Como fui parar no meio dos técnicos britânicos na eliminação do Brasil

Tinha fila para entrar nos dois acessos da quadra 6 de Roland Garros, uma daquelas menores, sem aquela cara de estádio da Philippe Chatrier. Os brasileiros já estavam cantando e eram maioria, como aconteceu toda vez que teve brasileiro competindo no tênis nestas Olimpíadas, mas desta vez havia um contingente considerável de britânicos. Era o jogo da dupla brasileira Bia Haddad e Luisa Stefani contra Heather Watson e Katie Boutler pela segunda rodada.

Mostro a credencial de jornalista e os membros da organização que estão ajudando a controlar o acesso da quadra indicam para eu passar e me acompanham até a primeira fileira. Eu, a mureta, e as brasileiras já no aquecimento. Nada de anormal conseguir ficar bem perto em uma quadra menor. Só que eu olho para a direita e percebo que me colocaram para sentar junto com a comissão técnica das britânicas. Não dá para culpar os organizadores: eu que fui para o jogo do Brasil contra a Grã-Bretanha vestida de vermelho.

Não seria a primeira experiência dessas. No dia anterior, a organização me indicou um caminho dentro da segunda maior quadra do complexo de Roland Garros que não levava às tribunas de imprensa. Como tênis é tênis e você não pode ficar se movimentando durante o jogo, a cada fim de game eu tentava encontrar o caminho até a tribuna, sem muito sucesso. Quando percebo, estou agachada em um pequeno corredor sem saber para onde ir exatamente atrás da comissão técnica da Eslováquia, quando Anna Schmiedlova surpreende e bate a italiana Jasmine Paolini.

Voltando ao "banco" britânico, era interessante como os treinadores interferiam pouco. O tênis é um esporte em que o psicológico é fundamental, então, nos momentos em que Bia e Luisa chegaram perto de quebrar o saque das britânicas, elas ouviam um ou outro "vamos lá!". No máximo, em um momento no qual a juíza desceu para conferir se uma bola tinha sido dentro ou não, Katie Boutler olhou para a comissão técnica e disse "impossível que tenha sido fora essa bola", o que contrariava a decisão da árbitra, mas só ouviu para jogar o próximo ponto.

Nos jogos de duplas, há mais comunicação entre as jogadoras em quadra do que com os treinadores. E a dinâmica é interessante. Nos momentos difíceis, uma incentiva a outra, mesmo sentindo que as coisas não estão se encaixando.

Em determinado momento, já no segundo set, depois de perder o primeiro, a dupla brasileira abriu 0-40 e tinha a chance de quebrar o saque das adversárias. Uma paralela de Bia Haddad vai para fora, as brasileiras se cumprimentam e dão palavras de incentivo uma para a outra, Luisa vira e repete "merda, merda, merda" porque sabe que as britânicas estavam encaixando melhor seu jogo e poderiam usar aquele momento para retomar o controle. E é o que acontece. No torneio de simples, é normal ver os jogadores se xingando pela frustração de um ponto perdido. No jogo de duplas, a frustração é a mesma, ambas sabem disso, mas é melhor guardar para si.

A torcida segue cantando variações de músicas com o nome do Brasil, abafando os gritos para o "team GB", até que um canto em particular chama a atenção da comissão técnica. "Eu acredito", gritam os torcedores brasileiros quando as britânicas têm a primeira chance de fechar o jogo. "O que eles estão dizendo?", pergunta um dos técnicos a brasileiros - estes, de verde e amarelo - que estão logo atrás da comissão técnica, enquanto eu continuei lá "infiltrada" sem que eles percebam.

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