Isaquias é ouro nas Olimpíadas de Tóquio com homenagem a Jesús Morlán
Já na lista dos grandes atletas brasileiros nos Jogos Olímpicos após as três medalhas no Rio-2016, Isaquias Queiroz tem mais uma para comemorar: o ouro na categoria C1 1000m da canoagem velocidade assegurada nas Olimpíadas de Tóquio. O novo pódio olímpico foi o primeiro do canoísta brasileiro após a morte de seu ex-treinador, Jesús Morlán, em 2018.
Após o ouro, Isaquias e o Lauro de Souza Jr, técnico responsável por dar continuidade ao trabalho de Jesús, homenagearam o ex-treinador. Lauro usava uma camiseta que dizia "Suso Morlán, o ouro é seu". Isaquias lembrou o espanhol logo que deixou a canoa.
"A gente veio com um objetivo: ganhar a medalha de ouro do Jesus. Eram duas, mas não conseguimos. A gente pôde realizar um sonho que ele tinha, que era ser um campeão olímpico", disse o atleta brasileiro.
Isaquias também aproveitou para elogiou Lauro que, com os ensinamentos de Morlán, trabalhou duro com a equipe de canoagem.
"Muita gente não acreditava que ele poderia estar dando continuidade ao trabalho do Jesus, ele demonstrou que é capaz. Não só me levar ao grande pódio, como levar outros atletas."
Após a classificação para a semifinal, Isaquias já tinha avisado que buscaria a medalha pelo ex-técnico. "Jesús foi um cara que mudou a a trajetória da canoagem do Brasil. Um cara que merece todo elogio por todas as conquistas que teve e pelo que estava fazendo mesmo com o tratamento do câncer. Para mim, é uma honra remar aqui e tentar mostrar para o Brasil que o trabalho dele segue, que podemos mostrar à família dele que levamos o nome do Jesús mesmo ele não estando mais fisicamente aqui. Meu objetivo agora é ganhar essa medalha de ouro para dedicar a ele", disse.
Diagnosticado com câncer no cérebro logo após as medalhas conquistadas no Rio, Morlán foi o principal responsável por fazer de Isaquias um supercampeão. Apesar do jeito duro, rígido e, às vezes, incompreendido, o espanhol foi diversas vezes definido pelo canoísta brasileiro como "um pai".
Além de ter feito de Isaquias um campeão mundial e medalhista olímpico, Morlán era apaixonado por números e cálculos. Ele tinha todos os detalhes de treinamentos e performances de seus atletas em planilhas de excel e sabia exatamente o que precisava fazer para ganhar uma medalha e onde havia sido o erro quando o resultado não fosse bom.
Mas o espanhol foi bem mais do que isso para Isaquias. Em entrevista ao blog Olhar Olímpico, após a morte de Morlán, o canoísta falou sobre a importância dele em sua vida.
"Ele deu a vida pelo esporte, pela gente, se dedicou ao máximo pelo trabalho. Me ensinou tudo. Acho que foi um pai, porque ele me ensinou várias coisas, me ensinou disciplina, o que é respeitar outra pessoa. Ele ensinou a amar o próximo. As medalhas, os resultados, isso não foi nada. O maior presente foi o carinho dele e o amor dele, porque ele amava muito a gente. Era um cara excepcional, sempre deixando a gente em primeiro plano", disse o astro da canoagem brasileira.
Morlán começou a trabalhar na canoagem brasileira em 2013. Sob sua orientação, o Brasil conquistou não apenas as três medalhas olímpicas na Rio-2016, mas também dez pódios em mundiais.
Quando Morlán descobriu a doença, Isaquias chegou a declarar que, caso seu ex-técnico não pudesse mais o treinar, ele largaria o esporte. Depois de receber apoio da equipe e do COB (Comitê Olímpico do Brasil), no entanto, desistiu da ideia e resolveu cumprir uma promessa que tinha feito a Jesus: seguir remando.
Isaquias chegou a Tóquio com o objetivo de ganhar duas medalhas olímpicas bem definido em sua cabeça. O sonho do quinto pódio na carreira, no entanto, não pode ser concretizado após não conseguir chegar entre os três primeiros no C2 1000m, categoria em que competiu com Jacky Godmann.
O legado de Morlán, no entanto, continua. Hoje, a medalha de ouro de Isaquias na categoria C1 1000m, mostrou que o trabalho árduo de Jesus não foi em vão. Ele continuará vivo em cada conquista da canoagem brasileira.
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