Cearense vai à Olimpíada por Portugal: 'Hoje sou mais tuga que brasileira'
O sangue é brasileiro, mas a Bandeira é de Portugal. Literalmente, e com o perdão do trocadilho. "Me identifico muito mais como tuga do que como brasileira, mas não pode falar mal do Brasil na minha frente", conta Eliana Bandeira.
Elaa é uma das três brasileiras a competirem por países estrangeiros na Olimpíada, todas por Portugal. Mas, diferente de Bárbara Timo e Rochele Nunes, do judô, mudou-se para o Velho Continente antes ainda de ter uma carreira consolidada no Brasil.
"Vim para Portugal quando completei 18 anos. O único título que tive no Brasil foi um vice-campeonato brasileiro sub15, ou sub20, alguma coisa assim", diz a portuguesa de 28 anos, prata no Brasileiro Júnior de 2015 no peso. Então atleta de heptatlo, resolveu apostar na nova prova.
Treinava em Fortaleza com apoio da Unifor e juntou dinheiro para passar três meses em Portugal. "Eu vim por conta própria, por aquela vontade de ter uma experiência como atleta, de treinar com outros atletas que eram olímpicos na altura, como o Nelson Évora", conta Eliana, que usa "na altura" como sinônimo de "na época", algo comum no português de Portugal.
Os europeus gostaram dela e a convidaram a ficar. Só depois é que outros brasileiros, esses ex-atletas de seleção, fizeram caminho semelhante, como João Victor Oliveira (o João da Barreira) e MIkael de Jesus. Todos defendem o Benfica em um país em que os grandes do futebol competem entre si em diversas modalidades olímpicas.
Enquanto isso, no Brasil, só o Pinheiros tem um trabalho longevo e outros clubes/entidades vêm e vão. Eliana nunca saberá o que teria sido a carreira dela se tivesse continuado no país.
"Será que eu tinha chegado a esse nível internacional, será que tinha chegado a esse nível como atleta se estivesse no Brasil? Não sei. Ao longo dos anos, fui percebendo que eu era muito bem assessorada aqui. Não tenho do que reclamar, o atletismo é minha profissão, tenho um clube que me apoia, o comitê olímpico que fornece estrutura. Mas meus colegas que ficaram no Brasil obviamente relatam dificuldade de se manter no esporte."
A comparação com Lívia Avancini mostra essa diferença. Também classificada à Olimpíada no peso, ainda que com marcas piores das de Eliana, Lívia dá aulas de personal trainer para viver em Londrina, no Paraná, e disse ao Olhar Olímpico que nunca foi 100% atleta aos 32 anos.
Eliana avalia que, a favor dela, está o fato de Portugal ficar na Europa, a uma distância curta de meetings em todo o continente, o que lhe permite estar constantemente competindo em alto nível.
"A queixa dos meus colegas, tipo o Wellington (Maranhão, também olímpico no peso) é que ele queria estar o tempo todo competindo comn outros atletas de ponta, na Europa, para ter esse ambiente competitivo. Mas infelizmente ele não consegue, e ele é um atleta de referência, que lança 21 metros, e tem toda essa dificuldade. Fico imaginando eu com 18m no Brasil", continua. Ela chega à Olimpíada como 30ª do mundo e, ele, o 27º.
A cearense teve um salto grande de desempenho da temporada passada para esta, depois que começou a treinar com o ucraniano Volodimir Zinchenco, marido de uma figura muito conhecida no Brasil, Valentina Feduschina, agente de quase todos os principais atletas do país.
"Eu vivia em Leiria e agora vivo em Lisboa, para treinar com ele. Até o fato de estar no centro nacional do país, o Jamor, te ajuda, porque aqui você tem melhores condições em todos os aspectos, que te ajudam a alavancar o resultado", explica.
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