Baile de Favela tocando em Roland Garros? Só mesmo em época de Olimpíadas

Silêncio absoluto antes de cada saque, todo mundo sentado em seus lugares, vestidos clássicos de verão, camisas, chapéus. Quando pensamos em Roland Garros, toda a etiqueta do tênis do lado de fora das quadras vem à mente. Mas o lendário complexo parisiense viveu dias diferentes durante estes Jogos Olímpicos de Paris.

Recebendo o tênis na primeira semana de competição, Roland Garros era um lugar bem menos formal. Logo no segundo dia de competições, chamou a atenção como os torcedores se amontoavam nos níveis superiores e nas escadas da quadra principal, a Philippe Chatrier, para ver um jogo que acontecia do lado de fora dali, em uma das quadras com arquibancadas bem menores. Era o francês Corentin Moutet que fazia uma dura estreia contra o indiano Sumit Nagal, vencida com muito apoio e gritaria da torcida local. Durante o Aberto da França, essa cena seria impossível.

Quem já esteve no Aberto da França e vivenciou essa semana olímpica em Roland Garros sentiu bem a diferença de um público não tão especializado em tênis. Isso gerou um clima diferente e também dificuldades para os juízes, que por várias vezes pediam para os torcedores pararem de gritar no meio das jogadas. E teve até jornalista levando bronca por comemorar pontos de atletas de seu país.

Os atletas chegavam nos ônibus da organização, juntos, vindos da Vila Olímpica. Até mesmo estrelas como Carlos Alcaraz, Rafael Nadal e Coco Gauff decidiram ficar por lá. Encontravam uma torcida diferente, até porque eles estavam defendendo seus países. Que o digam os brasileiros, que contaram com a segunda torcida mais barulhenta, perdendo só para os franceses.

Para o tenista brasileiro Thiago Monteiro, Roland Garros estava com mais cara de Rio Open do que de Aberto da França. "Desde o meio-dia, no sol, o público brasileiro compareceu em peso, tirando a gente de situações difíceis no jogo com muita energia. No primeiro dia me surpreendeu um pouco a quantidade e o barulho que o pessoal fazia. No Brasil, a gente tem o Rio Open, que tem esse tipo de clima, e às vezes na Copa Davis também, e aqui foi muito parecido".

"A gente tem esse calor no coração que é diferente", disse Luisa Stefani. "É muito legal ter meu nome gritado junto com o nome do Brasil. A gente deixa de fazer só pela gente, a gente faz também pelas pessoas."

O entretenimento também era bem mais animado também, seguindo mais a linha de outros esportes bem menos formais, como o vôlei de praia. No telão, apareciam imagens de sanfonas para os torcedores tentarem interagir "tocando" o instrumento, ou dançando com pernas de can can. Mas o que fez mais sucesso mesmo foi o karaokê com o clássico francês Les Champs-Elysées. Era quando as quadras pareciam mais um festival, com as bandeiras dos diversos países sendo agitadas.

E teve música brasileira também. Fio Maravilha, de Jorge Ben, animou a galera algumas vezes. E teve até Baile de Favela sendo tocada no intervalo de um dos jogos da dupla Nadal e Alcaraz.

Os preços eram parecidos com os do Aberto da França, que teve neste ano um recorde de 675,080 espectadores ao longo de duas semanas de torneio.

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Para a quadra principal, a Philippe Chatrier, que comporta 15 mil lugares, os preços começavam em 45 euros (o equivalente a 280 reais) por sessão (diurna ou noturna).

A diferença é que, nas Olimpíadas, não estão valendo as promoções para pessoas abaixo de 25 anos. Isso gerou outra diferença marcante em Roland Garros nesta semana, com um público mais velho e menos familiar. Atualmente, são comercializados 156 mil ingressos, quase um quinto do total, com preços promocionais de 12 euros (75 reais) que podem dar acesso inclusive à quadra principal.

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