Reação francesa a caso de racismo argentino vai além do futebol nos Jogos

Quando ficou definido que a Argentina enfrentaria a França pelas quartas-de-final do futebol masculino nas Olimpíadas, os jogadores sul-americanos já sabiam o que viria pela frente. Afinal, foram próprios argentinos que elegeram-se 'a delegação mais insultada' destes Jogos e, embora essa rivalidade tenha nascido no futebol, ela já saiu das quatro linhas por conta de um canto racista. O jogo acabou com 1 a 0 para os donos da casa e confusão entre os jogadores na saída de campo.

A reportagem do UOL acompanhou vários esportes em que os argentinos foram vaiados pelos franceses. Isso já havia acontecido durante a cerimônia de abertura. Outras vaias mais fortes até aqui aconteceram na estreia argentina no hóquei na grama, com as arquibancadas cheias de franceses uma vez que seus compatriotas jogariam no mesmo dia. E até mesmo em uma partida de tênis, quando a dupla argentina Maximo Gonzalez e Andres Molteni enfrentou Rafael Nadal e Carlos Alcaraz.

Isso sem contar os duelo diretos: houve muitas vaias no França x Argentina no rúgbi, quando os donos da casa eliminaram os argentinos, e também na disputa da final do BMX, quando José Torres Gil conquistou o ouro para a Argentina e o francês Anthony Jeanjean ficou com o bronze após uma disputa apertada.

Por que os argentinos estão sendo vaiados nas Olimpíadas?

Já havia uma rivalidade crescente por conta da final da Copa do Mundo de 2022 e também pelos duelos entre as duas seleções no rúgbi, esporte em que ambos os países estão entre os melhores do mundo. Mas a situação escalou depois de um vídeo publicado pelo meio-campista Enzo Fernandes em sua conta de Instagram em que os jogadores apareciam fazendo comentários racistas sobre os jogadores franceses.

O episódio aconteceu durante as celebrações do título da Argentina na Copa América. Os jogadores cantavam uma das músicas que os torcedores costumam entoar nos jogos da seleção nacional, implicando que a França não vence porque tem jogadores que não são franceses. E todos os citados na música são negros de origem africana. A música ainda tinha um elemento de transfobia, citando um suposto relacionamento de Kylian Mbappé.

É algo que vai além de uma música. Virou praxe inclusive nas mídias sociais argentinas usar analogias racistas para se referir de maneira negativa aos franceses.

Isso foi parar na política, como lembrou Sebastien Fest, jornalista argentino que está cobrindo sua sétima olimpíada. "Foi um desastre. De um lado, a vice-presidente publicou um tweet falando muito mal da França, dizendo que é um país colonialista e racista, coisas do tipo, e que ela tinha orgulho de ser argentina. Depois [o presidente] Milei demitiu o subsecretário de esportes que disse numa rádio que Messi deveria se desculpar em nome da seleção, mas depois a irmã dele foi se desculpar pelas declarações da vice-presidente na embaixada francesa. Enfim, um governo esquizofrênico."

Desde então, Fernandes se desculpou, pressionado inclusive pelo seu clube, o Chelsea, após publicação de seu companheiro de clube Wesley Fontana. E a federação francesa, que também enfrenta o racismo contra seus jogadores dentro da própria França, divulgou que buscaria as vias legais para tentar responsabilizar os argentinos.

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Mas os torcedores franceses não estão deixando esse assunto morrer. Desde a cerimônia de abertura, os atletas argentinos têm recebido vaias e se veem como "a delegação mais insultada", comparando a recepção que vêm tendo à recebida por israelenses devido à guerra com a Palestina.

Antes do jogo das quartas-de-final, o atacante Jean-Philippe Mateta, francês, disse que "com tudo o que aconteceu recentemente, todos os franceses foram atingidos." E o goleiro argentino, Gerónimo Rulli, disse que a seleção já esperava ser mal recebida nas Olimpíadas. "Sabemos de onde viemos e como eles iriam nos tratar na França, mas não tenho dúvida de que vamos fazer todo o possível para carregar nossa bandeira ao lugar mais alto novamente."

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