Recordista mundial escolheu tiro com arco porque não podia jogar futebol
Sentada sob uma tenda, com a cara besuntada de filtro solar cobrindo a pele branca do rosto, passando os dedos sobre as seis flechas que tinha nas mãos, Siheyon Lim parecia em um mundo habitado apenas por ela.
O resultado do ranqueamento do tiro com arco, nesta quinta-feira, em Paris, confirmou a impressão de quem via a sul-coreana, de 21 anos, no intervalo entre as rodadas de competição: ela estava, mesmo, em um mundo habitado apenas por ela.
Com 694 pontos em 720 possíveis, Lim bateu o recorde mundial de pontuação para uma rodada com 72 flechas, superando a compatriota Chaeyoung Kang, que havia feito 692 em 2019.
O recorde de Lim tem alguns fatores que o tornam ainda mais impressionante: alcançar uma marca como estas em Jogos Olímpicos é raro — o melhor desempenho na competição havia sido de 680 pontos, da também sul-coreana San An, em Tóquio.
O feito aumenta de proporção se considerarmos que a atleta é estreante em olimpíadas, e que seu primeiro torneio de alto nível com a seleção foi no ano passado. E pelo que ela mesma disse após a rodada de ranqueamento, o desempenho pode melhorar.
"Eu estava muito nervosa, porque é minha primeira participação nos Jogos Olímpicos. Tentei relaxar e aproveitar. Fiquei feliz pelo meu resultado, mas é só o começo: vou melhorar nas próximas fases", afirmou.
Plano B
A mulher que bateu o primeiro recorde mundial de Paris-2024 caiu no tiro com arco por acaso. Quando criança, Siheyon Lim só queria jogar futebol. Ela tentou entrar no time da escola, mas não havia uma equipe feminina.
Dentre as opções que sobraram, o tiro com arco era a melhor. "Era um esporte estruturado, com uma equipe forte e sem tanto risco de lesões", explica o jornalista sul-coreano Hong Seok Ahn ao UOL.
A decisão que mudou a vida de Lim aconteceu aos 10 anos de idade. Desde então, ela passou por equipes de tiro com arco em categorias juvenis até chegar à seleção adulta, na Copa do Mundo, no ano passado. Não saiu mais.
A técnica apurada da nova recordista mundial é fruto de uma receita que inclui foco — que a vê em ação entende bem o significado da palavra —, disciplina e repetição. São 8 horas de treino por dia, com uma média de 350 flechas diárias; nesta quinta, as atletas lançaram 72.
Estar perto de um fenômeno como a sul-coreana emociona até as adversárias. A brasileira Ana Luiza Caetano, 19ª colocada no ranqueamento, afirmou que gosta de rever as competições para tentar aprender detalhes da técnica da nova recordista.
"É difícil a gente conseguir observar nesse momento, durante a competição. Mas eu gosto de assistir às competições depois, e a gente sempre percebe um detalhe no tiro. A gente acaba aprendendo alguma coisa, é inevitável", afirmou.
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