Por que a arbitragem e VAR do judô são tão controversos quanto no futebol

Revolta e piti no tatame, decisões que não ficam claras nem para os envolvidos, intervenção do VAR. Não, não é a arbitragem do futebol brasileiro, é o judô nas Olimpíada de Paris.

A modalidade tem sido marcada por decisões controversas dos árbitros. Há motivos para isso: a extrema complexidades das regras e de suas interpretações, além de constantes mudanças.

Por exemplo: Rafaela Silva foi eliminada em sua luta contra a japonesa Haruka Funabuko por usar a cabeça em um golpe, técnica proibida desde de 2023 para proteger os atletas.

Rafael Macedo perdeu sua luta do bronze por dar um golpe em que as pernas enlaçaram a cabeça do oponente Maxime-Gael Ngayap. Por uma hora sequer se soube qual o motivo: a explicação era um golpe de pernas em volta da cabeça sem braço do oponente que gera punição.

Os dois aceitaram bem as decisões contrárias. Mas o japonês Ryuju Nagayama e o sérvio Nemanja Majdov se revoltaram no tatame e questionaram muito os árbitros. Majdov disse que nunca voltaria mais a lutar desse jeito.

A questão é que a aplicação das regras do judô é bastante interpretativa. O livro de regras e instruções da Federação Internacional de Judô tem 85 páginas com orientações sobre posições e golpes permitidos.

Há foto e vídeos, mas uma leva diferença na posição da queda da um judoca, de lado ou ou mais virado para frente, caracteriza ou não um golpe Waza-ari. As técnicas proibidas também estão em constante mudança.

O livro de regras da IJF, por exemplo, diz que o golpe de Rafael Macedo só gerava paralisação da luta. Mas uma versão mais atualizada determinava punição.

As técnicas de golpe são 100 no total, e há diversas descrições de outros movimentos não permitidos. Podem ser punidos com um Shido - somadas três penas determinam a perda da luta do atleta - ou com a desqualificação direta.

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Além do grande número de regras, há na prática três árbitros para interpreta-las. O primeiro é o que fica no tatame. Mas há dois que estão na frente do vídeo e podem anular uma pontuação imediatamente sem nem consultar o do tatame. Foi assim com Daniel Cargnin, que teve um Ippon anulado rápido.

Outra possibilidade é o VAR demorar mais um pouco e revisar o lance posteriormente, como ocorreu com Rafaela e Rafael Macedo. Aí o árbitro do tatame faz o sinal do árbitro de vídeo para indicar a mudança de decisão. E faz um final para mostrar o motivo.

Além dos atletas eventualmente prejudicados, outros judocas têm reclamado de regras por terem piorado o judô. Há um excesso de lutas decididas por punições técnicas. Ao mesmo tempo, essas penas são necessárias no caso de ?falta de combatividade? e ?judô negativo? porque há atletas que tentam amarrar as lutas.

Apesar das revoltas do sérvio e do japonês, é preciso que se diga que no judô as decisões mesmo polêmicas dos árbitros são bem melhor digeridas do que no futebol. Os pitis e questionamentos são bem mais raros, e é quase impossível ver uma peitada.

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