Daniel Cargnin diz que bronze em Tóquio 'deu sentido para muita coisa'
A imagem daquele menino chorando dentro do carro, no caminho de volta para casa, por pensar que nunca conseguiria nada no judô ainda é nítida na cabeça de Daniel Cargnin. Naquele dia, Ana Rita, a mãe, sorriu e espantou a tristeza do filho com uma pizza. Hoje, com um bronze olímpico em mãos conquistado na categoria até 66kg, em Tóquio, ele sabe direitinho o que diria para aquele Daniel.
"Diria que vão ter dias difíceis, mas o importante é o que vou fazer com isso. Que amanhã vou ter uma nova oportunidade, que as coisas servem de aprendizado e que cada dia posso ficar mais forte e seguir evoluindo. Eu espero que daqui a um ou dois meses eu olhe e fale: 'Nossa, sou uma melhor versão do Daniel'. Nesse momento estou satisfeito com o que vejo. Parece que deu muito sentido para muita coisa, sabe? Porque antes eu me perguntava: 'Por que isso está acontecendo comigo?'", afirmou o judoca ao voltar ao Brasil na segunda-feira.
Aos 23 anos, o Cargnin diz ter demorado a entender que a luta não era contra os adversários. Desde 2019, ele se propôs a pensar e a agir diferente e a não desistir tão facilmente quando as coisas não saíam do jeito que queria. Mirou no exemplo dos pais. "Eles nunca fizeram menos do que o máximo deles. Minha mãe criou eu e meus irmãos. Ela trabalhava, fazia plantão de noite e criou três ótimos seres humanos. Hoje, que eu estou um pouco mais maduro, tento entender tudo o que ela passou porque não é fácil. Eu que estou com um cachorro agora já acho um pouquinho difícil, imagina três filhos? Quando pensava nisso.... Nossa, minha mãe foi muito guerreira, então vou mostrar que sou do mesmo jeito".
Quando a pandemia forçou o isolamento, Daniel viu a mãe ir para a linha de frente do combate ao coronavírus como nutricionista no Hospital das Clínicas de Porto Alegre. O cenário de incerteza o fez sentir medo. Por ela e depois por ele próprio. Em maio deste ano, ele contraiu o vírus e ficou fora do Mundial de Budapeste, última competição antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
"Eu não sabia se eu ia estar me sentindo bem para as Olimpíadas. Mas minha mãe, mesmo de longe, fez o melhor possível. Ela levou compras para mim e eu continuei treinando em casa, fui fazendo o possível para fazer minha melhor versão com o que eu tinha. E isso foi me dando motivação porque eu sabia que o possível eu estava fazendo", disse o medalhista olímnpico.
Daniel sempre sonhou subir ao pódio numa competição realizada no templo do judô. Pensava fazer isso num Grand Slam. Já havia participado de um no Japão, mas perdeu na primeira luta. "Eu lembro que disse que um dia ia medalhar lá. E foi nas Olimpíadas (risos). Melhor do que eu imaginei ou queria".
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