Vitória sobre russas alivia neto de Zé Roberto 5 anos após choro no Rio
Foi uma manhã muito especial para a família do técnico José Roberto Guimarães: dia do aniversário da filha Fernanda, que completou 38 anos. A mamãe Alcione não foi trabalhar no Centro de Treinamento de Barueri, na Grande São Paulo, e foi assistir ao jogo da seleção brasileira feminina de vôlei contra a Rússia na casa da aniversariante.
O neto Felipe, que joga tênis e está um "gigante", não ficou ao lado da avó. Ali naquela família do vôlei, eles aprenderam que torcer pelo sucesso do técnico e da seleção brasileira feminina requer empenho individual e televisões diferentes.
"Eu assisto sozinha, porque gosto de rezar. Além do mais tenho minhas superstições", confessa Alcione.
Já Felipe nem foi à escola para a aula de inglês. Torcer pelo avô é uma boa justificativa. E como ele torceu! Como fica nervoso esse menino de 11 anos que, de certa forma, está na história do vôlei olímpico.
"Verdade, a imagem dele foi considerada uma das mais representativas dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro", diz a avó.
E foi exatamente essa imagem, que esteve incomodando o menino Felipe desde que o avô Zé Roberto viajou para Tóquio.
"No avião, o Zé viu que havia um filme falando da vida da chinesa Lang Ping, campeã olímpica em 2016. E ele assistiu ao documentário. Só que no fim aparece a imagem do Zé Roberto com o Felipe chorando no Maracanãzinho. E quando o Felipe soube do filme e do choro ficou superchateado. Passou os últimos dias incomodado."
O menino, que tinha 6 anos na época, ficou sabendo da história contada pelo avô e não se conformava: "Poxa vó, eles podiam pelo menos ter pedido uma autorização para usar a imagem", queixou-se o menino à sua avó. "Puseram justo eu chorando!"
Mas agora com a vitória sobre as russas e a classificação para as semifinais contra as sul-coreanas, a vovó Alcione garante que ele ficou aliviado. E pronto para torcer por mais uma final emocionante.
Afinal, a carreira esportiva de Zé Roberto é feita de muitas conquistas, invariavelmente, construídas em jogos dramáticos.
A história esportiva de Zé Roberto é pura emoção. Nos três ouros olímpicos conquistados, na torcida da família ou na cena protagonizada pelo neto Felipe em 2016, no Maracanãzinho.
Emoção que vai da bolada na cabeça que levou no jogo contra as russas nesta quarta-feira (4) até a vibração intensa quando saiu correndo pela Ariake Arena, após a classificação para as semifinais contra as sul-coreanas.
"O Zé está superfeliz. Ligou e disse que está muito orgulhoso deste time. Disse que as meninas puseram em prática tudo o que foi feito nos treinamentos. Todos sabem que não temos o melhor time da olimpíada, não temos uma estrela, mas vamos ganhar no conjunto", garante Alcione.
Ela espera pelo título e pela quarta medalha de ouro de seu marido. Uma medalha que escapou no Rio de Janeiro há cinco anos.
Uma derrota que ficou eternizada em 2016 no placar do Maracanãzinho, que mostrava China 3x2 Brasil. Ali, no telão estava também o menino Felipe, com a bandeira do Brasil, chorando. Colocado para dentro da quadra pela jogadora Jaqueline, o menino acabou no colo do avô, que tentou explicar que nem sempre se ganha na vida.
Lições que Zé Roberto sabe de cor. Zé Roberto que é intensidade extrema.
Supertições de família
Parece que leva tudo às últimas consequências: seja no comando do grupo, seja no desvelo com que se entrega ao estudo das táticas, seja no cumprimento rigoroso de superstições que beiram a extrema devoção, quase o fanatismo.
Uma de suas histórias mais marcantes aconteceu nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, quando viu um corcunda em sua chegada à Vila Olímpica. O técnico não sossegou enquanto não conseguiu dar um tapinha na corcunda do homem que trabalhava como voluntário, certo de que isso lhe traria a sorte necessária para que a equipe conquistasse o título.
Ele tinha essa certeza desde que dirigiu o time masculino em Barcelona e também encostou a mão na corcunda de um garçom espanhol.
Jornalistas que o acompanharam em várias competições pelo mundo lembram de outras esquisitices.
Trocar de assento no avião era fato comum. Trocar de quarto nos hotéis também era necessário para que ele acreditasse que os caminhos insondáveis do destino estavam a seu favor.
Trocar de cueca em um torneio então, nem pensar. E não usar preto em dia de jogo sempre foi fundamental.
As imagens de Nossa Senhora e Santa Edwiges na carteira são imprescindíveis.
Obviamente as promessas são bem-vindas e aí até a esposa Alcione entra na dança: já deixou de comer chocolate por um bom tempo e participou até da peregrinação pelos caminhos de Santiago de Compostela, depois dos Jogos de Londres.
"Claro que fiz promessas desta vez, mas eu só conto depois que acabar a Olimpíada", afirma Alcione.
Afinal, o avô de Felipe não construiu esse mundo de conquistas esportivas sem a ajuda das insondáveis forças da Natureza.
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