Adversário dos EUA, Sudão do Sul forja time de basquete na guerra e na NBA

Fundado há apenas 13 anos, destruído por uma guerra civil e um dos países mais pobres do mundo, e dono de um time de basquete capaz de enfrentar os EUA com todas as suas estrelas. Essa é a história surpreendente do Sudão Sul até chegar às Olimpíadas de Paris-2024.

Nesta quarta-feira, os sudaneses terão um jogo contra os EUA, pela primeira fase dos Jogos. Enfrentaram os poderosos rivais na preparação olímpica e perderampor um ponto, na última bola de Lebron James.

Detalhe: o sudaneses chegam já com uma vitória, diante de Porto Rico, e com reais chances de classificação às quartas-de-final.

Mas qual a história por trás de um time com tal história?

Assoladoapor guerras civis, a região do Sudão Sul promoveu uma diáspora de seus habitantes. Os conflitos levavam famílias para campos de refugiados e depois para a migração, principalmente para os EUA e para a Austrália.

O pivô Nuni Omot nasceu em um campo de refugiados no Quênia, local para onde fugiu a pé de outra guerra na Etiópia. Perdeu parentes. Conseguiu imigrar para os EUA, posteriormente, onde iniciou uma carreira universitária e depois de jogador.

Outro com história dramática é Peter Jok. Seu pai morreu como general do exército de liberação do Sudão, o avô faleceu como líder tribal, ambos abatidos pela guerra. O jogador teve melhor sorte e imigrou para os EUA.

Há outros cujas famílias saíram do país antes e eles já nasceram nos EUA ou na Austrália. Tanto que o país da Oceania meio que disputa jogadores para o time de basquete.

Nos EUA, boa parte do time teve carreira no basquete universitária e foi para times de ligas menores no país ou atingiu a NBA, como é o caso de Weney Gabriel (jogou com Lebron no Lakers) e Carlik Jones (passagens por Denver e Chicago).

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Além da NBA, há jogadores do Sudão do Sul espalhados por ligas na Europa, em campeonatos menores nos EUA

Mas, na realidade, a maior marca da NBA neste time sudanês é o seu "idealizador". Presidente da federação sudanesa, desde 2019, Luol Deng teve uma carreira consistente na liga americana. Isso lhe deu condições de fazer clínicas de basquete no país e, posteriormente bancar o time.

"Eu quero ajudar o crescimento do jogo, mas eu quero que o basquete seja uma mudança de narrativa da história do Sudão do Sul, mas também que traga comunidades junto e que todos tenham uma história inspiradora", contou ele à ESPN em entrevista recente.

Instalou como seu técnico outro ex-jogador com histórico na NBA: Royal Ivey. Ele também atuou como assistente em times como o New York Knicks. Assumiu o Sudão do Sul apenas em 2021. E conseguiu a classificação às Olimpíadas no primeiro ciclo, basicamente com os custos pagos por Luol Deng.

Ivey tem uma ligação com Kevin Durant, ala-pivô que é uma das maiores referências do time americano e da NBA. Tanto que, em sua entrevista coletiva, a estrela Durant disse que torcida em segredo pelo time africano.

"É meu irmão. Teve um impacto na minha vida de uma forma. Onde eles levaram esse time de Sudão é bom de ver. Secretamente, estou torcendo por ele. Com exceção de quando enfrentarem a gente", afirmou Durant.

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Por conta do sorteio olímpico, as histórias de Durant e Ivey vão se cruzar, assim como a trajetória da mais improvável equipe com a formação estrelada da NBA. O favoritismo norte-americano é gigantesco. Mas os sudaneses estão acostumados a lidar com chances reduzidas de sucesso desde o nascimento.

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