Riachuelo ouve críticas, divide responsabilidade com COB e defende artesãs
Do Olhar Olímpico, em São Paulo
24/07/2024 13h14
O que era para ser um momento de visibilidade positiva para a marca da Riachuelo virou uma crise. Responsável pelos uniformes de viagem e da cerimônia de abertura do Time Brasil, a empresa vem sendo criticada, nas redes sociais e na imprensa, por conta das peças que serão usadas no desfile no Rio Sena, na sexta (26).
"A gente sempre fica triste, porque sabe o trabalho que deu, e o quanto foi colocado de amor, de paixão, todo mundo que se dedicou a esse projeto. Ninguém fez pensando em não agradar, ou pensando que não seria legal, muito pelo contrário. E por isso a gente está ouvindo, acolhendo", diz CMO (diretora de marketing) da Riachuelo, Cathyelle Schoreder.
A vestimenta é composta por uma calça ou saia branca, uma camiseta que pode ser verde ou amarela, em tons pasteis, e uma jaqueta jeans bordada por artesãs de Timbaúba dos Batistas (RN). A ideia era que as primeiras peças, básicas, não ofuscassem o brilho da peça principal, colorida, pesada, que mostra a fauna brasileira.
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"A gente pensou foi: como a gente conseguiria ter a maior parte de elementos numa peça só. A roupa básic bebe de mais do lado europeu, parisiense, minimalista, menos é mais. A gente até baixou o tom, o tom do amarelo não é estouradão porque a gente escolheu uma peça para contar a história. Por isso que a fauna e flora está na jaqueta, a principal matéria prima da história está na jaqueta, o trabalho das bordadeiras está na jaqueta. A gente queria uma peça que contasse a história e o resto do uniforme fosse uma alusão ao minimalismo".
O bordado principal, porém, fica nas costas. Quando o atleta/manequim é visto de frente, faltam elementos de brasilidade, tidos como necessários para um momento como a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos.
Ao lançar o uniforme, porém, a Riachuelo não teve a percepção de que a roupa seria criticada. Após dois anos de trabalho, a expectativa era outra. "O processo começou com o olhar internacional de pesquisa, então nasceu a discussão do new look da Dior como referência, as listras dos marinheiros, que inclusive estão na camiseta amarela e azul marinho do uniforme. E depois disso, também o olhar do Brasil, o que seria a representação de elementos do Brasil, o olhar de semiótica. E aí tem um time imenso envolvido nesses dois anos, tanto de COB quanto de Riachuelo", explica Cathyelle.
Ainda que a maior parte das críticas tenha sido direcionada à Riachuelo, toda a construção aconteceu junto do Comitê Olímpico do Brasil (COB). "Não é mais Riachuelo e menos COB ou mais COB e menos Riachuelo. É de fato uma co-construção e desde o início, desde quando nasce o briefing das vontades, dos desejos, e de todo o processo de validação, é tanto responsabilidade de COB quanto de Riachuelo. Toda essa bola sempre foi dividida. Tudo é feito em consenso."
Quando as críticas começaram a surgir, logo na divulgação do uniforme, já era tarde para voltar atrás. Desde então, a Riachuelo ampliou a equipe de monitoramento e destacou mais pessoas para responder às críticas. Ainda que seja uma loja que vende para milhões de brasileiros, a marca nunca tinha experimentado um volume tão grande de comentários.
Desde então, se apoia no que, segundo Cathyelle, sempre foi o planejamento: valorizar o trabalho das bordadeiras de Timbaúba dos Batistas, que bordaram a peça principal do uniforme, a jaqueta.
As duas líderes do grupo chegam nesta quarta (24) em Paris e serão recebidas na quinta (25) na Casa Brasil, onde serão homenageadas. Os planos feitos pela marca para promover elas e o trabalho delas não mudou.
"Quando a gente olha para esse projeto, tem um lado que nos deixa muito felizes e orgulhosos, que é o tamanho e a proporção da transformação que a gente gerou na vida das pessoas que a gente se propôs a ajudar. Desde que elas começaram a divulgar esse projeto, elas estão com trabalhos para fora, estão sendo procuradas. Quando a gente olha o tamanho do impacto que isso, isso é imenso. É um negócio que a gente tem muito orgulho de contar. Tem uma verdade por trás do que foi feito, que é isso. Tudo foi feito pensando nesse contexto."
Além dos uniformes da cerimônia de abertura, a Riachuelo também fornece as roupas de viagem da delegação, até a chegada à Vila Olímpica (a partir daí, as roupas são de Peak). E a marca brasileira foi criticada nas redes pela forma como essas vestimentas foram entregues aos atletas, em sacos bege de pano.
À reportagem, Cathyelle explicou que não a Riachuelo não participou deste processo. Coube ao COB a decisão de entregar as roupas no que o comitê chamou de "ecobags".