Bruninho e Alison tiram o sono da família Mossa nas Olimpíadas
Dias olímpicos, ou melhor dizendo, estas noites olímpicas não têm deixado a família de Vera Mossa dormir em paz. E a madrugada de segunda-feira (2) foi especialmente agitada: primeiro teve a corrida dos 400m com barreiras, que o velho Carlos Mossa não deixou de assistir e na sequência o jogo de vôlei entre Brasil e Japão, em que os olhos da mamãe e do vovô e da vovó Maria Helena estavam voltados para o levantador Bruninho. E haja torcida e sofrimento.
"Nessa época de Olimpíada, eu fico louca vendo todos os atletas brasileiros em ação", confessa Vera Mossa, mãe do levantador Bruninho e jogadora da seleção brasileira nas Olimpíadas de Moscou, Los Angeles e Seul. "Eu grito, torço, choro com as vitórias, com as medalhas durante toda a madrugada. Aí, eu durmo e já começo a noite chorando de novo de emoção com as nossas conquistas."
A família Mossa é totalmente do esporte.
Os pais de Vera são professores de educação física: a mãe nadou, jogou vôlei e basquete nos Jogos Abertos do Interior defendendo a cidade de Casa Branca. O pai foi atleta de alto rendimento do São Paulo e foi dono durante 22 anos do recorde brasileiro dos 110m com barreira, com o tempo de 14s01. Por isso, a corrida de Alison Santos, em Tóquio, mexeu tanto com a família.
"Meu pai e minha mãe moram em um apartamento no bairro de Vila Itapura, aqui em Campinas. Mas cada um tem a sua televisão que é para evitar confusão, pois eles gostam de esportes diferentes. E eu fico em minha casa, sozinha, no Condomínio São Conrado, em Sousas, que é para dar sorte", explica Vera Mossa.
"Quando estava para começar a corrida dos 400m com barreiras, eu liguei para avisar minha mãe e ficamos torcendo juntas ao telefone, só escutando os berros do meu pai, incentivando o Alison para chegar entre os primeiros. Meu pai ama atletismo. E era para o meu pai ter ido para a Olimpíada de Roma e essa foi a grande mágoa de sua carreira."
Vera Mossa, que foi uma das principais jogadoras do país ao lado de Jacqueline Silva e Isabel, conta que seu pai estava participando dos Jogos Luso-Brasileiros em Lisboa e obteve o índice para competir em Roma, em 1960.
"Só que os dirigentes não quiseram levá-lo, e ele voltou frustrado ao Brasil. Um tempo depois, ele ficou sabendo que na delegação olímpica tinha parentes de dirigentes. E até hoje ele carrega essa mágoa, porque foi um atleta de ponta. Treinou no São Paulo ao lado de Adhemar Ferreira da Silva e também foi orientado pelo técnico alemão Dietrich Gerner."
O velho Carlos Mossa sempre contou várias histórias de seus tempos de atleta e uma delas era sobre os calçados inadequados para competir. "Sempre me dizia que nos torneios internacionais, os atletas dos países mais ricos ficavam com dó e davam sapatilhas já usadas para ele".
No meio da entrevista, Vera Mossa para de falar repentinamente.
É que na tela de sua televisão, Ana Marcela está para ganhar a medalha de ouro na maratona aquática.
"Vai, Ana Marcela. Vai... Senhor amado... Eu fico doida. Eu choro com nossos atletas. Ela vai ganhar, vai ganhar, ganhou ouro...Meu Deus do céu, eu fico arrepiada!"
Depois do choro, Vera Mossa vai contar como ela acredita que a superstição ajudou a equipe de seu filho Bruninho a bater o Japão por 3 sets a 0, na Ariake Arena. E como ela e seus pais vão fazer para passar pelos russos na madrugada de quarta-feira (4).
Antes, vai ensinar o be-a-bá da superstição que a ajudou a ter uma carreira gloriosa nas quadras. Uma trajetória que a levou à seleção brasileira com apenas 15 anos.
"Primeiro é entrar com o pé direito na quadra. Depois fazer o sinal da cruz. Em terceiro lugar, eu não podia entrar de trança na quadra. Sempre tive o cabelo de todo jeito: comprido, curto, raspado. Mas quando fazia tranças, era certeza de derrota. Incrível isso, mas é verdade. E, por fim", conclui a jogadora, de 56 anos e 1,83m de altura. "É preciso ter uma peça de roupa vermelha. Quem me ensinou isso foi o Salvador, que era o massagista da equipe de vôlei do Guarani."
Muitos desses ensinamentos foram passados automaticamente a seu filho Bruninho.
"Ele tem também a sunga da sorte, que é verde. E acho que ele vai usar, sim, contra os russos. Mas em compensação, o Bruninho me passou palavras mágicas para secar o adversário".
Tudo começou quando ela assistia a um jogo de vôlei ao lado do filho.
"Eu gritava 'erra, erra!' quando o time adversário ia sacar. E o Bruninho me corrigiu. Ele disse: 'Não é assim mãe, é sapo seco'. Desde então, eu grito sapo seco na hora do saque inimigo".
Assim, o ritual para o jogo contra os russos nesta madrugada de quarta-feira vai começar com uma xícara de chá de camomila.
Depois Vera Mossa vai colocar uma calcinha vermelha.
Então ligará a televisão.
Vai se sentar no sofá, em seu lugar predileto, nem no meio, nem na ponta.
Vai ligar para a mãe e avisar que vai desligar o celular.
"Esse é um jogo para assistir totalmente sozinha, com muita concentração."
Então, quando o Brasil estiver do lado esquerdo do vídeo, cruzará a perna esquerda sobre a direita.
"E quando o Brasil estiver do lado direito, vou colocar a perna direita sobre a esquerda. O time do Brasil sempre tem que estar por cima."
E quando os russos forem sacar?
"Sapo seco neles!"
Em 2016, Vera Mossa reforçou a torcida pela equipe brasileira de vôlei com uma promessa:
"Fiquei seis meses sem tomar uma cerveja."
Por enquanto, ela acha que não vai ser preciso.
Mas, se os russos engrossarem o jogo...
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