Paixão que começou na Vila Olímpica fortalece casal brasileiro em Paris

Três anos depois de um flerte que começou na Vila Olímpica dos Jogos de Tóquio, Ana Carolina Azevedo e Beatriz Ferreira estão de novo nas Olimpíadas. Agora, como um casal. Duas noivas que se inspiram e, apoiadas uma na outra, se fortalecem.

As duas já treinavam no mesmo centro esportivo da prefeitura de São Paulo, uma na estrutura do NAR, que tem pista e academia, e outra no CT do boxe, do ladinho. Mas, até então, só se davam oi e tchau.

"Eu conheci ela melhor na Vila Olímpica, mas jantando, todo mundo junto. Depois de Tóquio, nós duas tínhamos que se apresentar na Marinha, ela para o Mundial Militar e eu para me formar e virar terceiro sargento, e ficamos mais próximas, até que ela me chamou para um churrasco em Juiz de Fora (MG)", conta Ana Carolina, que vai a Paris para correr os 100m e os 200m.

"Era um churrasco para comemorar minha medalha, estávamos no Rio, é pertinho de Juiz de Fora, e lá a gente começou a se identificar em vários momentos, compartilhar coisas, e passou da amizade. Uma coisa foi juntando na outra, muito por falar a mesma lingua do esporte, ser apaixonada pelo esporte. A gente pensa muito em família, em coisas, deixar legados, fazer coisas para frente, continuar trabalhando o que a gente já faz. Deu match", explica Bia.

Foi a boxeadora quem pediu a velocista em namoro, ainda em 2021, aparecendo de surpresa na casa dela, mas o passo seguinte foi proposto por Ana, que pediu Bia em um casamento discreto que acontecerá depois das Olimpíadas.

A relação logo trouxe boas mudanças para a carreira de Ana. Ela morava na zona Leste de São Paulo e ficava, todo dia, 1h30 no transporte público até chegar ao local de treinamento delas, em Santo Amaro.

"Eu saia tipo 12h30 do treino, até chegar em casa era 15h. Eu já tinha perdido metade do meu dia. Foi ela quem insistiu que eu deveria morar mais perto. Agora está tudo bem mais fácil, o corpo descansa mais rápido", diz a corredora, que comprou um apartamento com a companheira em Santo Amaro, pertinho do CT.

Em casa, não tem aquela de deixar o esporte do lado de fora. Assim que chegam, as duas comentam sobre seus treinos, e trocam experiências. Ana ajudou Bia a fazer melhores treinos de impulsão, saltando mais alto para o topo da caixa. Mas não só.

"Tem muita coisa que eu aprendi para acrescentar no meu treinamento, alguns movimentos de corrida. Eles ensaiam muito os movimentos, que saem perfeito, e faz toda a diferença. A galera do boxe não tem tanto isso. A gente se prepara na parte técnica, que é bater, movimentar, mas essa preparação física de ensaiar os movimentos não é tanto o que a gente gosta. Tem algumas vantagens de salto, potência, é bem legal", detalha a boxeadora.

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Imagem: Arquivo pessoal

Já Bia auxilia diariamente a companheira na preparação mental, seu forte, além de ensinar Ana a golpear para se defender em caso de necessidade. "No boxe tem que ter uma cabeça muito firme, para aguentar três minutos em cima do ringue, apanhando. Eu comecei a trabalhar o psicológico junto com ela, a gente foi aprofundando o esporte uma na outra, e começou a colher uma da outra. Ela tem uma mente campeã o tempo todo, e me ensinou que a gente tem de entrar acreditando a todo instante. É importante você mostrar presença, confiança, isso começa a se espalhar pelo seu adversário. Eu era fria, e me desmotivava. Ela me ajudou muito nessa questão", conta.

Juntas, elas se fortalecem. "Ela me inspira todos os dias, a história dela, a força dela. Um atleta olímpico tem que ter uma rotina e não pode se chatear com aquela rotina. A gente fica saturada, mas ela deixa um pouco mais leve. Quando eu vejo que não tô legal ela tenta me agradar, e vice-versa", conta Bia.

Desde que começaram a namorar, Ana viu seus resultados melhorarem, a ponto de se classificar para duas provas em Paris e fazer, este ano, sua melhor marca da vida tanto nos 100m quanto nos 200m. Bia, por sua vez, ganhou o Mundial de 2023, o Pan, e este ano se tornou campeã mundial do boxe profissional.

Em Paris, fará sua despedida do boxe dito amador, olímpico, em busca da inédita medalha de ouro para as boxeadoras brasileiras. Ana quer estar presente neste momento final, que elas esperam seja na final olímpica, dia 6 de agosto, às 18h de Brasília. Mas antes há outras etapas, entre elas a semifinal, que pode ser contra a irlandesa Kellie Harrington, que a venceu na final olímpica de Tóquio.

Aí vem o conflito de agendas. Uma semifinal será às 12h38 do dia 3 de agosto e, outra, às 17h08, quatro horas e meia depois. No mesmo dia, a semifinal dos 100m está prevista para as 14h50. E quem sabe este nem seja o maior problema. A final de Bia (dia 6 às 18h) será muito perto da final dos 200m (dia 6, às 16h40). Ana quer estar lá.

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"O que eu estou fazendo em treino eu pretendo replicar nos Jogos Olímpicos também. Quero muito sair com minhas melhores marcas, quero estar dentro da final olímpica. Correr bem a eliminatória, fazer a semifinal mais forte. Vou estar muito bem, treinando muito bem, vai ser meu momento. Passei um ciclo todo treinando para correr 11s [nos 100m], para correr 22s [nos 200m], vou ter que chegar e fazer isso lá."

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