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Coração dividido: festa por ouro de Ítalo e choro por 'roubo' de Medina

Ítalo Ferreira, primeiro campeão olímpico do surfe e primeiro ouro do Brasil em Tokyo-2020 - Ryan Pierse/Getty Images
Ítalo Ferreira, primeiro campeão olímpico do surfe e primeiro ouro do Brasil em Tokyo-2020 Imagem: Ryan Pierse/Getty Images

Denise Mirás

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/07/2021 05h18

O tufão engordou o mar e fortaleceu as correntes de Ichinomiya, mas o turbilhão mesmo foi de emoções na madrugada brasileira. Coração ficou dividido entre o pau quebrando no lombo dos juízes que ficaram devendo (pelo menos na opinião dos torcedores brasileiros, sempre apaixonados) nas notas de Gabriel Medina e a festa pelo primeiro ouro do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio-2020, conquistado por Ítalo Ferreira. Muito mais: pelo histórico primeiro ouro de um esporte estreante no programa dos Jogos Olímpicos, de cara já mostrando sua força global.

Medina fechou a garganta para não xingar juízes, depois dos quatro centésimos que fizeram a diferença para o japonês Kanoa Igarashi — atleta da casa — na semifinal. O brasileiro, que além do talento nato ainda tem o dom da estratégia, tinha a maior nota somada da competição até aquele momento, 16,76. Mas acabou surpreendido nos instantes finais - e fatais - pelo adversário. A poucos minutos do final, uma nota 9,33 foi dada à última onda de Kanoa, que vinha de um 7,67.

O problema é que, para nós, brasileiros, esses 9,33 não fizeram muito sentido. A TV Globo, depois, mostrou a onda que deu a maior nota para Medina e essa onda que deu a vitória para Kanoa. Para quem não entende de surfe, pareciam performances similares. E os surfistas que a Globo escalou para comentar o torneio, Miguel Pupo e Teco Padaratz, contribuíram para isso dizendo que a manobra do brasileiro, que não teria tocado na prancha para dar o seu aéreo, merecia mais. No final, valeu o que os juízes no Japão achavam: 8,43 para a onda do brasileiro, 9,33 e vitória para o japonês.

Se Medina, o campeão mundial mais festejado da história do surfe brasileiro na volta de seu título da WSL de 2018 e atual líder do ranking, trancou a cara e a boca para os jornalistas presentes, talvez para não reclamar, as redes sociais não tiveram o mesmo pudor. Explodiram em indignação milhões de fãs.

Mas o Brasil seguia com Ítalo Ferreira nas águas da província de Chiba. E o surfista do Rio Grande do Norte, o atual campeão mundial, correspondeu. Impaciente no estilo atirado que mostra no esporte, oposto ao que aparenta longe da prancha, também faria os brasileiros tremerem com a prancha quebrada já na entrada da disputa final.

E não teve para o Kanoa, dessa vez. Goofy (quem surfa com a base trocada) como Medina, 27 anos como Medina, Ítalo focou no ouro — e conseguiu. Chorou e fez chorar muita gente antes da terça-feira amanhecer no Brasil como 27 de julho de 2021, o dia em que o país subiu no degrau mais alto de Tóquio-2020 e teve muito o que comemorar.