Como o supercampeão Djokovic se surpreendeu com a emoção de ganhar um ouro
Poucas vezes vimos a emoção tomar conta de Novak Djokovic, como após a conquista do ouro olímpico inédito alcançado pelo sérvio após uma partida de alto nível contra o espanhol Carlos Alcaraz, na vitória por 2 sets a 0 (duplo 7/6).
Seus dedos tremiam quando ele se ajoelhou e colocou as mãos na cabeça, curvando-se ao solo. A reação não era por acaso. O maior vencedor de Grand Slams da história do tênis masculino obteve o que ele mesmo classificou como a melhor conquista esportiva de sua vida.
"A intensidade da emoção que senti quando aquela última devolução foi para fora é algo que nunca tinha experimentado na vida", disse o vencedor de 24 Grand Slams. "Achava que segurar a bandeira da Sérvia na abertura das Olimpíadas de 2012 tinha sido a melhor sensação que um atleta poderia sentir, mas isso superou tudo o que eu imaginei que sentiria. A bandeira subindo, cantar o hino da Sérvia, com a medalha no peito, nada supera isso no esporte profissional."
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A "grande batalha" para vencer pressão por ouro
É claro que toda essa emoção de Djokovic também tem a ver com a trajetória dele até o ouro conquistado aos 37 anos. O sérvio levou o bronze logo em sua primeira tentativa, em 2008 (Pequim), depois de ter sido derrotado por Rafael Nadal na semifinal. Mal sabia ele que isso ser tornaria uma sina: Djokovic cairia na semifinal também em Londres-2012 e Tóquio-2020. Em ambas as ocasiões, ele foi quarto colocado. E, no Rio-2016, acabou eliminado logo de cara.
Tudo isso colocou muita pressão no sérvio, já que ele mesmo admite que não sabia se essa seria sua última chance de conquistar o ouro.
"Eu certamente tinha dúvidas. Mas a crença e a convicção de que eu chegaria lá eram mais fortes do que minhas dúvidas, como sempre foi o caso na minha carreira. Eu sabia que ia acontecer, era só uma questão de tempo. Eu sabia que tenho 37 anos e não sei quantas chances mais eu teria. Sabia de tudo isso. E é claro que eu tinha que lidar com isso internamente, teria que silenciar o barulho ao meu redor e focar no que precisava fazer na quadra. Essa é a grande batalha."
Derrota em Wimbledon ajudou na final
Não foi por acaso que Djokovic comemorou muito ter passado para a final, já que essa "era uma barreira que nunca tinha passado", mas era ali que ele encontraria seu obstáculo mais duro. O sérvio considera Alcaraz o melhor jogador de tênis da atualidade e vinha de uma derrota bastante dura para o espanhol em Wimbledon mês passado.
"De certa forma, ter perdido da maneira que eu perdi em Wimbledon me ajudou porque eu sabia que não podia ser pior que aquilo. Tanto a maneira como eu joguei, quanto a forma como me senti na quadra. Então sabia que seria um jogo diferente", disse o agora campeão olímpico, lembrando de uma partida em que não estava nas melhores condições físicas devido a um procedimento que havia feito no joelho poucas semanas antes.
"Ambos jogamos em alto nível na final. Jogamos dois sets em 3h, não acho que isso aconteceu muitas vezes na minha vida, jogando em um nível tão grande. E nem posso imaginar o que aconteceria se a gente fosse para um terceiro set. Como sempre, o Carlos teve um grande espírito lutador, mesmo perdendo o primeiro set depois de 1h30 ele continuou forçando. E eu continuei também."
Mais uma Olimpíada para Djokovic?
O sérvio, que atualmente é o número 2 do mundo e que já foi o número 1 por 428 semanas ao longo de 13 anos, não quis falar em encerrar sua participação em Olimpíadas, mesmo sabendo que terá 41 anos nos Jogos de Los Angeles, em 2028.
"Marian Vajda (ex-treinador de Djokovic) está certo quando diz que, se eu não tivesse ganhado o ouro, eu tentaria outra vez. Eu quero tentar ir para Los Angeles de qualquer maneira. Eu gosto de jogar pelo meu país, fazer parte de uma equipe", afirmou Djokovic, sendo interrompido pela risada de um dos membros de sua comissão técnica, que está escutando a entrevista em outra sala.
"Não sei se ele está rindo porque acha que minhas ambições de calendário são muito grandes, ou se está pensando 'ah não, mais quatro anos com esse cara!'", brincou Djokovic.
Depois de deixar tanta energia na quadra neste domingo na batalha histórica contra Alcaraz, a pergunta que fica é se a carreira de Djokovic já não estaria completa.
"Sim e não", diz ele. "Sim porque essa era minha última grande meta. Mas não estou no esporte só para ganhar torneios. Jogo porque eu realmente amo a competição, treinar meu corpo, aperfeiçoar meu jogo, melhorar mesmo com a idade que tenho. Este esporte me deu muita coisa. Eu tento dar de volta por meio de dedicação."