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Ser quarto do mundo não é suficiente para o tamanho de Darlan Romani

03.08.2021 - Jogos Olímpicos Tóquio 2020 - Atletismo masculino. Arremesso do peso. Na foto o atleta Darlan Romani. Foto: Gaspar Nóbrega/COB  - Gaspar Nóbrega/COB/Gaspar Nóbrega/COB
03.08.2021 - Jogos Olímpicos Tóquio 2020 - Atletismo masculino. Arremesso do peso. Na foto o atleta Darlan Romani. Foto: Gaspar Nóbrega/COB Imagem: Gaspar Nóbrega/COB/Gaspar Nóbrega/COB

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em São Paulo

05/08/2021 04h00

Darlan Romani é um daqueles atletas que coloca o Brasil no mapa de uma prova. Ou uma prova no mapa do Brasil. Até ele surgir como destaque do arremesso de peso na base, a melhor marca da história brasileira era mais de três metros abaixo do que ele fez hoje (5), na final olímpica, e nunca nenhum brasileiro tinha nem sequer ido a uma Olimpíada.

Olhando por esse ponto de vista, o quarto lugar em Tóquio-2020, uma posição melhor do que na Rio-2016, é um resultado para se comemorar. Mas o catarinense de Concórdia, aos 30 anos, não saiu feliz da competição no Japão. E nem poderia estar. Mais uma vez. ele falhou em superar os três que estão sempre à sua frente: os norte-americanos Ryan Crouser (23,30m e ouro) e Joe Kovacks (22,65m e prata) e o neozelandês Tomas Walsh (22,47m e bronze).

"Eu me dedico ao máximo. Quem me conhece, convive comigo, sabe que eu acordo sonhando, vivo sonhando, vou atrás todo dia. Acordo cedo, durmo tarde quando precisa. Faço de tudo para estar aqui e ter um bom resultado. Infelizmente acontece", disse após a disputa.

Acostumado a entregar seu melhor resultado nas competições mais importantes da carreira, dessa vez Darlan não conseguiu repetir o feito. Arremessou o implemento a 21,88m na segunda de seis tentativas, e depois não conseguiu melhorar. Ficou abaixo do que fez no Pan de Lima (22,07m), Mundial de Doha (22,53m) e no Mundial Militar (22,36m), todas competições em 2019.

Desde então, porém, o gigante brasileiro encontrou várias pedras pelo caminho. Com a chegada da pandemia e o fechamento do estádio onde treina em Bragança Paulista (SP), construiu uma pequena estrutura para treinar em um terreno baldio do lado da sua casa.

"As minhas condições, pelo resultado que eu tenho, são boas. Só que, infelizmente, tive um ano muito atípico. Ano passado, em março, eu tava treinando super bem, a gente estava vindo de uma temporada a milhão, eu ia fazer um ano excelente, muito melhor que 2019. Entrou a pandemia, tive que operar, passei covid, não foi fácil", lamentou.

A cirurgia foi para a retirada de uma hérnia de disco, em fevereiro. A expectativa é que ele ficasse seis semanas afastado dos treinamentos, mas ele se esforçou tanto na recuperação que, quatro semanas após a operação, já estava treinando normalmente. Mas, então, seu irmão e a mãe pegaram covid.

"Os médicos falaram: 'Vem ver seu irmão'...", começou a contar Darlan, na zona mista, antes de fazer uma pausa com os olhos marejados. "Chegando lá, ele estava com pulmão 80%, internado com UTI. Graças a Deus, ele e minha mãe estão bem, minha mãe ficou pior que ele", lembrou. Depois do contato com os familiares, o próprio Darlan também teve covid.

E os problemas ainda não haviam acabado. O cubano Justo Navarro, treinador responsável por transformar Darlan em um atleta de alto rendimento, que trabalha no Brasil desde 2010, voltou a Cuba no fim do ano, depois da morte da esposa, para passar as festas. E não conseguiu voltar. Os voos para o Panamá foram suspensos e Estados Unidos e Espanha, para onde também partem voos saídos de Havana, não têm embaixada em Cuba onde o treinador pudesse pedir um visto de passagem para ir ao Brasil.

Por isso, Darlan não só fez toda a preparação sem seu treinador como veio a Tóquio sem ele também. "A gente vem treinando de longe. Ele vem ajudando, a gente filma, ele responde, dá as opiniões para a gente. Mas não tem muito o que fazer, é uma condição que Cuba está lá, fechado, e ele não consegue sair. Todo dia falamos de trazer ele para o Brasil".

Não ganhar uma medalha é doloroso, mas, diante de toda essa circunstância, Darlan sabe que é um herói por ter chegado tão longe. E não desiste do seu sonho. "Olha o tamanho do mundo, e a gente é o quarto do mundo numa prova do arremesso de peso. Mas eu sonho maior, eu batalho todos os dias por isso. Agora é colocar a cabeça no lugar e continuar lutando. Se eu dava 200%, vou ter que dar 300%, 400%. Não quero isso [ser quarto] mais para minha vida, não".