Lembra dele? Besuntado de Tonga agora é coach e vai a Paris ajudar atletas

Talvez você não conheça Pita Taufatofua pelo nome. Mas quem assistiu às últimas edições dos Jogos Olímpicos deve se lembrar do "Besuntado de Tonga" — o homem que carregava a bandeira de um país minúsculo da Oceania, sem camisa e com quatro litros de óleo espalhados pelo corpo.

Taufatofua ficou conhecido pelo visual exótico nas cerimônias de abertura, mas ele tem outro feito quase tão impressionante: disputou três jogos olímpicos em esportes diferentes. No Rio, em 2016, competiu no taekwondo; em PyeongChang, nos Jogos de Inverno de 2018, foi atleta do esqui cross-country; em Tóquio, em 2021, caiu nas eliminatórias da canoagem de velocidade.

Aos 40 anos, o australiano de nascimento tentou vaga para representar Tonga em Paris, tanto no taekwondo quanto na canoagem, mas falhou em ambos. Ele já havia se conformado em ver os Jogos no sofá de casa, mas um chamado de última hora mudou tudo.

Na capital francesa, o Besuntado dará lugar ao "coach" Taufatofua, especialista em bem-estar e saúde mental dos atletas.

"Vou para Paris com uma equipe chamada Suporte aos Atletas. O foco é na saúde mental e bem-estar. Estaremos lá para ajudar atletas de todos os países", explica Taufatofua, em entrevista ao UOL.

"As pessoas não sabem quanta pressão e críticas os atletas sofrem. Nossa ideia é ajudá-los a lidar com isso. Eu já vi atletas entrarem em parafuso durante uma competição, pensando que seriam agredidos ao chegar em seu país", acrescenta o porta-bandeira mais comentado dos últimos anos dos Jogos Olímpicos.

Pita Taufatofua foi o porta-bandeira de Tonga nos Jogos Olímpicos de 2016, 2018 e 2021
Pita Taufatofua foi o porta-bandeira de Tonga nos Jogos Olímpicos de 2016, 2018 e 2021 Imagem: Jamie Squire/Getty Images

Amor e pioneirismo

O dia 5 de agosto de 2016 mudou para sempre a vida de Pita Taufatofua. Quando saiu do túnel do Maracanã sem camisa, com o corpo coberto de óleo e carregando a bandeira de um país desconhecido de muita gente, ele gravava sua imagem na história dos Jogos.

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O "Besuntado de Tonga" foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais da época. Há quem não se lembre de nenhum outro dos mais de 200 porta-bandeiras que se apresentaram naquele dia no Rio.

"A Olimpíada do Rio sempre terá um lugar especial no meu coração. As pessoas, a cultura, as competições, e todo o amor que eu recebi. Eu vou me lembrar disso para sempre. Um dia que voltar ao Brasil para retribuir todo o amor que me deram", diz ao UOL. Sem falsa modéstia, Taufatofua se vê como uma espécie de pioneiro.

"Eu acho incrível ser conhecido como o Besuntado de Tonga. Adoro ver como agora os representantes de vários países começaram a usar as roupas tradicionais locais. Estamos vendo cada vez mais isso nos Jogos Olímpicos", afirma.

Pita Taufatofua, o Besuntado de Tonga, durante palestra no MIT
Pita Taufatofua, o Besuntado de Tonga, durante palestra no MIT Imagem: Arquivo Pessoal

Vestindo a camisa

O peitoral besuntado de óleo fez de Taufatofua uma figura emblemática dos Jogos Olímpicos, mas os esportes são apenas uma das atividades de uma vida movimentada — ele é formado em engenharia, tem compromissos como embaixador da Unicef e também é ativista em favor de medidas para conter as mudanças climáticas.

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Mas a principal fonte de renda de Taufatofua desde que se tornou famoso é outra: as palestras motivacionais. Ele já se apresentou para plateias como a do MIT Solve — organizado pela conceituada universidade norte-americana — e escreveu um livro de autoajuda.

A obra ("The Motivation Station: An Essential Guide to Becoming Your Greatest Version", sem tradução para o português) é uma espécie de guia e aborda temas como rotinas para manter a motivação em alta, saber lidar com a pressão, aumentar o foco, entre outros elementos que ajudam a "ser a melhor versão de você mesmo".

Em Paris, o ex-besuntado colocará seus conhecimentos e ensinamentos em prática, com uma roupa bem diferente. "Vou carregar outra bandeira, a da conscientização pelos cuidados com a saúde mental", explica.

Mas que ninguém pense que o visual com calça e camiseta será eterno. Num futuro não tão distante, o visual oleoso e sem camisa pode voltar. "Minha carreira precisava de uma pausa, então estou fazendo outras coisas. Por enquanto", conclui.

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