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Boa aluna e craque de bola: amigos contam como Rayssa Leal é em casa

Adriana Del Ré

Colaboração do UOL, em São Paulo

31/07/2021 04h00

Medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio, a skatista Rayssa Leal, de 13 anos, é uma unanimidade entre amigas e colegas em Imperatriz, sua cidade natal no Maranhão. Ela é descrita como uma garota brincalhona, dedicada, carinhosa, boa aluna, que gosta de dançar, de abraçar, de se divertir, além de ser craque também em outros esportes, como futebol e handebol.

E, claro, motivo de orgulho para eles. A estudante Yasmin Paixão, de 13, está na mesma classe de Rayssa, na 8ª série do Colégio Cebama, e as duas são amigas desde o 4º ano. Na torcida pela amiga nas Olimpíadas, Yasmin ficou acordada de madrugada para vê-la competindo.

Yasmin - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Yasmin Paixão e a amiga medalhista olímpica Rayssa Leal
Imagem: Arquivo pessoal

"Fiquei muito feliz e muito orgulhosa, porque a Rayssa sempre se esforçou muito, chegou até lá com todo esse esforço e conseguiu a conquista que sempre quis", diz a estudante, em entrevista ao UOL Esporte. E, assim como os outros amigos, Yasmin não tinha dúvidas que a skatista traria uma medalha. Seja ela qual fosse.

De repente, a amiga, que já era conhecida, ficou famosa mundialmente. A sensação é de estranhamento, confessa Yasmin. "Nunca parei para pensar que sentei ao lado da Rayssa e agora ela estava nas Olimpíadas, que conseguiu ganhar a medalha. É muita estranha a sensação de saber que ela é sua amiga e está lá, não sei explicar. É estranho e bom ao mesmo tempo."

As duas mantêm aquele tipo de amizade de uma frequentar a casa da outra (agora com menos frequência, porque não são mais vizinhas), de conversar, brincar, jogar futebol, videogame. Yasmin também ajuda Rayssa quando a skatista tem que faltar nas aulas e precisa recuperar o conteúdo.

A mãe de Yasmin, a técnica de análises clínicas Marivam Barros da Paixão, de 43, conta que, antes de ir para Tóquio, Rayssa pediu para dormir na casa delas.

"Depois, foi embora cedinho para a casa dela e aí já ia viajar para o Japão", diz Marivam. "Falei: 'Rayssa, vai que essa é tua. Eu acredito que tu vai trazer (a medalha)'. Ela disse: 'tá bom, tia', rindo. Ela é toda brincalhona daquele jeito que ela estava lá (em Tóquio)."

Marivam lembra-se do pai de Rayssa, Haroldo Leal, passando com a menina na frente de sua casa até a praça e lá ia ela em seguida só para observar aquela 'bebezinha', como ela diz, andando de skate. A vizinha diz ter chorado muito depois da conquista da medalha de prata. "Fiquei emocionada por saber da história deles e aonde ela chegou, com humildade."

Yasmin também se emocionou. Quando Rayssa estava em Tóquio, elas chegaram a trocar algumas mensagens e, desde que a skatista chegou a Imperatriz, só conseguiu falar por WhatsApp com a amiga. Sabe que vai demorar um pouco para encontrá-la pessoalmente, devido à agenda agitada de Rayssa daqui para frente. E está ansiosa por esse dia.

Festa do pijama e dancinhas no TikTok

Ana Julia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rayssa Leal e a amiga Ana Júlia Teixeira Almeida
Imagem: Arquivo pessoal

Também amiga de colégio e da vida, Ana Júlia Teixeira Almeida, de 14, está igualmente conformada com a ideia de demorar para ver Rayssa. "Eu tinha falado para ela antes de ir para Tóquio: 'quando você voltar, tem que dormir em casa, porque se você ganhar, vem dormir aqui para comemorar; se você perder, vou te consolar'", conta Ana Júlia.

"Mas estou percebendo que não vai ter como ela vir para cá, porque vai estar ocupada por, pelo menos, uns 3 meses: vai dar muita entrevista, vai fazer muita propaganda, vai viajar. Então, vai ser bem difícil de a gente se ver agora, ainda mais que a gente não estuda mais no mesmo turno."

