Por que atletas russos vão usar bandeira neutra nas Olimpíadas 2024?
Júlia Flores
Colaboração para o UOL, em São Paulo
23/07/2024 04h00Atualizada em 23/07/2024 13h41
Em 2021, mais de 330 atletas russos estiveram em Tóquio para competir naquela edição dos Jogos Olímpicos. Três anos depois, em Paris, o número de participantes do país comandado por Vladimir Putin cairá drasticamente para apenas 16. Além disso, os atletas russos deverão usar "bandeira neutra" nos Jogos de Paris.
O que aconteceu
A decisão veio após uma série de polêmicas do governo de Moscou envolvendo denúncias de doping, espionagem, sanções internacionais e, também, a invasão à Ucrânia. Segundo Kit McConnell, diretor esportivo do Comitê Olímpico Internacional (COI), a instituição só tem o registro de 16 (atletas) com passaporte russo. Ano passado o comitê esperava um máximo de 55 russos, sendo 36 o cenário provável.
Os competidores foram convidados pelo próprio COI para participar do evento que acontecerá na França entre 26 de julho e 11 de agosto. Fora o fato de competirem sob bandeira neutra, os atletas não podem ter demonstrado apoio pelo conflito na Ucrânia e não devem ter vínculo algum com o Exército ou as forças de segurança.
O mesmo acontece com os competidores de Belarus, país que apoiou a Rússia na invasão à Ucrânia. De acordo com as últimas informações, 17 bielorrussos vão às Olimpíadas.
Desde 2018 atletas russos não podem competir com a bandeira de seu país. A represália foi motivada por escândalos de doping envolvendo a Rússia nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, em 2014.
Em 2021, inclusive, os russos medalhistas subiram ao pódio ao som de um fragmento de um concerto de Tchaikovsky sob a bandeira do Comitê Olímpico Nacional.
Como é a bandeira dos russos nas Olimpíadas de Paris?
Os atletas russos competirão com uma bandeira de cor especial no tom azul esverdeado com a sigla AIN, que significa Atletas Neutros Individuais, maneira como eles serão chamados no evento. Também foi designado um "hino" específico para tocar durante as cerimônias de premiações dos "atletas neutros", que não vão entrar em quadros de medalhas.
Os atletas russos foram excluídos da cerimônia de abertura dos Jogos de Paris 2024. Entre os 16 atletas russos que aceitaram o convite estão: tenistas, ginastas de trampolim, natação e canoagem. Apenas competidores de esportes individuais foram convidados.
A Rússia acusa o COI de "racismo e neonazismo", dizendo que os responsáveis estão destruindo a "ideia do espírito olímpico". Já para o comitê, a decisão unânime é considerada lógica. "Os atletas neutros individuais vão competir como indivíduos, a cerimônia de abertura é um desfile para delegações e times. Eles não estarão em nenhuma delegação", disse James MacLeod, diretor do COI para relações com os comitês olímpicos nacionais.
Nenhum governo ou funcionário estatal russo ou bielorrusso foi convidado ou credenciado para as Olimpíadas. Em 2023, o presidente Vladimir Putin se declarou a favor da participação dos atletas nos Jogos, mas defendeu que seria necessária uma avaliação mais aprofundada sobre o estatuto de "neutralidade".
Se as condições do COI são projetadas para isolar os melhores atletas russos e retratar nas Olimpíadas que o esporte russo está morrendo, então você precisa decidir se vai ou não participar Vladimir Putin
Como os atletas russos e bielorrussos serão recebidos em Paris?
O Comitê Olímpico da Ucrânia emitiu recomendações para os atletas que vão participar das competições. O governo sugere que competidores ucranianos não participem de conferências de imprensa com atletas russos e tampouco sejam fotografados com eles em cerimônias de medalhas - muitos ucranianos já evitam apertos de mão com adversários russo e bielorrussos.
Na opinião de Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, permitir que a Rússia participe dos Jogos é mostrar que "o terror é de alguma forma aceitável". Anne Hidalgo, a prefeita de Paris, declarou em março que os atletas russos e bielorrussos "não eram bem-vindos" nos Jogos.
Já o COI acredita que a decisão de permitir que os competidores participem é justa, pois não "pune atletas pelas ações de seu governo". Um relatório de uma agência de Direitos Humanos, contudo, revelou que mais de dois terços dos atletas russos que competirão nas Olimpíadas de Paris violaram as regras de neutralidade da guerra na Ucrânia.