Topo

Tandara se defende de caso de doping e fala em 'acidente'

Tandara, durante partida da seleção feminina de vôlei nas Olimpíadas de Tóquio - REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Tandara, durante partida da seleção feminina de vôlei nas Olimpíadas de Tóquio Imagem: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins

Do UOL, em São Paulo

06/08/2021 14h45

A jogadora Tandara Caixeta, da seleção brasileira feminina de vôlei, se pronunciou pela primeira vez sobre o caso de doping que resultou em sua suspensão preventiva. Em nota divulgada nas redes sociais, a oposta alegou inocência e disse que a substância entrou "acidentalmente no organismo".

"Confiamos plenamente que comprovaremos que a substância Ostarina entrou acidentalmente no organismo da atleta e que não foi utilizada para fins de performance esportiva", diz o comunicado assinado pelo advogado Marcelo Franklin.

Na noite da última quinta-feira, Tandara foi suspensa provisoriamente por potencial violação de regra antidopagem. A jogadora deixou a seleção brasileira feminina de vôlei e retornou ao Brasil. Em nota, o COB afirmou que foi notificado pela ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) quanto à suspensão provisória de Tandara. O teste foi realizado em 7 de julho. A substância não havia sido revelada.

No entanto, na manhã de hoje, a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) informou em nota que havia sido constatada a presença de ostarina, um anabolizante.

A defesa de Tandara destacou que "até o momento, sequer foi analisada a contraprova da urina da atleta" e que "recentemente, inúmeros atletas no Brasil foram vítimas de incidentes envolvendo a Ostarina".

"(...) salvo melhor juízo, não se afigura razoável qualquer pré-julgamento de uma atleta íntegra, sem quaisquer antecedentes e que há anos contribui para as conquistas do vôlei brasileiro", aponta a nota.

O documento ainda reforça que a atleta não irá se pronunciar sobre o caso. "Tendo em vista o segredo de justiça imposto ao processo, em respeito à ABCD e ao TJD-AD, por nossa orientação, a atleta Tandara Alves Caixeta não se pronunciará até a decisão final sobre o caso."

Substância tem venda proibida

Segundo o médico Alexandre Hohl, presidente do departamento do de endocrinologia feminina e andrologia da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), a substância Ostarina tem venda proibida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e não está na composição de nenhum outro medicamento.

"Estão me perguntando bastante: pode ser encontrado em algum remédio? Não! Pode ser usado em algum tratamento? Também não!", disse em entrevista ao UOL Esporte.

Hohl explicou que a Ostarina faz parte da classe "Sarm" (Selective Androgen Receptor Modulators, em português, moduladores seletivos do receptor de androgênio), e que não há nenhum remédio no mundo que pertença a essa classe.

"Quando a gente fala em remédio, ele tem fase 1, 2, 3 e 4 de pesquisa. Esses SARM's [Selective Androgen Receptor Modulators, em português, moduladores seletivos do receptor de androgênio] nunca chegaram à fase 3. Então, o que acontece? Existe um potencial para melhorar músculo, osso, tem todo um racional legal, só que não foi para frente, não conseguiram evoluir. Então a gente não tem resposta nem de segurança nem de eficácia. E como fica a história? Não existe um remédio no mundo que seja um SARM", explica.

"Era tipo um suplemento que ninguém dava bola, mas é um anabolizante, até a Anvisa se posicionar. A resolução 791 da Anvisa desse ano foi muito feliz, pois eles são bem categóricos: proíbe divulgação, comercialização, propaganda, manipulação e uso de todos os SARM's. E a Ostarina está ali...", acrescenta.

Alexandre Hohl ainda aproveitou para descartar a possibilidade de que a atleta tenha ingerido a substância durante um tratamento para controle menstrual.

"Não tem como um médico dar uma receita de um SARM no Brasil sem ele ser acusado de imperícia. Se é um remédio que não é permitido no nosso país, não posso prescrever. A alegação, pelo que vi por aí, é que ela estava usando para regularizar os hormônios dela para controle da menstruação... Não tem anticoncepcional, ou regulador hormonal, à base de SARM. Por prescrição médica - a não ser que o médico queira assumir a responsabilidade e aí ele vai ser cassado pelo Conselho Regional - você não tem uma indicação médica", explica.

"Então o uso foi por conta própria, e o atleta assume o risco. O atleta assume o risco quando usa a substâncias, mesmo que não saiba, mas tem que ter responsabilidade, principalmente atleta olímpico", completa.

Surpresa na seleção

O técnico Zé Roberto e companheiras de Tandara na seleção brasileira de vôlei relataram que ficaram surpresos com o caso. Após vencer a Coreia do Sul nesta sexta-feira (6) e garantir o time na final olímpica contra os EUA, o técnico contou que conversou com a atleta sobre o caso. Segundo ele, Tandara estava "devastada" e "chorando muito" e negou o uso de qualquer substância ilícita.

"Logo pela manhã, eu conversei com ela. Ela disse: 'eu estou limpa, não tomei absolutamente nada'. 'Então vamos pensar na sua defesa, faz a melhor coisa possível'", contou Zé Roberto.

Ele classificou como "tensa" a conversa em que informou às jogadoras sobre a suspensão de Tandara.

"Foi tenso. Eu só pedi para Papai do Céu para me iluminar, porque é um baque. E eu disse: 'olha, é uma coisa complicada que temos que conversar'. Todas ficaram olhando sem acreditar no que estava acontecendo."

Caso venha a ser suspensa de forma definitiva, Tandara deve perder os resultados obtidos a partir do dia 7 de julho, até o fim da suspensão, o que inclui os jogos da Olimpíadas. Com isso, caso ela seja de fato punida, ela não receberá medalha olímpica. O time não corre riscos de perder resultados.