Brasil salta hoje em Tóquio para honrar legados de Adhemar e João do Pulo
Hoje à noite, Pedro Henrique de Toledo vai suspirar fundo, sentado diante de sua televisão no andar de cima do sobrado onde mora em Guaratinguetá, no interior de São Paulo. Exatamente às 21 horas um filme inteiro vai passar: não na tela, mas em sua mente. Um dos maiores técnicos da história do esporte nacional, Pedrão vai se lembrar de todas as Olimpíadas em que esteve presente e a sombra de João do Pulo com certeza fará parte dessas recordações. É que hoje serão realizadas as eliminatórias da competição do salto triplo: a prova em que o atletismo nacional tem tradição, medalhas e recordes do mundo.
"Às nove da noite eu vou estar aqui na frente da tevê, na primeira fila, torcendo como poucos", garante o treinador, que conhece todos os segredos desta disputa, principalmente porque teve sob seu comando o incrível João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, recordista do mundo com inacreditáveis 17,89 metros. "O Brasil vai ter 3 saltadores entre os 32 concorrentes", vai contando Pedrão, com o conhecimento de quem criou métodos que transformaram os treinamentos da modalidade em todo o mundo.
Os brasileiros que tentarão manter uma tradição iniciada em 1948, nos Jogos Olímpicos de Londres, são Almir dos Santos, Alexsandro Mello e Mateus Sá. "Eu acho que eles se equivalem. Mas o Almir é um saltador praticamente pronto. E os outros dois são excelentes atletas".
Pedrão esta confiante em uma medalha. E esta será a primeira vez, desde 1948, que o Brasil terá três saltadores na mesma prova. "Em Londres o grande nome do nosso país era o Geraldo de Oliveira, que ficou em quinto lugar, com 14,82 metros". Os outros dois eram Hélio Coutinho da Silva, que terminou em décimo primeiro lugar, e um jovem chamado Adhemar Ferreira da Silva, que surpreendeu e ficou em oitavo lugar. Era o início de uma história olímpica gloriosa.
"Eu não sei explicar, não tenho uma explicação exata para essa tradição que se formou. Poderia ser uma prova de velocidade, uma corrida mais longa. Poderia ser uma porção de coisas, mas foi o salto triplo".
Pedrão acredita que é uma disputa em que os atletas negros se encaixam muito bem. "Eles se encaixam direitinho, porque é preciso força, velocidade, ritmo". E o Adhemar tinha tudo isso e um pouco mais. Era treinado pelo alemão Dietrich Gherner e ganhou medalhas de ouro nos Jogos de Helsinque-1952 e Melbourne-1956, com direito a quebras sucessivas de recordes do mundo.
"Após um resultado com repercussão, você anima os jovens praticantes, estimula o surgimento de novos atletas. E foi isso o que houve. Foi início da tradição. Veio depois o fantástico Nelson Prudêncio, com mais medalhas e um recorde mundial estabelecido por ele e quebrado logo na sequência da competição nos Jogos Olímpicos do México".
Na sequência veio a joia que o destino colocou nas mãos do técnico Pedrão: João Carlos de Oliveira, com direito a um salto com incríveis 17,89 metros, e uma marca até hoje incomum. E mais medalhas olímpicas: bronze em Montreal-1976 e Moscou-1980. Depois o Brasil teve Jadel Gregório, com saltos astronômicos, mas sem medalhas na maior competição do planeta.
E agora, como há 73 anos, três figuras vão à luta no estádio Olímpico de Tóquio. Almir Cunha dos Santos, atleta do Sogipa de Porto Alegre, tem em seu currículo um salto de 17,53 m. Depois enfrentou algumas contusões, mas ainda assim o seu técnico Arataca está confiante. Alexsandro Melo, cujo apelido é Bolt, é atleta do técnico Neilton Moura, compete pelo CT Maranhão, e tem 17,31 m. Mateus Sá compete pelo Pinheiros, é treinado por Nélio Moura e por sua esposa Tânia. Tem 16,87 m como melhor marca.
É por essa turma que Pedrão estará torcendo. Ele que é um dos aperfeiçoadores da escola brasileira de salto triplo. Os técnicos Neilton e Nélio, irmãos e fãs de Pedrão, pesquisam para lançar internacionalmente os ensinamentos usados por Pedrão na preparação de João do Pulo: o Método Oliveira Jump. Pedrão prefere ainda não falar sobre o assunto, mas não se nega a apontar o melhor saltador de todos os brasileiros que fizeram história.
"O Adhemar foi o maior. O maior de todos com certeza. Ele tinha condições espetaculares para a prova. Tinha uma capacidade incrível para suportar os choques, os impactos, pois o salto triplo é uma prova traumática. Além disso ele executava uma divisão de saltos perfeita, que serviu de parâmetro para outros países, que copiavam o salto que ele fazia".
Quem sabe hoje, um brasileiro honre a tradição e suba ao pódio, que por duas Olimpíadas foi de Adhemar Ferreira da Silva.
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