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Xinxim de bofe e caruru na festa pelo ouro olímpico de Hebert Conceição

Hebert Conceição, campeão olímpico do peso médio nos Jogos de Tóquio - Wander Roberto/COB
Hebert Conceição, campeão olímpico do peso médio nos Jogos de Tóquio Imagem: Wander Roberto/COB

Roberto Salim

Colaboração para o UOL, em São Paulo

07/08/2021 14h00

Nove horas da manhã em Salvador e dona Ieda ainda não conseguiu dormir. A luta contra o ucraniano Oleksandr Khyzniak está em sua mente. Parece que ela está segurando a imagem de Nossa Senhora Aparecida e pedindo, na frente da televisão, que seu filho Hebert desgrude do adversário. E no meio de todas essas emoções e da conquista da medalha de ouro olímpica, ela já está pensando na volta do filho querido e quanto xinxim de bofe vai preparar para a grande festa com vizinhos e amigos.

"Rapaz, pensa em um coração que está alegre. Muito feliz!", vai dizendo a mãe do novo campeão olímpico de boxe. "Pensou? Esse é o meu coração. Eu ainda não dormi e nem tenho sono!"

Os últimos dias na casa da família de Hebert Conceição têm sido intensos. Na semana passada, quando ele estreou nos Jogos de Tóquio, Ieda mostrou aos vizinhos que era uma cozinheira de mão cheia.

"Você acredita que quando a luta terminou, de madrugada, começamos a comer a feijoada que eu preparei e assim foi até a noite seguinte. Acho que foram 4 quilos de feijão. Preparei um senhor feijão!". Mas na madrugada da final contra o ucraniano, ela preferiu deixar as panelas de lado. Foi concentração total da família na luta decisiva.

"Que luta espetacular. Ele estava perdendo durante dois rounds. O adversário não dava espaço. A gente aqui em casa berrava: 'se livra dele'. Mas o adversário lutava grudado no Hebert, parecia que queria minar o Hebert. E a cada instante eu ia segurando minha santinha e pedindo que ela ajudasse meu filho".

A santinha no caso era Nossa Senhora Aparecida. "Eu sou devota dela", conta Ieda, que nasceu em Maragogipe, interior da Bahia. "Lá na minha cidade, o padroeiro é São Bartolomeu".

Mas durante a luta ela se apegava a Nossa Senhora mesmo. "Foi a imagem que ele comprou para mim quando em novembro fomos visitar o Santuário. A viagem foi o maior presente que o meu filho me deu. Ele estava treinando em Portugal e quando voltou me fez uma surpresa, comprou passagem de avião, cheguei em São Paulo e fui até Aparecida do Norte com ele e a namorada".

E foi segurando a santinha que ela fez um último apelo durante a luta. "O ucraniano estava ganhando e na transmissão da televisão, alguém falou que agora só se o Hebert nocauteasse o adversário. E eu pedia ajuda e gritava: 'bora, bora, bora, bate e bota ele no chão'. A luta estava emocionante, desesperadora. E então aconteceu: ele se desvencilhou e foi competente. Acertou um upper ou foi um jab? Você sabe o golpe? Isso: cruzado! Deu de direita e socou de esquerda. E pau! Na ponta do maxilar."

Ieda sabe os nomes dos golpes porque sempre que pode vai assistir as lutas do seu menino desde que ele começou no boxe em Salvador. "Eu vou com medo, mas vou. Quero estar perto dele. Saber como está. Tenho receio mesmo, mas ainda bem que aqui no Brasil ele nunca perdeu".

Agora, ainda sem dormir após a conquista da medalha de ouro, ela já faz planos para a volta do filho. "Uma das coisas é pagar a promessa: sei que ele vai me levar até Aparecida do Norte de novo, para benzer as luvas".

Ela não sabe ainda se Hebert irá direto para Salvador quando chegar do Japão. De qualquer maneira já programou uma grande festa.

"Sabe, meu filho adora comer e para ele qualquer comida serve. Mas adora mesmo a comida baiana e gosta muito de caruru e xinxim de bofe. Quando eu faço, e eu faço muita quantidade, e ele fala: 'mãe, bota no congelador que eu vou comendo'. E come a semana toda".

Então ela vai preparar o xinxim e o caruru da vitória. Na festa estarão os vizinhos, os parentes e, com certeza, grandes amigos como os treinadores Davi e Marquinhos Moreira que o levaram para o mundo dos ringues. E indicaram o caminho da consagração: algo incomum para crianças carentes da capital baiana.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do que foi publicado, dona Ieda é da cidade de Maragogipe, e não de Camaragibe. O erro foi corrigido.