Portela foi roubada? Juiz brasileiro diz que imagens da TV às vezes enganam
A disputa dos Jogos Olímpicos tem provocado algumas noites mal dormidas nos fãs das várias modalidades. E não é só porque o fuso horário japonês atrapalha o sono. Mas também porque algumas decisões polêmicas têm atingido atletas brasileiros. E aí é inevitável: as discussões invadem a madrugada. Foi o que aconteceu com o professor Jeferson Vieira, árbitro, desde 2009, do Circuito Mundial da Federação Internacional de Judô, depois que a judoca Maria Portela perdeu para a russa Maidina Taimazova, no golden score da luta válida pela categoria até 70 kg nas oitavas de final dos Jogos de Tóquio. Com a derrota, a brasileira foi eliminada da competição.
"Essa história está dando um blá-blá-blá no país inteiro", admitiu Jeferson, que está se preparando para viajar a Tóquio, onde vai trabalhar nas Paralimpíadas. "Depois da luta da Maria Portela não deu mesmo para dormir, porque o meu telefone não parou, com gente querendo saber se a decisão da arbitragem tinha sido correta."
E foi ou não foi? Com a palavra o ex-judoca, professor de educação física, que trabalha com arbitragem há exatos 35 anos e é o atual vice-presidente da Federação de Judô do Estado do Rio de Janeiro. "Pelo ângulo mostrado pela transmissão de TV aconteceu o wazari, e a Maria Portela deveria ter sido declarada vencedora naquele instante, pois estávamos na disputa do golden score. Eu acho então que ela foi a vencedora da luta. Eu como árbitro avaliaria o wazari."
Mas ele vai fazer aqui uma ressalva. "O ângulo mostrado pela TV me passou essa nítida impressão: pois nós, como árbitros, usamos sempre a imagem do back-number (que é onde vai o nome do atleta) para definir se os ombros tocaram mesmo no tatame. E foi o que eu achei. O que eu vi."
"Porém", prossegue Jeferson, "a imagem mostrada pela TV não é a mesma gerada para o Comitê Organizador. São no mínimo outras dez câmeras que mostram vários ângulos e então são os supervisores de arbitragem que acionam o árbitro de tatame por um ponto eletrônico, falando a ele se houve o golpe ou não".
Parece complicado? O professor Jeferson segue em frente. "Não há mais a figura dos árbitros de mesa. Então os supervisores têm o contato com a coordenação de arbitragem e técnica que, quando acha necessário, aciona um técnico que põe à disposição um equipamento chamado o triplay. O triplay contêm todas essas câmeras, e eles repetem as imagens captadas por vários ângulos para que a decisão seja analisada e tomada pelos supervisores. Feita a decisão, ela é repassada para o árbitro de tatame pelo rádio. Se a questão merece a avaliação ou não."
É o VAR do judô. "O árbitro de tatame solicitou a revisão do vídeo replay e, após algum tempo, não foi considerada a avaliação da projeção da atleta brasileira. Na minha opinião foi um erro, porque estavam no golden score, e a luta terminaria ali. E pelo ângulo da transmissão por TV pairava no mínimo uma dúvida. O VAR foi acionado, mas não deu a avaliação da projeção da atleta brasileira. Só se eles viram algo muito claro, mas que não passou na imagem da TV."
"A disputa seguiu e, aos 10 minutos aproximadamente, a russa estava com mais iniciativa, tinha três tentativas contra Maria Portela, e o árbitro de tatame optou por aplicar o terceiro shidô, por uma punição por falta de combatividade."
Como conclui o professor Jeferson: as imagens do judô às vezes enganam.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.