salto ruim, não só para o seu padrão, mas para o nível de uma final olímpica, e se retirou do ginásio. Voltou de moletom, para não competir mais. O Comitê Olímpico dos Estados Unidos explicou tratar-se de uma problema médico, sem especificar se físico ou psicológico. A imprensa americana tem sido unânime em dizer que Biles não sofre com lesões.
Desde o salto, e sem Biles, as americanas correram para tentar tirar a diferença para as russas, que estavam na mesma rotação. Ou seja: EUA e Rússia faziam os mesmos aparelhos ao mesmo tempo, revezando suas atletas.
Escaladas com Jordan Chiles (substituta de Biles), Grace McCallum e Sunisa Lee, as americanas somaram 166,096 pontos e ficaram esperando a última apresentação da Rússia, que precisava ser uma catástrofe, o que não aconteceu. Com Viktoriia Listunova, Angelina Melkinova e Vladislava Urazova, as russas terminaram com 169,528 pontos.
No terceiro lugar terminou a Grã-Bretanha, que chegou a ameaçar o segundo lugar dos Estados Unidos e travou boa disputa com a Itália para beliscar o bronze. A China terminou em sétimo, apenas.
Com Biles, os EUA venceram os Mundiais de 2014, 2015, 2018 e 2019, além da Olimpíada do Rio, em 2016. Já a Rússia segue sem nunca ter vencido uma Olimpíada — pelo menos não com esse nome. Ganhou em Seul-1988 ainda como União Soviética, em Barcelona-1992 como time unificado que representava as ex-repúblicas soviéticas, e agora, oficialmente, como ROC, sigla para em inglês para "Comitê Olímpico Russo".
O drama de Biles
Simone Biles veio a Tóquio como a grande estrela do esporte, para ser consagrada em sua segunda Olimpíada, e por causa dela o Ariake Gymnastics Center estava cheio para a final por equipes. Claro que não havia nenhum torcedor comum, daqueles que compram ingresso, por causa da proibição imposta pelo governo local, mas muita gente aproveitou sua credencial para bater cartão no ginásio. Estavam na arena desde dirigentes de países como Lesoto, Ilhas Cook e Ruanda até as autoridades máximas do Comitê Olímpico dos EUA e do Comitê Olímpico Internacional (COI).
A final por equipes da ginástica artística é um dos eventos de primeira grandeza dos Jogos. Por reunir quase todo o G7 da economia mundial — só a Alemanha ficou de fora, dando lugar a Itália e Bélgica —, há tanto interesse da imprensa que só quem tem um convite especial consegue entrar no ginásio.
Biles, é claro, era a estrela desse show. Sem perder uma competição de ginasta mais completa do mundo desde 2013, ano em que entrou na categoria adulta, a norte-americana ganhou quatro ouros na Rio-2016 e cinco no último Mundial, disputado em 2019, na Alemanha. É muito mais fácil contar as vezes em que ela não ganhou do que os ouros conquistados.
Mas, em Tóquio, algo está dando errado. Ainda não está claro o quê. Na fase de classificação, Biles deu três passos para trás no salto, a ponto de sair do tablado. No salto, não cravou. Nas assimétricas, errou. No salto, quase caiu. Por ela ser Biles, muito melhor que as demais, ainda assim a soma de suas notas a deixou em primeiro no individual geral e classificada para três finais por aparelhos.
Ainda assim, para o nível Biles, para a melhor de todas em todos os tempos, é pouco. E por isso esperava-se que a resposta começasse a vir hoje, na competição que é tida como a mais importante na ginástica, pelo espírito de equipe. Esse compromisso talvez justifique por que ela continuou na área de competição, executando com leves movimentos de braços e pernas os exatos exercícios que suas colegas faziam na trave, no solo e nas assimétricas.
Independentemente de qual for o problema, Biles tem pouco tempo para se recuperar. Na manhã de quinta-feira (29), a partir das 7h50 (de Brasília), ela disputa a final do individual geral. E a partir de domingo, 1º de agosto, ela compete pelas medalhas nos aparelhos. Ainda restam cinco ouros para ela conquistar, mas está cada vez mais difícil acreditar que ela vai levar todas essas vitórias para casa.
Nota da redação: nos Jogos Olímpicos de Tóquio, os atletas russos estão competindo com o nome oficial "Comitê Olímpico Russo" (ROC, em inglês), e não como país (Rússia). Isso se deve à punição do Comitê Olímpico Internacional à nação devido aos casos sistemáticos de doping. O UOL optou por continuar usando Rússia para facilitar a compreensão do leitor.
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