'Adotei o filho da minha irmã dependente química', conta judoca brasileira
Natasha Ferreira, 25, é uma das judocas que irá representar o Brasil nas Olimpíadas de Paris 2024. A paranaense foi convocada na categoria ligeiro feminina (48 kg) e faz parte da delegação do esporte que conta com 13 atletas. Contudo, o maior desafio de sua vida acontece fora dos tatames. Aos 18 anos ela adotou o filho de sua irmã, viciada em drogas.
"Sair do papel de tia e entrar no de mãe, com uma carreira no esporte pela frente, foi o maior desafio da minha vida. Maior até do que me classificar às Olimpíadas", diz. Na época, Enzo tinha apenas um ano e meio. Sua irmã, viciada desde a adolescência, não tinha mais condições de cuidar do bebê.
Ela ficou sóbria por um período, mas não durou muito. Voltou a usar drogas, de uma forma bem agressiva, e quem sofria era o Enzo. Esquecia-o na escola, colocava-o em contato com drogas, com os vários parceiros sexuais que ela tinha... Do jeito que estava, logo ele seria mandado para adoção ou para o Conselho Tutelar. Natasha Ferreira
A mãe de Natasha, que já tinha criado três filhos, não queria mais essa responsabilidade. "Eu era a madrinha, já tinha uma relação próxima, e não tive outra saída", diz.
Criando laços
O instinto materno não aconteceu de forma automática: foi preciso alguns meses para que ela e o filho criassem laços fortes. "Ele chorava muito, e eu não sabia como lidar direito com uma criança 24 horas por dia. Eu também chorava, porque na minha cabeça aquilo não era justo, sabe? Eu sempre me cuidei exatamente para não ter um filho", conta a judoca.
Enzo se adaptou mais rápido: bastaram três meses para ele começar a chamá-la de mãe. "Foram seis meses para eu realmente me colocar naquela posição de mãe. Isso não surge de um dia para o outro, é uma construção, cheia de dificuldades", diz.
Apesar dos desafios, ela não se arrepende de nada. "Daria minha vida pelo Enzo, mas não foi fácil", diz. Um de seus sonhos é que seu filho consiga ir para Paris, vê-la lutar ao vivo.
Na noite anterior aos campeonatos, a gente se fala por telefone, e ele gosta de acender uma velinha para pedir a Deus para dar tudo certo. Depois da competição, tem sempre foto dele torcendo por mim, me assistindo, e isso é minha maior inspiração, Natasha Ferreira
Natasha Ferreira sobe no tatame no sábado (27) para a competição olímpica.
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