Ana Júlia está na 9ª série do Fundamental, um ano à frente de Rayssa, mas, mesmo nunca tendo estudado juntas, as duas se aproximaram desde que a skatista entrou no colégio. "Ela é muito amigável, sempre fez amizade com todo mundo lá da escola. A gente estudava no mesmo horário, os nossos pais se conheciam também, e aí a nossa amizade foi se formando. Eu estava à tarde e ela também, agora ela continua a estudar à tarde, mas eu estudo de manhã desde o ano passado."

Uma vai para a casa da outra também. Quando se encontram, brincam, fazem dancinhas do TikTok. Rayssa gosta de estar em atividade. E, se precisar, confisca os celulares das amigas para ter a atenção exclusiva delas, diz Ana Júlia. "Quando ela vem para cá, fico com ciúmes dela com meu irmão, porque eles ficam jogando videogame e eu não sei essas coisas. Fico no sofá olhando."

A mãe de Ana Júlia, a fotógrafa Alana Teixeira, de 34, conta que, às vezes, elas também vão para a chácara da avó da Rayssa. "A avózinha dela é um amor, parece que é a Rayssa daqui a 60 anos", comenta Alana.

"Acho que a Rayssa meio que finge que não é conhecida, para poder aproveitar a infância dela. Não parece que ela está vivendo esse turbilhão de emoções, porque consegue administrar, consegue separar a vida real dela com a vida social dela, a vida artística dela, digamos. É muito impressionante isso."

Muito próximas, as duas famílias assistiram à conquista da medalha de Rayssa juntas. Foi um momento emocionante. "É muito diferente a sensação, porque é uma pessoa que a gente conhece, com quem a gente convive, sendo aplaudida pelo Brasil inteiro", diz Ana Júlia, que acompanhou de perto a evolução da skatista ao longo dos anos.

"A Rayssa sempre foi muito esforçada, sempre tentava alcançar os objetivos dela. Isso nos estudos também. Nunca a vi ficar de recuperação. Mesmo viajando muito, perdendo aula às vezes, ela sempre colocava tudo em dia, e aí a gente percebeu que ela era assim no skate também e em outros esportes. Ela sempre foi boa em todos os esportes que praticava. No handebol na escola, ninguém ganhava da equipe dela. No futebol também."

Talento no futebol

Futebol - Escola Futebol Oficial Grêmio FBPA Imperatriz/Divulgação - Escola Futebol Oficial Grêmio FBPA Imperatriz/Divulgação
Rayssa Leal e o irmão Arthur na escolinha de futebol em Imperatriz (MA)
Imagem: Escola Futebol Oficial Grêmio FBPA Imperatriz/Divulgação

Quando está em Imperatriz, Rayssa é vista não só na pista de skate da cidade, como ainda nas quadras da Escola Futebol Oficial Grêmio FBPA Imperatriz. A skatista adora jogar futebol e, segundo as pessoas ouvidas nesta reportagem, é um talento nesse esporte também.

"Ela é uma jogadora rápida, sempre dá assistência, marca gols, joga muito bem no ataque, como também na lateral direita, em qualquer posição ela joga bem. Quando jogo contra ela, encontro nível de dificuldade", garante o estudante Felipe Bezerra do Nascimento, de 9 anos, aluno da escola de futebol.

"Ela joga bem, é boa em tudo, até como goleira", reforça o estudante Nicolas Pereira da Silva, de 8, outro aluno da escola que também já jogou com ela.

Assim como jogadora de futebol, Felipe e Nicolas admiram Rayssa como skatista. "Eu vi um vídeo de um garoto na final do interclasse da escola que estava se tremendo, e a Rayssa nas Olímpiadas dançando, de boa", diverte-se Felipe.

Responsável pela conveniada da escola em Imperatriz, Raydvaldo Alcântara do Carmo explica que, nas duas unidades da cidade, é trabalhado o futebol 7, que é o campo Society reduzido. "É a modalidade do campo sintético que é mais voltada justamente para essa iniciação das conveniadas. Paralelo a isso, somos representantes do Grêmio porto-alegrense na parte de captação de atletas", afirma.

Ali são responsáveis pela captação de atletas do Pará, Maranhão e Tocantins. O atleta que se destaca dentro da escola é integrado a esse núcleo de alto desempenho e, então, direcionado a Porto Alegre. A corintiana Rayssa, no entanto, vai lá para jogar e se divertir.

"Ela brinca, e isso é no treino de futebol, no espaço que a gente tem aqui, é treinando na pista. Já é algo dela", observa Raydvaldo. "Quando se trata de esporte de alto desempenho, a gente sabe que hoje a maior dificuldade é essa, a concentração, e isso é um dom, é algo que já vem dela."