Medina teve 4 chances, mas alegou calendário para não se vacinar
Demétrio Vecchioli
Do UOL, em Tóquio
06/08/2021 04h00
Gabriel Medina já deixou passar ao menos quatro oportunidades de se vacinar contra covid-19. Dessas, três foram antes de viajar ao Japão. Contrariando os insistentes pedidos do Comitê Olímpico Internacional (COI), o surfista veio às Olimpíadas de Tóquio sem se vacinar. Ao voltar ao Brasil, ele poderia ter se vacinado em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, onde mora, e que está vacinando pessoas de mais de 18 anos, o que inclui, naturalmente, Medina, que tem 27.
Ao Comitê Olímpico do Brasil (COB), que ofereceu aos atletas a oportunidade de imunização pensando na Olimpíada, Medina alegou uma desconformidade entre seu calendário de competições e o da vacinação de atletas.
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A imunização promovida pelo COB no Brasil com vacinas doadas pelo COI começou no dia 14 de maio, com postos em diversas cidades, inclusive São Paulo. Os atletas precisavam confirmar para o COB o interesse em serem vacinados e em qual cidade estariam nas datas preestabelecidas.
Na época em questão, Medina estava na Austrália disputando a primeira perna do Circuito Mundial da WSL. De lá, ele viajou para El Salvador, na América Central, onde foram disputados os ISA Games, o Campeonato Mundial Amador de surfe, que era obrigatório para a elegibilidade do surfista que quisesse vir às Olimpíadas.
Na sequência, o brasileiro foi para a Califórnia, nos Estados Unidos, onde foi realizada mais uma etapa da WSL. Lá, Medina também teve a oportunidade de se vacinar, antes ou depois da competição porque, naquele momento, os EUA já estavam disponibilizando imunizantes para visitantes de qualquer idade. Na época, Medina já sabia que viria a Tóquio e sobre a importância de vir vacinado.
As confederações de atletismo e de skate, por exemplo, instruíram atletas com passagem pelos EUA para que se vacinassem. No caso do skate, a orientação foi objetiva para que os brasileiros procurassem o imunizante da Janssen, assim, estariam imunizados com uma dose. Parte do time que foi para o Mundial de Revezamentos, de atletismo, teve de voltar da Polônia para os EUA para tomar a segunda dose da Pfizer.
Mas Medina não aproveitou a oportunidade nos EUA e voltou ao Brasil, para sua casa em Maresias, de onde postou foto no Instagram no dia 27 de junho. Depois disso, o COB ainda realizou mais duas rodadas de vacinação em São Paulo, nos dias 5 e 12 de julho. A seleção masculina de futebol, por exemplo, se vacinou na primeira data, com o imunizante da Pfizer, deixando para tomar a segunda dose na volta ao Brasil.
A vacinação não era obrigatória para viajar ao Japão nem para disputar as Olimpíadas, uma vez que o COI e o governo japonês não tinham como controlar a disponibilidade de vacinas em todos os países que vieram aos Jogos. Mas houve uma forte pressão para que quem tivesse essa oportunidade se vacinasse, como forma de aumentar a segurança dos Jogos, influenciando a confiança dos anfitriões japoneses que a Olimpíada não seria um foco de transmissão da doença.
Depois da Olimpíada, Medina voltou para a cidade onde foi criado e onde mantém residência, em Maresias, uma praia de São Sebastião. Ele chegou à cidade exatamente no momento em que o município abriu a vacinação para qualquer residente com mais de 18 anos, caso do surfista.
O COB tem mantido uma postura de não comentar sobre quem se vacinou e quem não se vacinou, já que essa era uma decisão individual de cada atleta. A reportagem também procurou o agente de Medina, que não respondeu as mensagens. Se houver um posicionamento do atleta sobre não ter se vacinado, essa nota será atualizada.
O surfista revelou em rede social, hoje (5), que não poderá disputar a última etapa da temporada do Mundial de Surfe, em Teahupo'o, no Taiti, porque não tomou a vacina. "Eu não vou para Teahupoo porque eu não tomei a vacina e aí tem que fazer 10 dias de quarentena. Aí não dá tempo de ir do México, que é uma seguida da outra. Aí vou ser obrigado a não ir. Sacanagem. Mas de boa", afirmou em uma live.
Ele, porém, não disse se pretende se vacinar para evitar problemas assim no futuro e para colaborar no processo de imunização da população brasileira e mundial, controlando a pandemia.