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Libanês nº 275 do mundo levanta torcida em jogo improvável contra Alcaraz

Hady Habib, do Líbano, enfrentou Carlos Alcaraz na primeira rodada do tênis na Olimpíada de Paris Imagem: Clive Brunskill/Getty Images

Do UOL, em Paris

27/07/2024 13h03

"Hady! Hady! Hady!" gritava o público geralmente comportado do tênis antes de um saque importante de um libanês desconhecido que enfrentava a grande jovem estrela do esporte, Carlos Alcaraz, na primeira rodada dos Jogos Olímpicos de Paris. E ele faz um ace. Provavelmente nenhuma das 10 mil pessoas que se abarrotavam na segunda quadra de Roland Garros, com gente sem acesso lotando também as escadas tentando ver um pouquinho da partida, acreditavam que seria possível uma vitória de Hady Habib, número 275 do ranking mundial. Mas isso não importava.

"Não sei se vocês viram, mas eu dei um sorriso na primeira vez que gritaram meu nome", disse Habib ao UOL. "Fiquei emocionado. Jogar contra um grande cara, representando meu país, que é pequeno. Meus sonhos se tornaram realidade."

Defendendo as cores da Espanha pela primeira vez em Olimpíadas e trazendo uma legião de torcedores de seu país, cuja bandeira era, de longe, a que mais aparecia em Roland Garros, Alcaraz controlou o jogo e venceu por 2 sets a 0 (6/3 e 6/1). Talvez não tão fácil do que esperava.

"Ele falou comigo no final: 'seu nível é bom', o que me surpreendeu. Mas eu vou confiar na palavra dele", sorriu Habib, que tem como melhor resultado em sua temporada um vice-campeonato do challenger de Santos-SP.

"Entrei em pânico"

Não era nem para ele estar ali. O libanês foi um dos convidados para o torneio com base na regra que dá lugares a países menos representados. E jogaria apenas nas duplas ao lado do compatriota Benjamin Hassan. Ele recebeu esse convite apenas pouco mais de um mês antes dos Jogos.

Porém, com a desistência Hubert Hurkacz, que está se recuperando de uma lesão no joelho, Habib entrou na chave do torneio de simples por ser o primeiro suplente. No momento, ele sequer tem um treinador permanente. Nunca tinha pisado em Roland Garros. E no seu rosto estava estampado o cansaço de dias intensos.

A delegação libanesa chegou apenas na quarta-feira, então Habib nem teve tempo para treinar. "Só peguei minha credencial na quarta mesmo", disse ele ao UOL. "Soube ainda na terça que Hurkacz tinha desistido e entrei em pânico porque eu iria jogar no? que dia é hoje? Desculpe, estou completamente? na minha cabeça, eu pensava 'pode ser o Djokovic, o Alcaraz, o Rafa (Nadal)'. Eu fiquei chocado quando meu treinador disse que seria ele: 'é real, vou jogar contra o melhor jogador do mundo'."

Mesmo com o desafio, Habib não dispensou desfilar com a delegação de nove atletas do Líbano. "Fui na cerimônia de abertura, voltei 23h, ainda tinha que jantar. Mas consegui dormir bem mesmo nas camas de papelão que a gente tem. E hoje vivi meu sonho. A vida pode mudar em um instante, você tem que continuar seguindo seus sonhos porque nunca sabe o que é possível", disse o tenista de 25 anos.

"Trabalho sozinho e tenho orgulho de ter construído isso dessa maneira. Vocês me viram hoje. Eu estava com um tênis de uma marca, uma camiseta de outra. Tomara que agora eu consiga uma marca para me apoiar."

Depois de disputar também o torneio de duplas na Olimpíada, Habib volta a sua vida "normal". Vai disputar o Challenger de Bonn, na Alemanha. Mas ele espera que, pelo menos, não tenha que usar suas próprias roupas.

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