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Judô: Rafaela Silva se redime, Brasil bate Itália e leva medalha de bronze

Do UOL, em Paris e São Paulo

03/08/2024 11h44Atualizada em 03/08/2024 13h24

O Brasil superou a Itália e conquistou o bronze no judô por equipes nas Olimpíadas de Paris. Com brilho de Rafaela Silva.

A conquista do bronze foi por equipes, coletiva, mas a maior história de redenção do judô brasileiro foi de Rafaela Silva. O pódio olímpico é a conclusão de um ciclo sofrido para a judoca. A judoca foi a única da equipe brasileira a ganhar todas as suas lutas e ainda definiu o pódio em um Golden Score.

O que aconteceu

A equipe brasileira venceu por 4 a 3 após o combate decisivo. Rafael Macedo, Beatriz Souza, Rafaela Silva venceram seus confrontos, enquanto Leonardo Gonçalves, Willian Lima e Ketleyn Quadros perderam.

O sorteio definiu que a "luta da morte" seria pela categoria até 57kg feminino, e Rafaela Silva decidiu. Como havia sido em todas suas lutas neste sábado (3).

Medalhista de ouro em 2016, Rafaela Silva venceu todos os seus combates nas mistas. A atleta de 32 anos, que bateu na trave pelo bronze no individual, não tomou conhecimento das rivais nos combates. Atropelou todas e sublinhou seu nome na história do judô brasileiro.

Foi a redenção dos brasileiros que não haviam conquistado medalhas até então. Com exceção de Bia Souza, Willian Lima e Larissa Pimenta, respectivamente ouro, prata e bronze em Paris, os demais haviam ficado pelo caminho no individual. Agora não voltam mais de "mãos vazias" da França.

A campeã olímpica Bia Souza conquistou sua sétima vitória em oito lutas em menos de 24h. A brasileira venceu os quatro compromissos na campanha que rendeu a medalha do ouro no individual +78kg, na véspera, e também disputou mais quatro combates pela equipe neste sábado (3). Mesmo exausta, ela só foi derrotada em um dos duelos — todos os que ganhou foi por pontuação.

O Brasil conquistou sua primeira medalha por equipe na história dos Jogos, e a quarta do judô em Paris. Em Tóquio, edição de estreia da mista, o time brasileiro havia parado nas oitavas. Esta é a melhor participação do judô brasileiro na história das Olimpíadas, considerando a qualidade das medalhas.

Daniel Cargnin, Guilherme Schimidt, Larissa Pimenta e Rafael Silva também estavam escritos e são medalhistas de bronze. Schimidt e Larissa não chegaram a competir na disputa por equipes.

Rafaela Silva no topo de novo

Rafaela Silva comemora vitória sobre italiana em luta por equipes no judô nas Olimpíadas Imagem: LUIS ROBAYO / AFP

Não podia ser outro nome a decidir o bronze. Por sorte ou destino, o sorteio definiu que seria Rafaela Silva. Nada mais justo. Ela enfrentou novamente Veronica Toniolo e a medalha veio após apenas 1min43s.

Foi preciso revisão de VAR para confirmar a validade. Mas, desta vez, o árbitro de vídeo decidiu a favor da judoca, diferentemente do que ocorreu no individual, contra a japonesa Haruka Funakubo.

Era o final de uma história que começou com a suspensão por doping no Pan-2019. A partir daí, Rafaela questionou até o sentido de seguir vivendo no início de 2021 quando cumpria a punição seu doído afastamento do judô.

Seu desabafo no Instagram sobre o momento vivido ocorreu logo depois de perder a medalha de bronze no individual. Era uma mensagem otimista, de quem se recuperou. Anteriormente, em vídeo ao Players Tribune, ela tinha explicado.

"Foi bem difícil. Eu não podia entrar em contato com a minha irmã que era professora do Reação. Você não pode ter contato com ninguém que é federado. Tinha dia que eu queria treinar para a Olimpíada de Paris. Tinha dia que eu queria jogar o carro no poste. Então foi um momento bem difícil", contou ela.

