Taitianos lutaram contra projeto da Olimpíada e 'salvaram' onda de Teahupoo
Guilherme Dorini
Colaboração para o UOL, em Londres
01/08/2024 05h30
As imagens do surfe nas Olimpíadas rodaram o mundo nesta semana graças à histórica foto de Gabriel Medina. Antes daquele momento, porém, discussões acaloradas entre o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos, moradores locais do Taiti e ambientalistas ameaçaram a realização dos Jogos por lá.
Início do problema
Em setembro de 2023, o Comitê Organizador anunciou planos para erguer uma torre de alumínio no meio do oceano, próxima de onde quebra a famosa onda de Teahupoo. A ideia era substituir a tradicional torre de madeira utilizada há mais de duas décadas nos eventos da World Surf League (WSL).
A nova estrutura foi orçada em R$ 25 milhões e teria três andares, ar-condicionado, banheiros e espaço para 40 pessoas. Seria usada pelos juízes para avaliar as manobras dos atletas durante as disputas.
Reação dos taitianos e ambientalistas
A proposta encontrou resistência imediata. Moradores, surfistas e grupos de proteção ambiental levantaram preocupações sobre os possíveis danos, já que a construção teria de ser feita no meio dos recifes de corais, essenciais para a formação da onda de Teahupoo e que abrigam uma biodiversidade rica.
Protestos pacíficos e campanhas nas redes sociais, lideradas pelo surfista local Matahi Drollet, ganharam força rapidamente. Uma petição online contra a nova torre alcançou mais de 250 mil assinaturas. O principal vídeo de protesto de Drollet foi reproduzido 11 milhões de vezes.
Os organizadores, por outro lado, alegavam que a torre de madeira estava enfraquecida pela erosão e precisava ser substituída para garantir a segurança dos juízes e a viabilidade de futuros eventos esportivos em Teahupoo.
Ajustes e acidente
Em resposta à pressão pública, os organizadores aceitaram uma torre menor e mais leve, que exigiria fundações menos profundas e teria menor impacto ambiental.
No entanto, em dezembro de 2023, uma embarcação usada na construção danificou os corais, reacendendo as discussões - veja o vídeo abaixo.
Embate de entidades
Mesmo com o incidente, a ministra dos Esportes da França, Amelie Oudea-Castera, afirmou que a competição de surfe não seria transferida de Teahupoo, uma das reivindicações dos locais.
A oposição não diminuiu e até a Associação Internacional de Surfe (ISA) se posicionou contra a nova torre. Em meio a esses conflitos, os organizadores iniciaram reuniões públicas mensais para abordar as preocupações da comunidade e envolver os residentes em cada etapa do processo.
E o como terminou?
Finalmente, em abril de 2024, foi inaugurada a nova estrutura: uma torre com espaço para 25 a 30 pessoas, do mesmo tamanho da torre de madeira (150 metros quadrados), com peso reduzido, banheiros secos e uma solução temporária para conexões em fibra ótica e energia elétrica.
Além disso, a torre foi projetada para ser desmontada após os eventos, minimizando o impacto ambiental e, assim, 'salvando' a onda, proporcionando imagens como a de Medina, que ficarão marcadas para sempre na história dos Jogos Olímpicos.