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Rayssa, 6,7 mi de seguidores, é exemplo de como Olimpíada criou influencers

Rayssa Leal em ação no skate dos Jogos Olímpicos de Tóquio - An Lingjun/CHINASPORTS/VCG via Getty Images
Rayssa Leal em ação no skate dos Jogos Olímpicos de Tóquio Imagem: An Lingjun/CHINASPORTS/VCG via Getty Images

Beatriz Cesarini, Letícia Lázaro e Denise Mirás

Do UOL, em Toquio, Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/08/2021 04h00

"Sonhei em ter um milhão de seguidores e agora tenho dois milhões? O que é isso, minha gente? Não sabia, não", disse Rayssa Leal poucos minutos após ganhar a medalha de prata no skate street das Olimpíadas de Tóquio. Disputou os Jogos com a leveza de uma Fadinha, como se estivesse brincando, e caiu nas graças do público brasileiro.

Segundo Rayssa, seu skate flui melhor quando ela se diverte. Não é à toa que fez uma dancinha do TikTok no meio da grande decisão com as japonesas Momiji Nishiya e Funa Nakayama, que completaram o pódio. Ou que festejou a medalha com a filipina Margie Didal, a quarta colocada. Lidar com uma final olímpica dessa maneira é para poucos e nem atletas que já fizeram história como Daiane do Santos chegaram a esse ápice de equilíbrio mental.

Rayssa Leal durante disputa do skate street em Tóquio - Wander Roberto/COB - Wander Roberto/COB
Rayssa Leal durante disputa do skate street em Tóquio
Imagem: Wander Roberto/COB

Quem aí não tem a figurinha de Rayssa no WhatsApp? A jovem foi tão influente durante o período olímpico que foi a atleta brasileira que mais ganhou seguidores nas últimas semanas. Após a prata, Rayssa chegou aos dois milhões de seguidores no Instagram. Hoje, já tem 6.7 milhões e ganha milhares de novas pessoas a acompanhando diariamente.

No Twitter, a Fadinha foi a grande estrela dos Jogos Olímpicos. Sua prata na final do skate street foi o momento mais comentado de toda a Olimpíada, superando conquistas de atletas japoneses e também o ouro da seleção brasileira de futebol masculino.

O perfil de Rayssa na rede social foi o mais citado dentre todos os atletas que foram ao Japão, demonstrando a força da garota nas redes. Ela foi mais mencionada que grandes estrelas mundiais, como Simone Biles, que foi a segunda. O indiano do lançamento de dardo, Neeraj Chopra, responsável pelo único ouro da Índia em Tóquio, foi o terceiro.

Outro fenômeno nas redes sociais durante essa Olimpíada foi Douglas Souza, ponteiro da seleção brasileira de vôlei. Ele foi a primeira grande estrela dos Jogos antes mesmo de entrar em quadra. Entre a chegada ao Japão e seu último jogo, o atleta saltou dos 250 mil para mais de 3 milhões de seguidores no Instagram.

A popularidade dele é explicada por um carisma totalmente fora da curva. Douglas viralizou com um vídeo em que desfila na quadra de vôlei durante um treino. Muito mais do que sucesso pessoal, o ponteiro acendeu a chama dos Jogos em brasileiros que se sentiram representados e passaram a acompanhar o evento e torcer para a seleção por causa dele.

Douglas Souza foi irreverente nos stories - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Douglas Souza foi irreverente nos stories
Imagem: Reprodução/Instagram

Com irreverência e sem negar a orientação sexual (ele é homossexual assumido, algo ainda raro no esporte), Douglas mostrou que não precisa seguir padrões conservadores para se tornar aclamado pelo público. Quem notou tudo isso antes das Olimpíadas foi a Agência Mynd, que tem Preta Gil como sócia-diretora. A empresa buscou entre os mais de 300 atletas brasileiros classificados para os Jogos Olímpicos alguém com potencial parecido com o de Gil de Vigor e encontrou.

Douglas mostra que não precisa se esconder para ser um atleta de alto rendimento. O ponteiro pode e deve ser ele mesmo e tudo bem. Rayssa, por sua vez, derrubou o mito que diz que atleta precisa sofrer para alcançar a glória. Ela garantiu a medalha se divertindo.

Além do carisma natural, Douglas e Rayssa Leal representam o mundo novo chegando nas Olimpíadas. Eles trazem as novas visões do planeta e as mudanças da sociedade e é isso que mantém a essência dos Jogos Olímpicos viva.

Quem foi campeã em Tóquio e nas redes sociais foi Rebeca Andrade. Além de medalhista de ouro, a ginasta conquistou o Brasil com sua personalidade e ganhou muitos seguidores após a final do individual geral, em que faturou a medalha de prata.

