'Perdi muito tempo tentando jogar futebol', reflete medalhista da marcha

O marchador Caio Bonfim conquistou a prata em sua quarta olimpíada, um feito único entre os brasileiros, mas começou tarde no esporte, aos 16 anos. O motivo? A insistência em tentar virar jogador de futebol.

"Joguei futebol desde a infância, tentei ser jogador e acabei perdendo muito tempo com isso", contou o vascaíno roxo em entrevista coletiva acompanhada pelo UOL em Paris. "Me falaram que eu jogava bem, acabei acreditando e perdi muito tempo. Para quem nasceu no lado de marchador, o futebol me atrapalhou muito. Acabou que o Vasco me atrapalhou um pouquinho."

Caio estava acompanhado de sua mãe e treinadora, Gianette Bonfim, ex-atleta da marcha. Ela contou de seu alívio quando o filho desistiu do futebol. Até porque tinha percebido que não tinha perfil para ajudar o Caio a treinar entre os titulares no clube onde ele jogava, o Brasiliense.

"Eu estava lá com ele, era jogo, era treino, às vezes eu treinava de madrugada para acompanhar ele em jogos. Ele foi crescendo, e eu via aquela coisa do futebol que eu não gostava, principalmente na base: se você é o papai que termina o jogo e vai lá para o bar beber cerveja com o treinador e a comissão técnica, seu filho vai jogar no próximo jogo, e eu não podia fazer isso, não me sentia bem, primeiro que eu não bebo, segundo, não ficaria bem uma mulher numa roda de um monte de homem bebendo. Aí eu falava, 'filho, então não vai ser titular? Não, porque não vai dar para eu fazer essas coisas."
Gianette sabia também que o filho não tinha o mesmo porte físico dos outros garotos, era mais magro, não era alto, e talvez não tivesse o perfil de atuar em um esporte coletivo. E foi assim que a mãe foi convencendo o filho a seguir sua carreira, e também a do pai de Caio, como marchadores. "Você tem que jogar de acordo com esse esquema, você tem que ter um porte físico que ele goste, e atletismo não, atletismo é você e você, pode não gostar da sua cara, mas se você fez a marca, vão ter que te aguentar, e essa era uma liberdade. A gente estava cantando para ele fazer atletismo. E ele foi se aborrecendo, falava que enganaram ele."

Mesmo assim, Gianette contou que ofereceu ao filho largar tudo para sair viajando pelo Brasil fazendo peneiras até que ele conseguisse vaga em algum clube grande. Eles se inspiravam em Cafu, que foi dispensado por vários clubes e que também jogava na lateral, como Caio. "Mas um belo dia ele chegou em casa e falou: 'hoje foi meu último dia, decidi, vou fazer marcha atlética'. Não vai ficar milionário, porque ninguém fica milionário fazendo marcha atlética, mas a gente está trabalhando junto com o que a gente sabe e com o que a gente gosta, então essa é a parte de liberdade dele de escolher. No final, deu certo, estamos aí, medalhistas olímpicos."

Caio Bonfim ainda vai competir em maratona diferente da marcha

O medalhista de prata vai voltar às ruas de Paris para a disputa de uma prova inédita em Olimpíadas. Geralmente a marcha tem uma competição masculina e feminina de 20km e outra somente masculina de 50km. Porém, visando aumentar a inclusão do esporte, essa prova de 50km será substituída por um revezamento com a distância da maratona (42.195m), que será disputado dia 7 de agosto.

"Os homens começam, a regra deixa ser ou 11, ou 12.195m, com o homem, depois 10 para a mulher, 10 para o homem, e depois a mulher termina com 10km. Então você fica 40 minutos esperando entre um e outro. Sabe quando você pega a próxima na pelada?", comparou Caio, novamente citando o futebol.
"Então, eu e a Viviane [Lyra, que foi 18ª na prova dos 20km] trabalhamos bastante, não é de agora, fizemos esse trabalho desde os Jogos Pan Americanos, depois classificamos o Brasil no Campeonato Mundial, e estamos aqui. Acredito que a gente vai conseguir equilibrar e poder estar bem com essa prova."

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