Geração campeã mundial do handebol feminino não será campeã olímpica
Nesta segunda-feira (2) em Tóquio, a alegria do esporte estava no círculo central da quadra. As francesas dançavam uma música feliz sobre sol e praias da banda Weezer. As brasileiras formavam uma rodinha silenciosa a frente do banco de reservas. Era última conversa coletiva em quadra para mulheres que fizeram o país campeão mundial em 2013.
Era mais que o choro da eliminação, era a dor do fim. A derrota para França por 29 a 22 marca o fim da geração mais vitoriosa do handebol feminino do Brasil. O apito final do último jogo da fase de classificação marcava a eliminação da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos. Acabava ali o propósito de existência daquele grupo específico de jogadoras. E provavelmente, acabava ali, também, o propósito olímpico de quatro mulheres em particular.
É um ritual de passagem tão grande quanto a formatura do Ensino Médio. A existência nunca mais será igual. A diferença é que estas quatro mulheres têm 30 anos para cima e muito mais compreensão do que está acontecendo. Sabem o tamanho da saudade que sentirão da vida de atleta. Ao passar pela na área de entrevistas, é possível ver os olhos vermelhos. Justo. Não seriam humanas se fosse diferente.
Aquelas quatro jogadoras em quadra que não devem estar em Paris-2024. A goleira Barbara, eleita a melhor da posição no mundial de 2013, tem 34 anos. Ana Paula, 33 anos; Alê, 39 anos; e Duda Amorim, 34. São as únicas campeãs mundiais do elenco que o técnico espanhol Jorge Dueñas convocou para Tóquio-2020.
Duda sempre foi a principal jogadora da seleção brasileira, incluindo a campanha no Mundial. Considerada um talento desde que era conhecida como a irmã de Ana Amorim (uma das primeiras brasileiras a jogar —e brilhar—no handebol europeu), já era campeã brasileira com 16 anos. Foi jogar com a irmã mais velha na Europa ainda adolescente e venceu cinco Ligas dos Campeões da Europa.
Foi escolhida melhor jogadora do mundo em 2014 e votada a melhor jogadora da década 2011-2020 em eleição popular da revista Handball Planet, uma das publicações mais influentes da modalidade no mundo.
Novos caminhos
Mas o fim de ciclos marca, também, oportunidades. É mais fácil surgir algo onde existe um vazio. A vida saudável e disciplinada do esporte facilitam o nascimento de algo sadio. A história da ponta-direita Alê comprova esta possibilidade. Ela tenta se aposentar desde as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Mas é difícil desapegar de algo que se faz com amor. Talvez, só por um amor maior.
"Eu tive cinco anos falando que vou parar de jogar e não consegui. Só que agora chegou o momento: eu também quero ser mãe. Agora que acabou a Olimpíada, meu objetivo é realmente me concentrar mais no meu corpo para estar visualizando meu objetivo."
O fato de que Alexandra encarou um novo ciclo olímpico depois do Rio mostra o tamanho da importância do handebol na vida dela. A jogadora adiou o plano de ter um filho e aceitou fazer uma operação no ligamento cruzado do joelho. Quem acha fisioterapia ruim pararia de reclamar se conhecesse a fisioterapia esportiva.
A ferida da operação ainda está aberta e o atleta é obrigado a dobrar a perna até um determinado ângulo. Acontece de o fisioterapeuta usar o peso de seu corpo para empurrar a perna do paciente e conseguir a amplitude desejada. Dói, sangra e saí pus, mas antecipa o retorno ao esporte em algumas semanas.
Alexandra aceitou este esforço e adiou o sonho de ser mãe. Mas agora chegou a hora. Ela saiu de quadra nesta segunda como uma jogadora aposentada.
"Na verdade, entreguei toda minha vida ao handebol e faria tudo de novo. Entreguei com prazer, com garra e com muito amor. E não tenho medo do futuro. Vai vir o que tiver que vir".
Tudo indica que virá um bebê.
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