Quem acompanhou esse momento de Rafaela conta que, no final de 2020, quando teve a confirmação da punição de dois anos do CAS, seu mundo desabou. A pandemia e um afastamento da sua mulher Eleudis Valentim, que viajava com a seleção de judô, fizeram seu mundo desabar por um período.

O início da recuperação veio quando Rafaela percebeu que estava tão acima do peso e que não entrava em um calção. Veio a reação. Inicialmente, ela começou a fazer uns treinos de MMA em uma academia apenas para se movimentar, já que não podia frequentar o judô.

Ela comentou as Olimpíadas de 2021 na Globo e já podia voltar a treinar. Passou a colocar na cabeça que queria dar uma medalha para Geraldo Bernardes, seu treinador histórico no Instituto Reação, que sofre com Parkinson e câncer.

Rafaela foi campeã mundial em 2022 em um desempenho surpreendente para quem ficara tanto tempo fora. E chegou a Paris-2024 com uma força no olhar e determinação no tatame.

Perdeu a medalha de bronze no individual em uma luta decidida no VAR, e ganhou da mesma forma. Seu desempenho foi avassalador quando necessário mostrado sua recuperação.

Como foram as lutas da disputa pelo bronze por equipes

Rafael foi o primeiro a entrar no tatame e enfrentou Christian Parlati pela categoria até 90kg masculino. O italiano é o número 9 no ranking, estando duas posições acima do brasileiro. Rafael levou dois shidos nos primeiro 1min30s e ficou "pendurado", mas não voltou a levar punições e encaixou um ippon no Golden Score, vencendo o combate.

Bia Souza foi a segunda a ir ao tatame pelo +70kg feminino. A brasileira, 5ª no mundo e atual campeã olímpica na categoria +78kg, encarou a 9ª colocada no ranking, Asya Tavano. Ela não tomou conhecimento da adversária e resolveu a luta em 36s, com dois waza-aris.

Leonardo foi o escalado para a luta no +90kg e enfrentou um adversário também de sua categoria, Gennaro Pirelli. Ambos são do -100kg, com o brasileiro ocupando a 12 colocação, e o italiano, a 17ª. Os dois travaram um combate equilibrado, um anulando o outro, e levaram a decisão para o Golden Score. Leonardo levou duas punições e foi para o tudo ou nada, mas levou um waza-ari em luta de mais de 7min.

Rafaela Silva atropelou Veronica Toniolo. Ambas são da categoria até 57kg, mas a brasileira, bicampeã mundial e medalhista de ouro, confirmou o favoritismo contra a 12ª no ranking. A brasileira aplicou um waza-ari e depois emendou uma chave-de-braço com menos de 2min de luta.

Willian Lima foi improvisado uma categoria acima, no até 73kg, e enfrentou um adversário maior. Manuel Lombardo é 4º colocado no ranking, mas não conseguiu dominar o adversário. O brasileiro apostou na velocidade, apesar de ter sofrido com a solidez do italiano. O duelo foi para o Golden Score, Lombardo ficou pendurado, só que ele aplicou um ippon e definiu a luta.

Ketleyn começou não dando chances a Savita Russo, improvisada no até 70kg feminino, mas levou um ippon faltando 26s. Medalhista de bronze em Pequim, a brasileira acertou um waza-ari e quase terminou o combate com 46s, mas a italiana conseguiu se desvencilhar do golpe e aplicou um ippon nos segundos finais.

O sorteio sorriu aos brasileiros, Rafaela voltou ao tatame e foi mais uma vez avassaladora. Partiu para cima da adversária e pontuou logo no começo do Golden Score. Ela ficou no quase no individual, mas não voltou a perder e trouxe a medalha inédita para o Brasil.

Curiosidade: Enquanto no individual o masculino e o feminino se dividem em sete categorias, na disputa por equipes são apenas três para cada um dos gêneros. Assim, atletas podem ser "improvisados" em pesos superiores, mas nunca inferiores, dependendo da estratégia e dos judocas de cada país.

Além disso, são dez atletas inscritos, sendo seis escalados para cada duelo, podendo haver alterações entre uma disputa e outra. A Itália, por exemplo, não utilizou a campeã mundial Alice Bellandi, medalhista de ouro em Paris na categoria até 78kg.

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