Boxe cubano lembra o Brasil no futebol. E pode definir quem é rival dos EUA

O boxe masculino tem tudo para ser o fiel da balança numa rivalidade entre Brasil e Cuba para definir qual é o país com mais medalhas nos Jogos Olímpicos.

Pensar na concorrência entre os dois países nos Jogos Pan-americanos é coisa do passado. O posto de segundo colocado atrás dos imbatíveis Estados Unidos — privilégio cubano por décadas — já passou a ser do Brasil desde 2019, com mais medalhas em maior quantidade de esportes. Em 2015, o Brasil já havia ultrapassado Cuba, mas o segundo lugar foi do Canadá.

Quando se fala em Olimpíada, porém, ainda há disputa acirrada. O número de medalhas conquistadas é menor, e os cubanos ameaçam bastante. Em Tóquio, foram sete medalhas de ouro para cada um. No geral, o Brasil teve 21 medalhas e Cuba, 15.

A tensão fica por conta do boxe porque essa é justamente a modalidade que é o carro forte dos cubanos. Na última Olimpíada, entre os homens, eles ganharam quatro medalhas de ouro. O Brasil, uma.

Os dois dias de finais de boxe têm sido cruciais para o cenário final do quadro de medalhas. Na última Olimpíada, os cubanos ganharam quatro de ouro em sete categorias. O Brasil, uma.

Em Paris 2024, tudo pode ser diferente, a favor do Brasil. A começar pela igualdade no número de boxeadores classificados: cinco para cada lado.

Um grande passo, a partir da decadência cubana, que não terá equipe completa na edição atual - como tinha acontecido pela última vez em 2008. Os cubanos não têm representantes em duas categorias: 71 kg e acima de 92 kg.

Boxe de Cuba é a seleção brasileira de futebol?

De todo modo, o time é forte, com Julio César La Cruz (92 kg) e Arlen López (82 kg), atuais bicampeões olímpicos. Ainda estão Erislandy Alvarez (63,5 kg) e Saidel Horta (57 kg), vice-campeões mundiais, além de Alejandro Claro (51 kg), bronze mundial.

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Um time forte, mas que não assusta Mateus Alves, o treinador principal do Brasil:

Comparo Cuba atual com a seleção brasileira de futebol. Não é como antes, mas precisa ser respeitada. Os favoritos para o título geral são Cazaquistão e Uzbequistão. Cuba é favorita com La Cruz e López.

A análise em cada categoria

Cada um terá cinco boxeadores. E em quatro categorias diferentes, há cubanos e brasileiros. Mateus Alves fez uma análise do que pode acontecer nestes possíveis confrontos.

92 kg - Keno Marley x Julio César de La Cruz

"Sou sincero, o cubano é favorito, ganhou de Keno nas duas últimas finais panamericanas, em Lima e Santiago. A primeira vez foi justa, a segunda, bem contestável. Keno é fenomenal, muito técnico, já foi campeão olímpico da juventude, já foi medalhista de prata no último mundial, quando de la cruz ficou pelo caminho. Se vencer, não é uma grande surpresa".

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80 kg - Vanderlei Pereira x Arlen Lopes

"O favoritismo do cubano é maior, principalmente porque Vanderlei não é desta categoria, ele é 75 kg, que não é categoria olímpica. Ele subiu de peso e ganhou de todos os outros brasileiros, mas pode fazer diferença".

57 kg - Luiz "Bolinha" Oliveira x Saidel Horta

"O Horta é medalha de prata no mundial e o Bolinha está muito bem. É uma disputa muito parelha".

51 kg - Michael Trindade x Alejandro Claro

"O Michael não tem grandes resultados internacionais e Claro é bronze no Mundial, mas não é um grande boxeador. Não aponto favorito, não".

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Qual a meta brasileira?

A meta do Brasil é conseguir três medalhas, como foi em Tóquio há três anos. Seria um passo a mais na ascensão que pode ser contada em números.

"Desde Saint Louis, em 1908, quando o boxe se tornou olímpico, até 2009, o Brasil tinha um bronze olímpico de Servílio de Oliveira, em 1968, e outro bronze mundial, de Hamilton Cerqueira, nos anos 80. De lá pra cá, foram sete medalhas olímpicas e 16 mundiais", conta Mateus Alves.

Os fatores principais da ascensão são o sucesso na captação de atletas e a melhoria das condições de planejamento. A captação estadual é feita em projetos sociais, principalmente na periferia da Bahia.

"O boxe é rejeitado pelas elites, mas é muito forte culturalmente na Bahia. Muita gente pratica", conta Mateus.

Esse tipo de captação, em projetos sociais, serve para preencher a lacuna de grandes clubes com Minas e Sogipa, que não têm boxe.

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As confederações estaduais escolhem seus atletas e enviam suas seleções para os campeonatos nacionais. A partir dali - alojamento e alimentação - é por conta da Confederação Brasileira de Boxe, que convoca os atletas para as competições internacionais. E aí vem o segundo motivo da evolução.

"A partir de 2009, foi criada uma comissão técnica permanente. Todos os atletas selecionados são obrigados a morar em São Paulo e são submetidos a treinamentos específicos, com metodologia igual. A alimentação é acompanhada também. E, paralelamente, começaram a receber salário, através do Bolsa Atleta e também soldos do Exército e da Aeronáutica. Mesmo aqueles que não estão competindo", conta Mateus Alves.

E, se no masculino, o Brasil já pode fazer sombra ao boxe cubano, no feminino, a lavada é total. Cuba há apenas um ano liberou o boxe feminino e não classificou ninguém para os Jogos. O Brasil tem cinco lutadoras e Bia Ferreira, dos 60 kg, é a maior arma.

"Nosso time é muito compacto e experiente. Além da Bia, temos Bárbara dos Santos, Caroline Almeida, Jucielen Romeu e Tatiana Chagas, todas na faixa de 27 a 30 anos. Todas podem fazer um bom trabalho", diz Mateus, que não vê preconceito no boxe feminino:

"Isso é página virada para nós. Todo o trabalho é igual, desde a captação à premiação e aos treinamentos. Preconceito zero no boxe feminino".

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