Antes da prata, Rebeca tinha cerca de 500 mil seguidores e, em poucas horas, 800 mil novas pessoas começaram a segui-la no Instagram. Atualmente, passa de 2,3 milhões de seguidores.

Outra atleta que se destacou foi Letícia Bufoni, que, sem medalha, teve um ótimo desempenho nas redes. Com um jeito irreverente e polêmico, a skatista ganhou mais de um milhão de seguidores desde o início da Olimpíada. Comentários envolvendo uma possível briga entre a equipe de skate brasileira e "piadas" com Gabriel Medina, por exemplo, impulsionaram as redes de Bufoni, que caiu nas graças por ser quem é.

Medalha de ouro em carisma

Em comum, Letícia, Rebeca, Douglas e Rayssa têm o carinho de grande parte do povo brasileiro, que os "adotou" como personalidades a serem seguidas durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, todos com um carisma inegável e com sua própria forma de ser.

Uma métrica presente nas redes sociais de atletas que conquistaram o público pelo carisma é a regularidade no ganho de seguidores durante os Jogos Olímpicos. Em todos os casos, não houve uma explosão de seguidores repentina seguida de uma queda muito acentuada, o que indica que eles têm o interesse e a audiência regularmente engajada com o perfil e os ganhos não foram obra do acaso.

Neste ano, pelas restrições impostas devido à pandemia da covid-19, os torcedores estiveram mais longe do que nunca do dia a dia olímpico. Por isso, elegeram representantes que foram seus olhos e ouvidos durante toda a caminhada do Time Brasil em Tóquio.

Esses principais "eleitos" pelo público tiveram ganhos acima do normal. Douglas, por exemplo, que saiu do Japão sem faturar uma medalha, teve um crescimento maior do que atletas medalhistas. Em Tóquio, ser autêntico foi a chave para o sucesso desses atletas influencers. Fossem eles uma adolescente de 13 anos, um campeão olímpico ou a segunda ginasta mais completa do mundo, não importou. A autenticidade e o carisma deram medalha de ouro aos atletas que mais cresceram nas redes.

Maioria dos atletas cresceu em situações específicas

Outro fato que ajudou a impulsionar os atletas foi a repercussão causada por eles durante momentos dos Jogos Olímpicos. De modo geral, essa foi a tônica do perfis dos atletas brasileiros em Tóquio. A maioria deles viveu de lampejos de crescimento graças a conquistas de medalhas, entrevistas marcantes ou momentos específicos.

Maria Portela, brasileira que causou mobilização após luta polêmica no judô, ganhou milhares de seguidores em minutos após os torcedores se sensibilizarem com sua derrota e com sua declaração à TV.

Darlan Romani, na final do arremesso de peso masculino - Andrej ISAKOVIC / AFP - Andrej ISAKOVIC / AFP
Darlan Romani, na final do arremesso de peso masculino
Imagem: Andrej ISAKOVIC / AFP

Quem viveu isso também foi o arremessador de peso, Darlan Romani, que caiu nas graças dos brasileiros após desejar feliz aniversário para a esposa após garantir vaga na decisão em sua modalidade. Apelidado de "o último romântico", o atleta teve um grande volume de novos seguidores durante os dias que competiu.

Ganhos enormes e contínuos de influência foram exceções. A regra para os atletas foi um grande ganho de seguidores em um dia específico, normalmente o dia de sua competição. Depois, queda acentuada em novas seguidas.

Para comparação, apenas no dia da luta de Maria Portela, ela chegou ao número de 45 mil novos seguidores. De ontem para hoje, semanas após o ocorrido, o crescimento foi de 365 seguidores, comportamento bem diferente do observado em Rayssa Leal, por exemplo, que manteve uma média de centenas de milhares de seguidores vários dias após sua prata.

Medalhistas também passaram por isso. As tenistas Luisa Stefani e Laura Pigossi, que faturaram a primeira medalha olímpica do tênis brasileiros, tiveram um crescimento de dezenas de milhares de pessoas após a conquista do bronze. Depois, o crescimento voltou a ser dentro de uma média bem abaixo da observada anteriormente. No caso da dupla de tenistas, a queda foi de cerca de 96%.

Essa foi a primeira Olimpíada com o Instagram Stories como uma plataforma disseminada e do TikTok como a rede social que é. Com a evolução das redes sociais e, cada vez mais, as pessoas aprendendo a importância do diálogo com o público através da internet, resta saber quem serão os grandes "influencers" em Paris-2024.