Limpeza social: Paris esconde moradores de rua durante Jogos Olímpicos
Paris vai se mostrar para o mundo enquanto esconde um de seus maiores problemas. Nesta sexta-feira, na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos, a capital francesa levará milhões de espectadores pelo Rio Sena, milhares pessoas em situação de rua foram retiradas da cidade.
A "limpeza social" tem sido denunciada pelo coletivo Le Reverse de la Médaille (O outro lado da medalha, em português), que reúne movimentos sociais para dar visibilidade à exclusão de moradores.
A maioria dos afetados é de imigrantes de origem africana, originários de alguns dos países mais pobres do mundo, como Sudão e Chade. De acordo com as denúncias, eles foram retirados de ruas e pontes da região de Paris e levados, contra a sua vontade, para abrigos em cidades como Lyon e Marselha.
Os registros de retiradas de moradores começaram no ano passado. Em um relatório publicado em sua página oficial, o coletivo detalha o perfil dos afetados: no período entre 1º de maio de 2023 e 30 de abril deste ano, 12.545 pessoas foram retiradas, sendo 3.434 menores de idade.
"Há um grande número de indicadores que sugerem que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos estão acelerando a dispersão e a remoção de pessoas em situação vulnerável", afirma o coletivo no documento.
As cifras já aumentaram: na semana passada, 470 pessoas foram retiradas do Canal de l`Ourcq, dias antes da passagem da tocha olímpica. Outro grupo foi retirado do canal de St Denis, na altura de Aubervilliers. Na quinta-feira, grupos de apoio aos excluídos olímpicos foram ao local.
Também na quinta-feira, a 24 horas da Cerimônia de Abertura, grupos organizados pelo Le Reverse de la Médaille reuniram-se na Place de la Révolution; além das reivindicações contra a retirada dos moradores, houve críticas às promessas não cumpridas pelo poder público e pela organização.
"Essas operações nada têm a ver com os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Essa limpeza social não existe", disse a ministra do Esporte da França, Amélie Oudéa-Castér ao ser perguntada sobre a situação em uma entrevista coletiva.
Em junho, o jornal L'Équipe teve acesso a um e-mail de um funcionário do governo, em que era recomendado "identificar pessoas em situação de rua nas proximidades de locais de competição olímpicos para removê-las".
Rio também passou por limpeza
Os Jogos Olímpicos de Paris não são pioneiros na limpeza social. Há relatos de dispositivos para excluir moradores "indesejados" desde Atlanta, em 1996.
Em agosto de 2016, durante a Olimpíada realizada na cidade, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro classificou ações do governo nos meses anteriores ao evento como "higienistas".
O modus operandi era parecido: retirada compulsória de moradores em situação de rua que estivesse à vista para atletas, turistas e torcedores em seus deslocamentos pela cidade.
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