Mayra Aguiar é a maior judoca brasileira de todos os tempos. Lembrando: o judô é o esporte olímpico que mais medalhas deu ao Brasil. O bronze que ela conquistou hoje marca a 24ª vez que o país sobe ao pódio na modalidade. E, mesmo em um esporte com tantos vencedores, nunca um atleta brasileiro demonstrou tanta consistência. Nem Aurélio Miguel, o primeiro brasileiro campeão olímpico. Nem João Derly, o primeiro campeão mundial. Nem Tiago Camilo, o atleta que mais me impressionou em uma competição esportiva, no Mundial de 2007, no Rio de Janeiro.
Nenhum deles esteve entre os melhores do mundo tantas vezes como a gaúcha que subiu no pódio olímpico hoje (29) em Tóquio. São três medalhas olímpicas seguidas —em todas essas campanhas, apenas atletas que foram campeãs mundiais a derrotaram. Ela é a primeira atleta do judô, entre homens e mulheres, a conquistar três medalhas olímpicas.
Em campeonatos mundiais, já era a atleta que mais vezes subiu ao pódio desde 2016. Mayra tem dois títulos (2014 e 2017), um vice-campeonato (2010) e três medalhas de bronze (2011, 2013 e 2019). Erika Miranda tem cinco medalhas, mas nunca foi campeã mundial. João Derly tem dois ouros, mas só.
Eu conheci Mayra há 14 anos, no dia 20 de julho de 2007. Ela estava disputando os Jogos Pan-Americanos pela primeira vez e, aos 15 anos, foi medalha de prata. Acabou derrotada na final por uma norte-americana chamada Ronda Rousey, a mesma que anos depois seria o nome que levou o MMA feminino ao UFC.
Desde então, a adolescente que precisava sair da concentração para ligar para os pais de um orelhão (sinal dos tempos) mudou. E essa mudança foi moldada pela dor. Ela operou ombro, joelhos, conquistou uma medalha com os ombros dormentes e, no último ano, passou nove meses se recuperando de uma operação no joelho.
Para quem nunca operou o joelho, uma história breve: nas primeiras semanas, fazer qualquer coisa é quase impossível. Quando eu passei por isso, não conseguia colocar as meias nos primeiros sete dias. Eu voltei a andar depois de um mês. Tudo bem, não sou um atleta, mas o nível de dor de uma recuperação desse tipo de cirurgia é muito grande. Até hoje eu sinto dores ao subir escadas. Nunca mais consegui me ajoelhar sem sentir um incomodo.
Mayra passou por isso há menos de um ano dos Jogos Olímpicos. Ela precisou aprender a andar novamente, precisou criar músculos novamente, precisou reaprender a lutar novamente usando um corpo com novas limitações. E, mesmo assim, ela voltou a ser medalhista olímpica.
Por isso, nem mesmo a ausência de uma medalha de ouro olímpica muda minha afirmação: Mayra é a maior judoca que o Brasil já teve.
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