Estafe de Rayssa pressiona para skatista levar a mãe para dormir na Vila
O estafe de Rayssa Leal trouxe a público uma discussão que vinha acontecendo nos bastidores: uma cobrança para que a mãe dela, Lilian Mendes, seja credenciada para entrar na Vila Olímpica de Paris e dormir com a skatista, que já conseguiu credenciar um irmão e um fisioterapeuta particular.
O Olhar Olímpico apurou que já está batido o martelo há tempos que o pedido não será atendido. A pressão a 10 dias dos Jogos não mudará isso. No máximo Rayssa pode conseguir que Tatiana Lobo, funcionária do COB dedicada ao skate e próxima a ela, durma com ela na Vila.
Lilian pôde acompanhar a filha nas Olimpíadas de Tóquio porque Rayssa, à época, tinha 13 anos. O Comitê Olímpico Internacional (COI) tem uma política de permitir que atletas de 14 anos ou menos possam levar um acompanhante, com uma credencial especial, de "chaperone". A partir do momento que o jovem vira adolescente, não precisa mais desse privilégio.
Agora, o estafe de Rayssa exige a mesma exceção, que não é permitida pelo COI, já que a skatista tem 16 anos. Lilian teria de ser nomeada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) como "oficial técnico", com a credencial Ao, a mesma das comissões técnicas de todas as modalidades. Na prática, ela tiraria o lugar de um técnico, médico, fisioterapeuta, etc. A coluna já noticiou como essa distribuição tem dado dor de cabeça.
No skate, a distribuição de credenciais já gerou ainda mais estresse, porque a CBSk tem uma comissão técnica, o COB (que geriu a modalidade por meses) tem profissionais que atendem à modalidade (incluindo Tatiana Lobo, que foi demitida pela CBSk e não se dá com os dirigentes da confederação), e cada atleta tem sua própria equipe. São muitos candidatos a poucas credenciais.
Rayssa, maior esperança de medalha para o Brasil, já conseguiu que uma das credenciais 'P' do skate, de treinadores pessoais, fosse para sua equipe, revezando entre Felipe Gustavo, irmão e que é seu treinador (não é o mesmo Felipe Gustavo skatista), e um fisioterapeuta particular — a equipe tem outros dois profissionais para cuidar do restante do time.
De todos os 12 skatistas que vão a Paris, só ela e Raicca Ventura, também de 16 anos, conseguiram incluir pessoas de suas equipes com a credencial 'P', que dá acesso a treinos. No caso de Raicca, o pai e treinador dela, Elber. Kelvin Hoefler, por exemplo, ganhou prata em Tóquio, assim como Rayssa, e não terá sua esposa e treinadora nos treinos. Pâmela Rosa, duas vezes campeã mundial, também não.
Mas os portadores dessa credencial 'P' não podem acessar a Vila e o estafe de Rayssa reclama que ela precisa de companhia para dormir. "É algo que a Rayssa quer muito. A Rayssa, no Pan, ligou da pista chorando, dizendo que queria que a mãe dela estivesse lá, porque a mãe dela não tinha acesso ao treino dela", disse a empresária Tatiana Braga ao podcast Maquinistas, da Máquina do Esporte.
"A gente não precisa de uma menina de 16 anos pedindo para a mãe estar ali. É um momento frágil, ali era só uma menina de 16 anos que sempre teve aquela pessoa do lado e tudo que ela queria é olhar", continuou Tatiana.
No Pan, Rayssa foi acompanhada de perto por uma funcionária do COB, Mariana Mello, que inclusive dormiu no quarto com ela e Raicca. O COB, pelo que apurou a coluna, queria exatamente testar esse modelo com Rayssa sozinha na Vila, e considera que a experiência foi muito bem-sucedida.
Desta vez, a CBSk chegou a pleitear junto ao COB que Lilian e o pai de Raicca recebessem a credencial plena, para terem acesso à Vila, o que foi vetado ainda no começo do ano. Agora, o pleito do estafe de Rayssa ressurge em declaração à imprensa, sem que o COB ou a CBSk tenham sido procurados de novo pelo estafe da skatista.
Lilian não tem viajado para diversas competições com Rayssa, que não poderia ficar fora da Vila Olímpica, porque isso dificultaria muito a logística de transporte (ela não conseguiria entrar na arena do skate chegando de taxi, por exemplo, só com o transporte que sai diretamente da vila).
Pessoas ouvidas pela coluna avaliaram que a declaração da empresária de Rayssa é ruim para a atleta, exposta como alguém que vai às Olimpíadas ainda dependente da mãe. O momento deveria ser de exaltar a garota, não colocá-la como alguém frágil.
Adolescentes viajando sozinhos para competições, sob supervisão de comissões técnicas, é algo recorrente no esporte. Nos Jogos da Juventude e nos Jogos Escolares, por exemplo, os garotos e garotas não levam as mães ou os pais para dormirem junto nos alojamentos. O mesmo acontece, de forma geral, em competições de base das mais variadas modalidades.
Procurado pela coluna, o COB não respondeu a tempo da publicação desta reportagem. Tão logo o faça, o texto será ampliado.
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