Dani Alves explica relação com jovens nas Olimpíadas: "Trazer à realidade"
Capitão da seleção brasileira que decide neste sábado (7), contra a Espanha, quem fica com o ouro no futebol masculino das Olimpíadas de Tóquio, o experiente lateral-direito Daniel Alves contou em entrevista coletiva concedida hoje como é sua relação com o restante do elenco, formado por jogadores muito mais jovens. Ele tem 38 anos — o dobro da idade do meia-atacante Reinier, por exemplo.
"Procuro fomentar que eles desfrutem intensamente de coisas que dificilmente vão se repetir, viver o presente sem pensar muito a longo prazo. Longo prazo é planos, viver tem que se estar no presente. Diante de tantas catástrofes e problemas mundiais somos privilegiados por ter a vida que temos, fazer o que amamos, ter uma condição de vida muito boa e temos que valorizar isso, porque vemos a quantidade de pessoas passando dificuldades e lutando por viver dignamente. Nas nossas trocas de experiências quando nos reunimos é sempre pensando em trazê-los para a realidade, porque o mundo em que vivemos é surreal, é um mundo paralelo, e temos que dar valor a todos os momentos", disse.
Daniel Alves é um dos três jogadores acima de 24 anos permitidos nos Jogos Olímpicos, ao lado de Santos e Diego Carlos. Ele foi questionado se essa condição lhe dá privilégios dentro do grupo para além da faixa de capitão e respondeu dizendo que uma conversa no início da competição selou o tratamento em pé de igualdade. "Eu acho que é muito fácil lidar quando você tem ideias esclarecidas de quem é você, o que você quer, quais são seus objetivos quando veste essa camisa e está aqui. Tentei deixar bem claro que independente da minha trajetória, conquistas e o que vivi dentro da seleção brasileira, estou em igualdade de condições, porque estreio nessa competição. Não tem vaidade, não tem ego, não tem nada que atrapalhe a convivência do grupo", afirmou, antes de completar:
O sonho não é só meu, nem do mais jovem, é um sonho comum e para isso precisamos unir nossas forças, criar essa junção de boas intenções, porque assim você deixa o ambiente saudável. Não sou antigo para pensar que porque é jovem tem que ser tratado diferente dos mais experientes. Respeito tem que estar presente com a criança de dois ou três anos e com o ancião de 50, porque todos têm uma história por trás de luta, superação e vitórias. Quando você consegue colocar isso no mesmo ambiente em que todas as individualidades sejam respeitadas fica saudável e dentro de campo é consequência de fora."
O camisa 13 da seleção olímpica tem 20 anos de carreira e persegue o 42º título de uma galeria que já o isola como maior vencedor de troféus da história do futebol profissional. Dentro de uma trajetória tão longa, ele faz uma análise da diferença geracional com que se depara na convivência com o grupo atual em que cita até a internet como definidora de comportamentos:
"Sem dúvida nenhuma eles vivem em outro momento, o mundo vive em outro momento. A tecnologia deu uma acessibilidade às pessoas muito grande, hoje qualquer um pode ser famoso e ter milhões de seguidores e um monte de coisa sem trajetória de luta, sacrifício, vitórias, derrotas, reinvenção. A internet trouxe essa facilidade de pessoas serem consideradas ícones sem ter feito muita trajetória. Mas são épocas diferentes, uma outra geração. Infelizmente nós que temos que nos adaptar a eles, mais do que eles a nós (risos). São outros momentos, o mundo evoluiu muito rápido e quem tem que se adaptar somos nós. Por muita sorte estou vivendo com um grupo muito maduro apesar da idade, um grupo muito consciente dos valores reais da vida, da maneira como se comportar diante de um sonho. Isso é facilitador para mim, que vivi em épocas diferentes, com pessoas diferentes, culturas diferentes. Estar nesse grupo que apesar da idade tem essa consciência é prazeroso, estou honrado e surpreendido."
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