'Mais rápida sem peitos': Raquel diz como contou sobre câncer a colegas

Nem um câncer de mama somado a um tumor raro no osso do peito tirou Raquel Kochhann, 31, atleta do time de rúgbi, das Olimpíadas. Escolhida para ser a porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura, amanhã (26, às 14h), ela revelou ao UOL como contou às companheiras sobre a doença e a luta para seguir jogando.

"A primeira reação de todo mundo foi abaixar a cabeça, ficou aquele clima pesado. Instantaneamente, eu falei: 'Não quero ver ninguém com cara de tristeza. Façam piada e se divirtam com esse momento'. A Isadora, um pouco tímida, foi levantando o olhar e soltou: "Certeza que você vai correr mais rápido sem os peitos". Aos poucos, todos caíram na risada. Esse era o clima que eu queria."

Raquel Kochhann, do rúgbi, será porta-bandeira do Brasil nas Olimpíadas de Paris-2024
Raquel Kochhann, do rúgbi, será porta-bandeira do Brasil nas Olimpíadas de Paris-2024 Imagem: Divulgação/COB

A descoberta da doença

Raquel recebeu a notícia do câncer de mama depois de uma lesão no ligamento no joelho, Desde o início, o foco era se curar e voltar a jogar o mais rápido possível.

Ela passou por uma mastectomia bilateral e decidiu não colocar silicone. Sua mãe também teve câncer de mama e sofreu com a rejeição das próteses. Ele não quis arriscar - mesmo após muita insistência médica.

"Eu me acho linda assim, adoro meu cabelo moicano, inclusive. Tenho meu próprio estilo, é uma mistura com estilo da roça. Não estou nem aí se as pessoas vão ficar me olhando. Eu gosto de me vestir assim, eu vou sair assim. Se tu não está confortável do meu lado, desculpa, cara", conta. Além da cirurgia, ela precisou de quase dois anos de quimioterapias.

Contudo, não abandonou os exercícios nesse período. Só tinha que seguir todas as instruções à risca. "Fizemos algumas adaptações. Me disciplinei ao máximo para facilitar todo o processo de tratamento: alimentação extremamente regrada, bochechos de bicarbonato, exercícios mais leves. Tudo o que os profissionais — tanto os médicos como toda equipe — recomendaram, eu segui", diz.

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E, claro, que a fadiga batia, às vezes. Mas ela respirava e retornava. "O que muitos relatam de fraqueza, tontura, indisposição. Não tive nada disso. Eu sentia mais fadiga do que antes, claro", conta.

Outro câncer, outro susto

Ela era um exemplo de comportamento, mas o medo apareceu quando soube que estava com um câncer raro no osso esterno, que fica localizado no peito, que vai da base do pescoço ao abdômen. Raquel tinha liberação para fazer tudo, com força total, menos esporte de impacto.

"Precisava ser liberada pelos ortopedistas para voltar a me arriscar no rúgbi, um esporte de alto contato, e muitos médicos ficaram receosos. Eu me aposentaria se realmente não tivesse mais jeito", disse. Um médico disse a ela que o câncer fragiliza os ossos e que ela poderia quebrá-lo no movimento mais delicado.

Descobri que a incidência de fraturas do esterno eram extremamente raras, é um osso muito forte, denso. Então, comecei a pesquisar maneiras de proteger a região do tórax e argumentei com o médico: 'Deixa eu tentar', Raquel Kochhann

Foi aí que sua criatividade a ajudou a voltar para o esporte. "Falei com a minha dentista e fizemos uma plaquinha do mesmo material do protetor bucal. Depois de pronta, partimos para os testes e adivinhem? Não sentia a pancada. Conversei com o João Paulo Pedroso, médico da seleção, e ele me liberou para o 'contato', desde que eu avisasse se sentisse qualquer dorzinha", diz. E funcionou.

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"Em dezembro, eu voltei a jogar com meu clube. Os médicos foram assistir. Foi incrível. Teve um momento que levei um tranco, caí no chão, ainda um pouco tensa, senti o meu corpo e percebi que estava tudo sob controle. 'Tô viva, vambora!'. A proteção realmente funcionava. Não senti nada", explica.

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