Por que skate feminino é dominado por meninas e o masculino, por adultos?

É fácil notar à primeira vista, e os números não mentem: o skate feminino nos Jogos Olímpicos é território de adolescentes, enquanto o masculino é uma disputa de adultos, alguns deles veteranos com mais anos de carreira do que suas colegas têm de idade.

Na disputa das finais do street, a diferença ficou bem clara: todas as competidoras do feminino, no domingo, tinham menos de 20 anos e apenas duas eram maiores de idade. Rayssa Leal, aos 16 anos, era a mais velha do pódio. Coco Yoshizawa, 14, levou o ouro, e Liz Akama, 15, a prata.

Na final masculina, disputada nesta segunda-feira, todos tinham MAIS de 20. O ouro foi para o japonês Yuto Horigome, de 25 anos, e os norte-americanos Jagger Eaton, 23, e Nyjah Houston, 29, completaram o pódio. O brasileiro Kelvin Hoefler, sexto colocado, tem 31 anos, mesma idade do eslovaco Richard Tury, o quinto.

Afinal, porque as idades mudam tanto entre homens e mulheres que dominam o skate? O início da resposta é que a demora para que houvesse competições de alto nível no feminino tem um impacto grande. "Os homens sempre andaram de skate, não precisaram quebrar barreiras como a gente", afirma Karen Jonz, tetracampeã mundial, que começou a carreira disputando competições contra homens.

A Street League, por exemplo, só passou a incluir competições femininas em seu programa na temporada 2019. Desde então, todas as etapas têm categorias masculina e feminina. A igualdade também demorou para chegar aos X-Games, principal competição de esportes radicais.

Sem competições de alto nível, grande parte da mulheres deixavam o esporte em algum momento. E os homens continuavam. "A geração que começou a treinar para as Olimpíadas já era de homens mais velhos. E a geração de mulheres que começou a treinar era mais jovem. Porque as meninas mais velhas já tinham parado de andar de skate", explica Karen Jonz.

Eu, por exemplo, tive que parar pra ter filho, porque não tinha patrocínio. Só quem conseguia andar eram as crianças, que não trabalham e são sustentadas pelos país.Karen Jonz

Kelvin Hoefler, durante a final do skate street masculino: aos 31 anos, ele não sabe se vai a Los Angeles-28
Kelvin Hoefler, durante a final do skate street masculino: aos 31 anos, ele não sabe se vai a Los Angeles-28 Imagem: Sina Schuldt/picture alliance via Getty Images

Quadro deve mudar

É verdade que nas duas Olimpíadas com skate — Tóquio e Paris — o cenário foi parecido. Mas a tendência é que, no futuro, a diferença de idade entre homens e mulheres diminua.

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Primeiro, porque o skate feminino já tem suas estrelas consolidadas: atletas como Rayssa Leal e Sky Brown, da outra modalidade do skate, o park, têm fila de marcas querendo patrociná-las. Em Los Angeles-2028, a brasileira terá 20 anos, mesma idade da inglesa.

Outro fator é que a geração "das antigas" do masculino começa a dar passagem aos mais jovens. Prata em Tóquio-2020 e sexto colocado em Paris, o brasileiro Kelvin Hoefler já disse que não deve ir aos Jogos de Los Angeles. "Estou cansado, isso desgasta muito. É difícil acompanhar essa nova geração", afirmou.

As eliminatórias do street masculino, nesta segunda-feira, mostraram que o futuro já começou: o japonês Ginwoo Onodera, de apenas 14 anos, não foi à final porque caiu em quatro das cinco manobras — ele foi sexto colocado no Mundial de Tóquio, em 2023. Ele é o medalhista mais jovem da história dos X-Games no skate street.

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