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'Sem ele, não tem jogo': conheça o guardião das raquetes de Bia Haddad

Hamilton Louis é o responsável pelas raquetes da Bia Haddad Imagem: Beatriz Cesarini/UOL

Do UOL, em São Paulo

30/07/2024 05h30

A técnica para a realização de luzes em um cabelo é cheia de detalhes: com uma espécie de pinça, o cabeleireiro vai capturando mecha por mecha para, então, tingir os fios com a cor ideal. Quando encontra-se um profissional que faz essa 'arte' como ninguém, é nele a quem se confiará o seu cabelo por muito tempo. É assim que Hamilton Louis explica a dimensão de seu ofício como encordoador de raquetes de tênis. Ele é responsável por cuidar da principal ferramenta de trabalho da Bia Haddad desde que ela se entende por gente.

Seu Hamilton trança as linhas e dá seu toque único em raquetes de tênis há 50 anos. O trabalho — que era totalmente manual — ganhou a ajuda de uma máquina recentemente, mas nunca deixará de ser artesanal e personalizado. É por isso que o paulistano de Bebedouro compara o seu ofício ao de profissionais de salões de beleza. Existem tenistas, por exemplo, que levam seus encordoadores pelas competições no mundo inteiro.

O encordoador é fundamental para o tênis. Sem ele, não tem jogo. Eu costumo dizer que a nossa profissão de encordoador é igual à do cabeleireiro. Você vai e gosta, então permanece ali até se sentir contrariado. Aqui é a mesma coisa. O cara vem e encordoa a raquete comigo. Se ele gostou, pode ter certeza que ele vai voltar sempre que precisar.
Hamilton Louis

"É muita gente que vem aqui com frequência. Tenho cliente que vem na loja duas a três vezes por semana. Dependendo da época do jogo de cada um. Tem outro que já vem a cada três meses. O importante da nossa profissão é isso, né? Tem que ter um carisma, tem que ter um carinho, você tem que lapidar o cliente também. Eu converso, ouço o que eles têm a dizer. Tem que deixar o cliente sentir a vontade. Nada de pressão. Ele que faz a pressão e não a gente", complementou Hamilton.

Cada raquete leva de 9 a 12 metros de linha, depende do tipo de material da corda e da calibragem que o tenista utiliza. Com essas informações na mão, Hamilton leva de 20 a 30 minutos para encordoar uma raquete. E o valor do serviço completo — com todos os apetrechos — vai de R$ 70 a R$ 500 justamente pela variedade dos fios.

"Os tenistas têm preferências pessoais. Quanto à calibragem, por exemplo, tem os que gostam de mais controle e os que querem bater mais. Se a raquete tem os fios bem esticados, mais tensos, você tem mais controle, solta menos a bola e, por isso, precisa fazer mais força. Por outro lado, quando a raquete tem menos libra, ela estilinga mais e dá velocidade maior, porém perde-se no controle", explicou Hamilton, que se descreve como 'um bom tenista na teoria': "Eu gosto de brincar, não sou praticante, mas conheço bem todas as regras".

Hamilton Louis é encordoador há 50 anos Imagem: Beatriz Cesarini/UOL

O início de tudo

Hamilton viajou de Bebedouro, no interior de São Paulo, à capital em busca de trabalho no início dos anos 70. Logo que chegou, passou a entregar jornais. Certo dia, quando estava andando pelo bairro de Moema, ele se deparou com uma loja chamada Procópio Sports e pediu um emprego. O paulistano conseguiu, rodou em alguns setores até que parou na seção de acabamento de raquetes.

"Naquela época, era tudo manual e quem levava as raquetes para encordoar lá eram Maria Esther Bueno, Thomaz Koch. Trabalhei lá por oito anos e, depois, fui para outra loja chamada Tênis Esporte. Os anos foram passando, eu fui pegando cada vez mais experiência em outros lugares até que decidi abrir meu próprio negócio em 93", contou Hamilton.

Foi encordoando raquete de muita gente em competições, lojas e eventos que Hamilton conheceu a família de Beatriz Haddad Maia, o maior nome do tênis brasileiro na atualidade. O primeiro contato foi com os avós de Bia, Arlete e Ramez, depois veio a mãe Lais e por assim vai.

"Por isso que eu digo em todas as entrevistas, com bastante orgulho, que eu conheço a Bia desde que ela estava dentro da barriga da mãe dela. São meus amigos. Tenho a seriedade para falar. Encordoava as raquetes dela desde quando começou. Hoje em dia, ela vem aqui. Quando ela está no Brasil, frequenta a minha loja e traz as raquetes. Recentemente, ela me trouxe um boné de Wimbledon e eu não estou usando, porque eu vou colocá-lo numa caixa de acrílico e deixar como lembrança da amizade. Independente dos resultados. O importante é a amizade", destacou Hamilton, que sabe a libragem das raquetes de Bia de cabeça.

"Ela usa de 50 libras normalmente, às vezes também pede 51, 53. Depende do local que vai jogar, da pressão do ar, entende? Até o país que a Bia vai jogar influencia", explicou.

Uma vida graças às cordas e raquetes

Seu Hamilton construiu tudo o que tem graças ao trabalho como encordoador. Ele tem duas lojas voltadas ao mundo do tênis em bairros tradicionais da cidade de São Paulo.

"Eu cheguei do interior e foi uma coincidência eu ir para Moema naquele dia em que consegui o emprego na Procópio. Nem sabia que existia raquete na vida. Mas eu comecei no encordoamento e fiquei nisso. Fui aprendendo e me aprimorando cada vez mais. Tudo que eu tenho é formado com dinheiro de encordoamento, trabalhando. Tenho duas meninas e um menino, todos estudaram... Meu filho de 24 anos se formou em engenharia, mas preferiu trabalhar como encordoador. Ele toma conta da outra loja", disse.

Após tantos anos de trabalho, Hamilton já deixou de ir em suas lojas aos sábados e passou a responsabilidade para o filho. Ele até pensa em se aposentar de vez, mas ainda quer encordoar muitas raquetes dos seus tenistas.

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