Mexicana diz que enfrentar boxeadora argelina é 'pior que lutar com homens'
A boxeadora mexicana Brianda Tamara Sandoval disse no ano passado que sofreu mais enfrentando Imane Khelif do que em sparrings contra homens. A questão sobre o gênero da atleta argelina, que é mulher e cumpriu com os requisitos do COI, voltou à tona diante de sua estreia no boxe feminino nas Olimpíadas de Paris.
O que aconteceu
Brianda relatou que ficou mais machucada com golpes da adversária do que levando socos de homens em treinos. Ela escreveu nas redes sociais, em março do ano passado, que nunca havia se sentido "tão fora de alcance" antes em toda sua carreira como boxeadora.
A mexicana fez a publicação após Khelif ser desclassificada do Mundial da IBA por falhar no teste de gênero. A atleta de 25 anos foi desclassificada pela IBA (Associação Internacional de Boxe) por não atender aos critérios de saúde de elegibilidade — a IBA não é regulamentada pelo COI.
O COI afirma que todas as atletas que disputam os Jogos de Paris cumprem os regulamentos de elegibilidade. A entidade ressaltou que todas apresentam as condições médicas aplicáveis de acordo com as regras da Unidade de Boxe de Paris, que regulamenta a competição. No site oficial das Olimpíadas, Khelif consta como atleta mulher.
Quando lutei com ela me senti muito fora do meu alcance, seus golpes me machucaram muito. Acho que nunca havia me sentido assim nos meus 13 anos como boxeadora, nem nos meus sparrings com homens. Graças a Deus naquele dia saí do ringue em segurança, e que bom que eles finalmente perceberam. Brianda Tamara, via X
As duas se enfrentaram na final do Golden Belt Series de 2022, em Guadalaraja, e a argelina conquistou o ouro. A luta durou três rounds e acabou faltando cerca de 40s para o fim, com a mexicana sofrendo contra a adversária. O campeonato era organizado pela IBA
Brianda também publicou fotos de seus machucados no rosto. A mexicana já disputou os Jogos Olímpicos de Tóquio, mas perdeu em sua estreia.
Polêmica nas Olimpíadas
Khelif foi reprovada em teste de gênero no Mundial feminino de boxe no ano passado. A atleta de 25 anos foi desclassificada pela IBA (Associação Internacional de Boxe) por não atender aos critérios de saúde de elegibilidade — a IBA não é regulamentada pelo COI.
A luta de Khelif contra Angela Carini virou polêmica na Itália antes mesmo de começar. Na véspera do duelo, a ministra italiana Eugenia Roccella deu declarações preconceituosas e acusou Khelif de ser "um homem que se identifica como mulher". No entanto, não há confirmação que ela seja uma atleta trans. Pessoas intergênero podem apresentar altas taxas de testosterona.
A italiana desistiu com apenas 46 segundos de sua luta contra Khelif nas oitavas de final do boxe feminino até 66kg nas Olimpíadas de Paris. Ela desistiu logo depois de ter levado um soco da adversária no nariz. O relógio ainda marcava 2min14s restantes no primeiro assalto.
Carini se recusou a cumprimentar a adversária após o anúncio do resultado e foi às lágrimas. Ela fugiu da tentativa de aproximação da rival e caiu de joelhos no ringue. Após sofrer um primeiro golpe no rosto, segundos antes, Carini já havia dito: "Não é justo, dói muito". Segundo o jornal italiano Corriere Della Sera, o técnico Emanuele Renzini teria pedido para ela pelo menos terminar o primeiro round. O combate foi retomado, mas somente por mais dez segundos, até a desistência.
Após a luta, o treinador de Carini disse que a italiana estava com dor de dente, tomando antibióticos, e que desistiu após sentir dor no nariz. O técnico acrescentou na sequência, de acordo com o Della Sera, que a "máquina das redes sociais" tinha entrado em ação, citando que a questão dos hormônios da adversária é controversa.
Carini eximiu Khelif de culpa na entrevista e pediu desculpa à adversária. A italiana confirmou que disse "não é justo" durante o combate, mas ressaltou que não cabe a ela julgar a argelina e se desculpou por não tê-la cumprimentado após a desistência.
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Quero receberURGENTE - Angela Carini abandona a luta contra uma mulher trans nas olimpíadas de Paris!
-- SPACE LIBERDADE ? (@NewsLiberdade) August 1, 202
Ela foi admitida na competição pelo comitê olímpico! pic.twitter.com/WFtehOfibD
IBA se manifesta
A entidade internacional de boxe se pronunciou na última quarta (31) sobre a desclassificação de Khelif. A IBA afirmou que a argelina não foi submetida a um teste de testosterona, mas sim a um exame separado e reconhecido, cujas especificidades permanecem confidenciais. Tal teste indicou que Khelif não atingiu os critérios necessários e que teria vantagens contra outras mulheres.
Segundo a entidade, Khelif inicialmente apelou da decisão ao CAS, mas depois retirou. A IBA também manifestou sua "preocupação com a aplicação inconsistente de elegibilidade" de outras organizações, mencionando o COI e as Olimpíadas. Por fim, a associação levantou questionamento sobre a "justiça competitiva e a segurança das atletas".
Além de Khelif, a taiwanesa Lin Yu-ting é outra boxeadora que foi reprovada em teste da IBA. Ela também foi aprovada pelo COI e estreia nas Olimpíadas de Paris em 2 de agosto, pela categoria até 57kg, contra a Uzbeque Sitora Turdibekova.
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