Handebol quebra jejum de 10 anos, abre sorriso e busca manter pés no chão

Há três anos, eu estive no jogo de handebol feminino entre Brasil e Espanha nas Olimpíadas de Tóquio. Lembro perfeitamente do clima de velório após a partida, quando praticamente todas as jogadoras da seleção passaram reto pela imprensa. O time, que até então vinha de uma vitória e um empate, se perdeu a partir dali e caiu ainda na primeira fase, com três derrotas seguidas.

Nesta quinta (25), o clima não poderia estar mais diferente ao fim do reencontro entre as duas rivais. Depois de longos 10 anos, o Brasil voltou a ganhar da Espanha, uma pedra no sapato, e começou as Olimpíadas de Paris com o moral nas alturas.

"É um jogo que estava engasgado há muitos anos", reconheceu a pivô Tamires, de 30 anos, uma das mais experientes do time. "É uma sensação de poder quebrar esse vudu, vamos dizer assim, que estava engasgado. É incrível, não tenho palavras para descrever a sensação de encerrar esse ciclo de derrotas contra elas", continuou.

Ainda que a lista de derrotas inclua também amistosos, o histórico dói porque tem revezes nas últimas duas edições das Olimpíadas e outras duas vitórias espanholas no Mundial do ano passado. Em todo o período em que tentou voltar ao auge após o título mundial de 2013, o Brasil só perdia.

Vencer a Espanha, em uma estreia olímpica, com um time renovado, sem nenhuma daquelas campeãs de 2013, é como mandar para longe uma nuvem que escondia o sol da seleção.

"Para falar a verdade, estava engasgado. A gente teve um técnico espanhol, aprendemos muito com ele, muitas de nós jogamos na Espanha. A gente sempre batia na trave, não ia. Hoje o time está de parabens, estava focado, a gente sabia o que queria", falou a ponta Adriana 'Doce'.

Há ainda uma relação muito próxima do handebol brasileiro com o espanhol. No Brasil, praticamente inexiste handebol profissional, então todas as melhores jogadoras vão para a Europa. A Espanha é quase sempre a porta de entrada, onde elas ralam ganhando pouco para dar um passo além.

"Nosso esporte é um esporte muito complicado. A gente tem nas escolas, é muito praticado, mas pouco valoizado. Todas estamos morando fora para chegar no nível das melhores do mundo, é muito trabalho. A renovação veio para mostrar que a gente tem condições de chegar e conquistar melhores resultados com a seleção. As coisas vão acontecendo aos poucos, e em quadra", disse Tamires.

A ótima vitória por 29 a 18, porém, não pode tirar o Brasil do foco, como as jogadoras sabem. No domingo pela manhã, 9h de Paris (4h de Brasília), já tem um novo jogo, contra a Hungria. Em Tóquio-2020, a seleção estreou empatando contra a forte Rússia, ganhou dessa mesma Hungria, mas depois não manteve o nível.

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Desta vez a história pode ser diferente. "Agora a gente tem que desfrutar. São duas horinhas para celebrar, extravasar, depois voltar de novo. O campeonato só começou", comentou Doce.

Além de Espanha e Hungria, o Brasil ainda joga, na primeira fase, contra Holanda, França e Angola. As donas da casa são, no entender da ponta Larissa Araújo, o único time um patamar acima.

"Tem que manter os pés no chão, a competição é muito forte, Olimpíadas não tem favorito, a não ser o time da casa. A gente conseguiu mostrar hoje que a gente pode brigar com as equipes mais fortes."

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