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Medalhista olímpico vira neurocoach para ajudar futuros campeões

André Heller em ação pela seleção brasileira de vôlei nas Olimpíadas de Atenas-2004 - Ben Radford/Getty Images
André Heller em ação pela seleção brasileira de vôlei nas Olimpíadas de Atenas-2004 Imagem: Ben Radford/Getty Images

Letícia Lázaro

Colaboração para o UOL, em São Paulo

28/07/2021 04h00

Campeão olímpico pela seleção masculina de vôlei em Atenas-2004, André Heller nunca teve vergonha de admitir suas limitações quando atleta. Sabendo que não era o "mais talentoso" de sua geração, decidiu compensar os limites técnicos com uma mente bem treinada. Oito anos depois de se aposentar passa adiante seus conhecimentos sobre o assunto para outros atletas que desejam chegar tão alto como ele. André se tornou coach, ou melhor, neurocoach, e tem atleta seu competindo nas Olimpíadas, em Tóquio.

"De nada adianta o atleta se preparar, se condicionar fisicamente, tecnicamente, taticamente se, na hora da performance, ele não está mobilizado mentalmente para performar", contou o ex-atleta ao UOL Esporte. "O fator mental sustenta o atleta nos outros domínios. A cabeça, nossa mente, é a caixa de comando."

André Heller foi central da seleção brasileira durante mais de uma década. Parte de um dos times mais vitoriosos da história, com uma medalha de ouro e uma prata olímpica no currículo, o ex-atleta dedicou 24 anos de sua vida ao vôlei. Quando deixou as quadras, em 2014, decidiu investir naquilo que o ajudou a se tornar um atleta diferenciado.

Heller percebeu a chance de entrar em um território pouco explorado na preparação esportiva brasileira: o trabalho mental, psicológico e cognitivo. Investiu em conhecimento, estudou neurociência e comportamento humano no Neuroleadership Institute e abriu a Neuro Esporte, especializada em neurocoaching esportivo com a também ex-atleta Larissa Zink em 2019. Leonardo de Deus, nadador que disputa a Olimpíada de Tóquio, é um dos seus clientes.

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André Heller, ex-atleta da seleção masculina de vôlei e agora neurocoaching
Imagem: Bruno Marcal/Divulgação

"No Brasil, infelizmente, banalizaram o coaching", disse, lembrando a utilização indiscriminada do termo por pessoas sem qualquer formação específica. "O treinamento cognitivo é incipiente ainda, para não dizer irrisório."

"Sabemos casos de atletas que tiveram problemas de saúde mental, com surtos de pânico, depressão, transtorno de ansiedade. A pandemia [de covid] potencializou isso? Sim, mas já éramos uma nação doente nesse sentido. Os percentuais já eram altíssimos."

Estudo e prática

Além dos anos de estudo, André Heller tirou proveito da vivência no vôlei em sua formação. Desde cedo, o ex-central teve sua mentalidade colocada à prova. Teve uma grande decepção quando foi cortado da seleção brasileira juvenil e anos depois, em 2002, sofreu muito ao ser cortado por Bernardinho pouco tempo antes do Mundial daquele ano.

A relação com o ex-técnico da seleção masculina de vôlei, inclusive, nem sempre foi boa. Heller conta que, durante um tempo, chegou a pensar que Bernardinho não gostava dele e que o perseguia.

"Quanto mais você direciona o seu foco para aquela situação, por mais que não seja real, ela vai aumentando. Se você direciona seu foco para o problema, ele expande."

Depois do corte, o ex-central decidiu alterar sua percepção. "Quando decidi tirar o foco desse problema e direcionar meu foco para ajudar a seleção brasileira, não fui mais cortado. Eu não sentia mais que o Bernardo me perseguia. O que mudou efetivamente não foi o Bernardo, não foi a situação, não foi o mundo, fui eu", relembrou.

Com Bernardinho, André Heller conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, e a de prata nas Olimpíadas de Pequim, em 2008. Também venceu a Copa do Mundo de 2007 e foi cinco vezes campeão da Liga Mundial de Vôlei.