'Meu trabalho alivia a pressão na cabeça dos velejadores', conta barqueiro
"Se você assiste um Grande Prêmio de Fórmula 1, você não vai ver o piloto trocar pneu e abastecer o próprio carro. É a mesma coisa na vela". É assim que Gérald Alvado define seu trabalho como barqueiro da seleção brasileira de vela. O francês está indo para sua quarta edição de Jogos Olímpicos para cuidar dos barcos do Brasil.
"Meu trabalho é deixar o barco nas melhores condições possíveis de performance para poder velejar nas Olimpíadas. A vela é um esporte mecânico. Às vezes, eu cuido do casco, aí vou fazer um polimento, retoques. Se tem, por exemplo, uma rachadura, faço ajuste com resina, um gel. Tento sempre me aproximar o máximo possível de como o barco foi feito para não modificá-lo e ter problema com as regras. Acho que isso alivia a pressão na cabeça do atleta e poupa algumas horas de trabalho", explica Gerald.
O profissional, que também é conhecido como Geraldinho entre os brasileiros da vela, explicou que não são todas as delegações que têm barqueiros para auxiliar os atletas a deixar o barco nas melhores condições possíveis. Nesses casos, o próprio atleta acaba fazendo todo o serviço de reparos.
"Alguns barcos precisam de muitas horas de trabalho. Então esses atletas já velejam muito, são muitas horas na água. Se eu ajudo a fazer esses ajustes, eles podem descansar. Se o atleta vai lixar o barco, por exemplo, são duas horas a mais por dia e aí, no final, ele vai ter um cansaço que a gente pode evitar. Acho que é um serviço muito importante, porque auxilia tanto na performance do barco como a do atleta", acrescentou.
Geraldinho começou a trabalhar com o Brasil em 2011, para um evento teste das Olimpíadas de Londres, que aconteceram no ano seguinte. Após os Jogos, o barqueiro continuou com a delegação brasileira em outras competições, como Mundiais. Anos depois, ele esteve com a equipe na Rio-2016 e também em Tóquio, em 2021.
Após tantos anos, Geraldinho não esconde que sua torcida na vela é pelo exclusivamente pelo Brasil: "Eu tenho maior carinho com esse país. Alguns atletas, eu já conheço há bastante tempo. Pela vela, que faz parte da minha profissão, com certeza eu vou torcer pelo Brasil. Isso 200%, sem dúvida nenhuma", disse.
A rotina olímpica
Durante os Jogos Olímpicos, Geraldinho sempre chega à sede antes dos atletas. Em Marselha, onde acontecerão as provas de vela de Paris-2024, ele chegou com 12 dias de antecedência. O trabalho é mais intenso antes de as regatas começarem. Depois, os barqueiros ficam de prontidão para qualquer tipo de reparo ou emergência.
"É muito trabalho logo no início, durante o período de preparação. Todas as coisas chegam ao mesmo tempo. Quando fica mais perto da competição, a carga baixa. Nesse momento, a gente fica só no aguardo. Pode ter que a gente tenha um polimento para fazer durante o day-off ou alguma coisa assim. A gente fica no aguardo só no caso que o barco bater em outro barco ou se acontecer um incidente", contou Geraldinho.
Um francês no Brasil
Geraldinho nasceu em Nice, na França, mas fala português perfeitamente. Ele morou no Brasil entre 2013 a 2018 e aprendeu a língua nacional sozinho.
"Morei no Brasil em vários períodos da minha vida. Foram quase seis anos a última vez que fiquei por lá. Eu já trabalhava com vela, na época. Fui aprendendo o português no dia a dia, sem fazer cursos e essas coisas", disse.