Avô que ajudou Hugo a virar Calderano não vê as Olimpíadas: 'Nervosismo'
Seu Antônio olha rapidamente para o celular, mas logo apaga a tela. Neste curto espaço de tempo, queria saber como andava o neto no jogo que o nervosismo o impede de acompanhar pela TV. O ritual vai se repetir neste domingo (4) para acompanhar uma partida que vale uma medalha histórica para o Brasil nos Jogos Olímpicos.
Antônio Araújo é avô Hugo Calderano, mesatenista dono da melhor campanha de um brasileiro na trajetória olímpica da modalidade e que pode garantir ainda uma medalha inédita. Ele luta pelo bronze contra o francês Félix Lebrun às 8h30 (de Brasília).
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"Eu não vejo os jogos. Confesso que fico muito nervoso. Eu deixo nos sites que dão os placares e, de vez em quando, desbloqueio o celular para ver quanto está, mas logo bloqueio novamente. Meu nervosismo não deixa eu ver ao vivo (risos). In loco, então... É uma experiência difícil. Depois, eu assisto na internet, já mais calmo. E torço da mesma forma".
O engraçado é que Seu Antônio acompanha Hugo desde as primeiras raquetadas e foi um dos responsáveis pelo atleta alcançar o patamar atual.
Foi com o neto para longe de casa
Hugo deu os primeiros passos no tênis de mesa aos 8 anos, no Fluminense, clube onde também praticava vôlei. Decidiu, porém, pelas raquetes e, rapidamente, menino mais introvertido começou a se destacar. "Era mais na dele, centrado, e logo começou a melhorar o jogo, praticar com os mais velhos", conta Ricardo Jantzen, primeiro técnico.
O Rio ficou "pequeno" e Hugo recebeu um convite para ir para o São Caetano, clube de destaque no tênis de mesa e onde, à época, treinava a seleção brasileira. Mas havia um problema: ele tinha apenas 14 anos.
A família fez uma "convenção" e, para o garoto não perder a oportunidade, Seu Antônio se disponibilizou a ir com ele. "Eu já era aposentado e podia ir. A minha condição era que a avó consentisse, e ela topou. Então, eu fui", lembra, com bom-humor.
Foram dois anos em uma rotina de treinos de manhã e de tarde, com estudo à noite. "Tinha dias que ele chegava tarde. E, no dia seguinte, tudo de novo. Mas, neste período, nos aproximamos e minha admiração aumentou ainda mais, em ver o empenho e foco dele. Foi uma época boa".
Ainda pelo São Caetano e com apenas 16 anos, ele colocou o sobrenome em evidência. Hugo virou Calderano em um duelo com o xará Hugo Hoyama, então maior nome do tênis de mesa brasileiro e dono de dez ouros em Pan-Americanos. Venceu por 3 a 2.
Voluntário na Rio-2016
Calderano foi atuar na Alemanha em 2014. A estreia em Jogos Olímpicos aconteceu em 2016, justamente no Rio de Janeiro, cidade natal. E quem estava lá? Seu Antônio.
O avô foi voluntário das Olimpíadas e atuou no ginásio onde aconteceram os duelos de tênis de mesa. "Fiz o treino e fui escolhido. Podíamos escolher onde atuar e escolhi perto da área de jogo, para ficar próximo dele. Não trabalhei em jogos do Hugo, mas foi muito bacana poder acompanhá-lo de perto."
A função de Seu Antônio era a de entrar com a bolsa dos atletas e pegar bolas que, eventualmente, fossem para fora da área de jogo.
"Eram atletas de alto nível e a bola quase não saia. Mas uma vez aconteceu e, quando fui pegar, as pessoas começaram a gritar 'avô do Calderano, avô do Calderano'. O pessoal que acompanha mais de perto me conhecia por eu sempre estar com ele. Posso dizer que também fui ovacionado na Rio-2016", brinca.
Quando tinha alguma missão no horário do jogo, Antônio pedia uma mudança na escala para poder acompanhar o neto jogando. "Eu pedia à supervisora para mudar e ficava lá no último degrau, em um cantinho, torcendo", relembra.
A experiência teve percalços, mas ele guarda com carinho. "Eu ficava muito nervoso, aquela tensão do jogo mexia. Mas me emocionei bastante. A torcida abraçou meu neto e o tênis de mesa de uma maneira incrível", conta.