Quem é Gabi Regly, que desabafou após fala na CazéTV sobre nado artístico
Do UOL, em São Paulo
02/08/2024 10h58
Gabriela Regly desabafou por um comentário sobre nado artístico feito na transmissão da CazéTV durante as Olimpíadas de Paris. Ela é atleta da seleção brasileira da modalidade e multicampeã sul-americana.
Quem é ela
Gabi Regly tem 24 anos e entrou no esporte muito cedo. Começou a praticar o nado artístico aos 5, com sua irmã mais velha, e aos 12 já integrava a seleção brasileira da categoria, sendo campeã juvenil. Deu seus primeiros passos no Fluminense, antes de mudar de clube.
É atleta do Flamengo e começou a competir em mundiais em 2014. Ela chegou no Fla em 2007 e segue no clube até então. Também é 3º Sargento na Marinha do Brasil.
Foi oito vezes finalista mundial e seis vezes campeã sul-americana. Ganhou uma medalha de ouro e outra prata por equipes na World Series de 2019, em Paris.
Conquistou a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, na rotina livre junto de seu dueto Laura Miccuci. Foi a primeira medalha brasileira na modalidade em 12 anos — a última havia sido em 2011. Recebeu o prêmio de melhor atleta do nado artístico no ano passado, com sua dupla.
Não conseguiu a classificação para as Olimpíadas de Paris. Ficou em 17º na rotina livre e 25º no técnico no Mundial de 2024, no Qatar, com seu dueto. Na edição de 2023, ficou em 16º na rotina livre e em 15º lugar na rotina técnica.
Treina cerca de oito horas por dia. Contratou consultoria do treinador japonês Mayyuko Fujiki, que reergueu a modalidade na Espanha.
As pessoas perguntam se é o esporte que dança na água. Isso me revolta um pouco. É mais que só colocar a perna para cima ou um balé aquático. Ficam chocados quando descobrem que a gente treina oito horas por dia. Treinamos mais que muitos esportes coletivos. Precisa ser perfeito. Gabriela Regly, ao Olympics.com
Desabafo sobre fala na CazéTV
Gabi Regly detonou a declaração de Guilherme Beltrão sobre atletas da modalidade irem a Paris para "comer gente". Ela compartilhou nas redes sociais um recorte de vídeo da transmissão da CazéTV em que o comentarista dá a declaração após dizer que atletas do nado não têm chance de medalha. A conversa no programa Zona Olímpica era sobre bastidores da Vila Olímpica.
A Adenizia é campeã olímpica, ela realmente importa para a competição. O 'camarada' do nado sincronizado, que não tem chance de medalha, tem que ir por dois objetivos: se superar e comer gente. Guilherme Beltrão, no Zona Olímpica
A atleta disse que se sentiu revoltada e desrespeitada. Ela relatou sua rotina de treinos para representar o país em campeonatos sul-americanos e mundiais. Junto de Laura Micucci, foi medalhista de bronze no Pan-Americano de Santiago, no ano passado, mas o dueto brasileiro não conseguiu se classificar para Paris — as disputas da modalidade começam em 5 de agosto.
Gabi se emocionou durante o desabafo. Com a voz embargada, ela reforçou sua indignação e repudiou a fala. A atleta marcou os perfis do comentarista e da CazéTV, além do humorista Fábio Porchat, que participava do programa. Após a fala de Beltrão, todos os presentes deram risada.
O UOL procurou a assessoria da CazéTV por um posicionamento sobre o assunto. O texto será atualizado em caso de retorno.
Eu vi e fiquei extremamente revoltada, indignada com as falas infelizes que o Beltrão teve. (...) Ele disse que a gente vai para a Vila Olímpica para 'comer gente'. Isso é um completo absurdo, uma falta de respeito com a gente.
Você estar assistindo a Olimpíadas e ouvir na transmissão que atletas vão para a vila para 'comer gente'... Não sei nem falar, dá vontade de chorar. Só a gente sabe por tudo o que a gente passa. Escutar isso é um absurdo, falta de respeito tremenda. Gabi Regly, via Instagram
O que mais ela disse
Falta de respeito: "A gente treina com a seleção brasileira mais de 8h por dia para disputar um sul-americano, um mundial. Treina muito, fica tão cansada que não consegue sair para jantar com a família no fim do dia. Para representar o nosso país, por mais que a gente não tenha chances. Eu e Laura fomos medalhistas pan-americanas no ano passado, fruto da dedicação de anos".
Vida no esporte: "Nossa vida gira em torno do esporte. Ano passado, tentando disputar a vaga olímpica, a gente acordava, ia treinar, dormia. Passava mais tempo na piscina que na minha cama, na minha casa. Mais tempo com as atletas que com minha família. Muito triste escutar isso. A gente não vai nenhuma competição para 'comer gente'. Se eu fosse para Paris ou se for para Los Angeles, não seria para isso, seria para representar o Brasil".
Sem chance de medalha: "Ele disse que o atleta de nado não tem chance de medalha. Realmente, hoje acredito que não tenha. Sou uma atleta que disputei a vaga olímpica, infelizmente a World Athletics mudou as regras de Tóquio e a a gente não conseguiu vaga para Paris, conseguiria se fosse em Tóquio, mudaram e a gente não conseguiu".